Ser gay, ser homem, ser eu por Cassiano Soares Lopes

Orgulhosíssima do nosso amigo do Salotto, o querido Cassi, por nos abrir seu coração e experiências de uma forma tão genuína, sem fricotes, super bem resolvida, além de divertida. E apesar de hoje ser o seu aniversário, somos nós que recebemos um presente!!  Obrigada Cassi!

Muito prazer, eu sou o Cassi

Amados do meu coração!

Estou animadíssimo porque a Consuelo me convidou para ser um dos colaboradores do Consueloblog e compartilhar com vocês a minha percepção sobre a diversidade desse “Mundo de meu Deus”. E pelo respeito, carinho e admiração que tenho por ela e pelo Salotto, aceitei o desafio! Uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

Portanto, estarei aqui algumas vezes para dar pitacos, de forma espontânea e sem nenhuma pretensão, sobre coisas da vida. Agradeço do fundo do meu coração por esta oportunidade Super C, mas sinto informar que você não vai se livrar de mim tão fácilmente agora, seja isso bom ou ruim hahahahaha You’re stuck with me!

Sendo assim, como esse é o meu début, eu me apresento. Meu nome é Cassiano Soares Lopes, mas me chamem de Cassi. Tenho quase 40 anos (dia 24/11 é meu aniversário!), sou sagitariano, solteiro, gay, nascido, criado e perdido em Jaguariaíva, interior do Paraná.

Aceitei o convite da Consu porque é uma oportunidade de contar, sob a minha percepção, um pouco mais sobre o mundo gay, sobre as alegrias, as dificuldades, como é viver e lidar com o machismo, o preconceito no Brasil (principalmente no interior que é a minha realidade) e no mundo, com os sonhos, os relacionamentos, os exageros, as aflições. Mesmo com tanta modernidade, ainda temos restrições à homossexualidade e suas questões. E isso, em uma tradução livre, é so yesterday…

Sou comunicativo, sonhador, sensível, debochado, xarope (meus sobrinhos me chamam assim!), chato e um pouco intransigente, mas pelo bem, somente pelo bem. As pessoas que convivem comigo dizem que tenho um grande potencial, que sou criativo, antenado, divertido, a melhor cia do mundo, lindo e fabulous! Confesso que eu estou começando a acreditar (fiquei sem graça…) Minha mãe, mama Rose, diz que eu sou um c* também. E não tiro a razão dela, pois posso ser insuportável e mal humorado, principalmente às segundas-feiras e quando estou com fome. E não pise no meu calo porque me transformo numa vespa! Bzzzzzzzzzz

Sou graduado em Comunicação Social com Bacharelado em Relações Públicas, e atualmente trabalho como Analista de Comunicação Interna em uma fábrica de papel jornal. A escolha por essa profissão foi no susto! Aqui em Jaguar City não tinha faculdade na época e tínhamos que sair para um centro maior em busca do curso superior. Como eu queria ser publicitário, me mudei para Curitiba para fazer vestibular e foi onde vivi por uns 10 anos. Só que como a concorrência para Publicidade & Propaganda estava grande, optei por RP porque depois poderia trocar de curso, uma vez que no início PP, RP e Jornalismo tinham quase as mesmas grades curriculares. Só que eu gostei tanto dessa área que mantive a minha escolha. E fui aluno da primeira turma de RP da PUC-PR. Não me formei com ela, mas tenho orgulho disso. Consegui meu atual emprego porque a fábrica estava procurando um profissional de comunicação para implantar uma área de Comunicação Interna na empresa. Em paralelo, sou professor de inglês, das 18h às 21h. Comecei a dar aula na época da escola para ajudar os colegas com dificuldade no idioma (estudo desde os sete anos). Sou doido pelo ensino de línguas e já faço isso há mais de 25 anos. OMG! Se tivesse contribuído com o INSS já poderia estar aposentado… Stupid me!?!

Gosto também de cozinhar para meus amigos aos fins de semana e tenho me surpreendido com tais peripécias culinárias. Não sou nenhum chef e nem tenho pretensões para isso. Gosto da cozinha e me dou bem com ela. Às vezes dou uma “pisada de bola” porque mais bebo o vinho do que coloco na receita. Uma vez, de tão alegrete, derrubei uma travessa de coq au vin – fiasco! Com essa descoberta, criei uma página no Facebook – Receitas do Cassi (curtam por favor AQUI!) – onde compartilho minhas receitas.

Modéstia à parte, sou bom conselheiro também e um ótimo amigo. To be honest, qual gay que não é? Certo? A maioria dos meus amigos são mulheres. Tenho pouquíssimos amigos homens e menos ainda amigos gays. Curioso né?

Adoro um get-together, biografias, filmes de terror, vinho branco, scarves, óculos, aperol spritz, cinza, dias nublados, listras (né, Consu?), bolsas, cervejão, churrasco, long lunches, risadas, homens altos e loiros (de preferência, mas como diz aquele ditado, “se não tem tu, vai tu mesmo”), Marilyn Monroe e Maria Callas (qual gay que não gosta? Hello!), gatos (inclusive todos os #catalerts do universo), passeio de barco, pasta, vinho tinto, frutos do mar, Frida Kahlo, queijo, Nina Simone, livros de receita, ceviche, pimenta, rir, pulseirismo, ovo, o sertão de Jaguar City e muito mais!

Vocês devem estar se perguntando: como um ser desse, do interior do PR, pode ter tais preferências, ser gay e viver com tudo isso? Nada fácil… Cresci em uma família bem comum, simples, classe média baixa, com pais trabalhadores, uma irmã mais velha, avós excelentes (mãe e padrasto da minha mãe) e nada me faltou. Tive grandes influências femininas (mama Rose, minha irmã Eve, vó Tereza, a Isabel, minha primeira babá, muitas tias e primas, vizinhas, amigas, madrinhas e professoras) que contribuíram na construção dos meus valores, caráter e personalidade. Porém, o meu avô paterno era muito machista e vinha de uma família de fazendeiros, caçadores com uma cultura bem provinciana, filho de índio com branco, bem machista. Lembro de uma vez quando dei meu primeiro e único tiro com uma espingarda, o tranco foi tão intenso que me jogou para trás. Desde então, odiei esse mundo “machoman”. Acredito que quem é gay nasce assim, não se transforma. É intrínseco ao ser humano. E o meio contribui na formação da personalidade dessas pessoas. E foi o que aconteceu comigo.

Sou exagerado, intenso e falante até conquistar a confiança das pessoas que me permitem ser assim. Modéstia à parte, também sou bom partido e estou numa luta ferrenha com Santo Antônio para desencalhar. Não entendo como pode ter tanta gente nesse mundo e tanta gente ainda estar sozinha. Se for por opção, tudo bem, o que não é o meu caso. Quero uma “oreinha” para morder, uns “pezinho” para esquentar, “uma pancinha” para deitar. Eu acho que no passado, Santo Antônio ficava confuso com as minhas “pidições”. Mas agora estou focado e tomara que ele me escute dessa vez. “Pufavô” santinho lindo!

Sou católico, como podem ver, e aprecio também outras religiões e filosofias de vida. E ser gay católico é algo bem polêmico que prefiro deixar para uma outra oportunidade (a questão do ex-gay, do pecado e afins me dão preguiça, mas é importante ser esclarecido). Odeio gente chata, mal educada e peitinho de pombo, sabe como? Aquele tipo que estufa o peito para contar vantagem. Arre égua, que preguiça desse “estilinho”. No resto, como diz Ivete Sangalo, sou massa!

Hoje vivo e trabalho em minha cidade natal, que eu carinhosamente chamo de Jaguar City, mas morei em Curitiba, Estados Unidos e Holanda. Moro com meus pais, que são aposentados, e já pensei em sair de casa, mas confesso que desisti, pois minha mãe não deixa! Tenho essa irmã mais velha, três sobrinhos gigantes, um cachorro e dois gatos. E eu amo esse fervo todo.

Assumi a minha homossexualidade tarde, aos 30 anos, porque tinha medo da reação das pessoas e outros obstáculos que me deram trabalho. A minha família foi o menor deles. Se eu tivesse contado tudo desde o começo, aos 18 anos, as coisas teriam sido mais fáceis a mim mesmo porque teria o apoio de todos. Acontece que eu precisava administrar uma questão interna: o medo da entrega à minha própria natureza e a vulnerabilidade que o preconceito poderia me causar. Quando eu escutava os xingamentos e as “tirações de sarro”, não sabia me defender e ficava arrasado. Por isso, hoje odeio os termos pejorativos como “viado” e “bicha”, principalmente quando gays chamam gays dessa forma ou os héteros usam como forma “carinhosa”… Hello!?! Forma carinhosa para mim é chamar alguém de amor, amado, meu bem. Mas a partir do momento em que eu tapei os meus ouvidos e simplesmente comecei a viver, as pessoas perceberam que era uma pessoa com qualidades e defeitos igual a qualquer outra. Demorou, mas aconteceu na hora certa e hoje eu entendo. E não me arrependo de nada, de nada! Je ne regrette rien, rien de rien, como cantava Piaf.

Sou solteiro desde sempre e até Santo Antônio decidir me ajudar. Não sei se isso é uma percepção generalizada ou isolada, pois ainda não cheguei à conclusão se os gays querem o mesmo que eu. Uma vez um cartomante leu minha sorte e disse que eu tinha o dedo podre. No, no, no! Me recusei a acreditar. Decidi dar um upgrade nessas escolhas e ir direto ao Olimpo na Terra em busca dos deuses. Mas não fui para a Grécia não. Ainda! Fui de mala e cuia para Holanda. E como o universo conspira quando estamos determinados, lá me encontrei. Tenho certeza que se não fosse pelo meu sobrenome, cabelo e olhos castanhos, 1,72 m e ter nascido no Paraná, juro que eu seria holandês. Lá fiquei por um tempo e foi onde aconteceu meu primeiro grande amor. Vivi também nos Estados Unidos e conheci outros países como a Noruega, Alemanha, Bélgica e França. Tenho vontade de viajar para novos lugares e a Itália é um deles, mais precisamente Florença. Estou trabalhando para isso. Tenho um projeto de viver em Florença por um tempo porque é um lugar de alma. Não sei explicar. Parece uma sensação de outras vidas, de outras épocas e que vai contribuir com essa nova fase de vida que eu início.

E foi assim que minha história com o Salotto começou. Amor à primeira vista! Estava eu procurando dicas sobre Florença quando bum!, o Consueloblog apareceu e de imediato fui atraído pelo conteúdo, imagens e layout. Fiquei “de zóio” no começo, apenas “urubuservando” para ter um feeling quanto à forma que deveria comentar os posts, pois sou muito expressivo e temia cometer alguma gafe. Então, navegando pelo blog, encontrei o “Apresente-se” e o primeiro contato com a Consuelo aconteceu. Amor!

Depois disso, foram os contatos com os demais leitores e a interatividade que existe até hoje entre nós. Se depender de mim, daqui não saio, daqui ninguém me tira. O motivo? Paixão. Me sinto à vontade para expressar a minha opinião e aprender com tudo o que a Consu nos presenteia. Os posts do Consueloblog nos fazem viajar, sonhar, sair da rotina por alguns minutos, ver que existe algo mais e que todos podem ter acesso, basta querer e se programar.

E é isso que decidi. Fazer acontecer. Por isso estou aqui, com essa nova tarefa, não porque sou gay, mas também porque sou. Terei o imenso prazer em compartilhar com vocês a minha intensidade, expressividade, exagero, e verdade. Espero que gostem.

Beijocas e até breve Salotto!

Cassi