Amar é, my love stories. Por Cassiano Soares Lopes

Com coragem, Cassi nos conta o que é amar no mundo gay brasileiro de hoje… e no fundo eu posto as minhas perguntas…

 

Amar é… My Love Stories

Amados do meu coração. Obrigado pelo carinho e amor demonstrado em meu primeiro post no Consueloblog. Foi o melhor presente de aniversário! Quase explodi de felicidade e minhas bochechas congelaram de tanto sorriso que cada comentário me fez dar.

E falando em amor, o que é esse sentimento profético? Que transforma a razão em devaneios absurdos? Capaz de elevar ao quadrado as atitudes e levar-nos a fazer loucuras, entrar em desespero, beber todas e até mesmo, como eu gosto de dizer, “se giletar”, num sentido figurado, é claro? É tudo na vida! Livre de rótulos e preconceitos, faz bem à alma e deixa a pele mara. Essencial para qualquer relacionamento. A vida sem amor é como champanhe sem borbulhas, não tem graça alguma.

E o amor independe de sexo, religião ou qualquer outra coisa que segregue, separe ou afaste as pessoas, é puro, genuíno, inesquecível. Quem ama ou já amou perdidamente, sabe o que estou falando. Eu já tive dois amores, ou melhor, três. Quer dizer, dois mesmo, porque um arranquei do peito e rasguei em pedaços! Drama Queen eu? Nada! Sou do tipo exagerado mesmo, ao melhor estilo Cazuza, que se entrega completamente. Posso afugentar futuros pretendentes dizendo isso, mas é verdade. A intensidade é a engrenagem do meu motorzinho do amor que está a todo vapor.

Ser gay nunca me limitou a amar alguém. Na verdade, acho que ser gay não limita a nada. O que limita é o preconceito. Acredito que isso vai acabar, senão agora, num futuro próximo. Os estigmas vão desaparecer e o respeito às diferenças prevalecerá. Simples assim.

Em quarenta anos, tive três amores… Dois! Dois! Um relacionamento sério, alguns fugazes e nenhum duradouro. É quase que um romance Cometa Halley, que demora A-N-O-S para acontecer. Mas não desisti e continuo na luta, até mesmo porque minha maturidade emocional está melhor preparada.

Eu percebo que atualmente há dificuldade em relacionar-se, principalmente no meio gay. Os estereótipos são mais fortes que os sentimentos. Muitos se preocupam demais com a aparência, a conta bancária, os títulos e os modelitos. Só o fato de você não estar com o corpinho em dia os olhares já se afastam. Bobagem? Não. Realidade. Já recebi muitas dessas “viradas de olho” e nem dou bola mais. A não ser que a pessoa esteja possuída por alguma entidade. Aí, puxo o terço e rezo para que esse exu passe bem longe de mim! hahahaha Hoje, minha busca é por um companheiro leal e fiel, um parceiro, diferente de alguns Don Juans de araque, como conto para vocês a seguir.

Quando tinha 20 anos, fui morar nos Estados Unidos como au pair, uma espécie de babá. Estava longe de casa, iria completar 21 anos em poucos meses e poderia fazer o que quisesse. E foi quando conheci meu primeiro namorado, Arnie, na sessão de anúncios do The Washington Post. Gostei do perfil, liguei para o voicemail dele e deixei um recado. Em algumas horas recebi seu telefonema e marcarmos um encontro. Mal conseguia me conter porque pela descrição do perfil, ele era perfeito! Quando nos vimos ao vivo e em cores, houve uma rápida decepção. Ele era mais baixo e 10 anos mais velho. Entretanto, à medida que a conversa engrenou, me apaixonei. Tão eu! Nosso relacionamento durou 03 meses porque eu pisei na bola, confesso. Em uma festa de Halloween, me encantei por um vampiro bem safado – nada a ver com os Crepúsculos de agora não! – que não tirava os olhos de mim. Era um vampiro meio slutty (biscatinha!) só no látex. Seduzido e sem vergonha, caí nos deleites do moço e foi o que bastou para o nosso break up. Infelizmente não tenho foto dele. A única imagem está guardada em minha memória.

Depois do Arnie, veio o Marcelo, de Curitiba, que conheci em um site de relacionamento. Nos encontramos e foi amor à primeira vista. Again! Entretanto, o encanto foi quebrado quando me contou que era casado e tinha um relacionamento aberto. Podia sair com outros caras. E, naquele momento, estava passando por uma crise e precisava relaxar. Amor, se eu quero relaxar, vou para um spa, não saio à caça para “relaxar”. Acho feia essa atitude. Nos encontramos outras vezes e usei diferentes estratégias de conquista. Todas furadas. Pulei fora e ele continuou com su maridón, um mix de Austin Powers + Chewbacca da Guerra nas Estrelas. Coisa horrível! Lembram da Chaka do Elo Perdido? Desse naipe! #meancassiindahouse hahahaha

Essa decepção amorosa me levou a um recomeço na Holanda. Fui morar com minha amiga que precisava de ajuda com dois filhos pequenos. Era uma oportunidade de trabalho e de conhecer gente nova, ou melhor, novos pretendentes, os deuses do Olimpo! E na Holanda o casamento gay era legalizado. Embarquei cheio de sonhos e quase pedi para me deixarem ali na aduana mesmo porque os oficiais eram lindos. Coisa de filme! O que me atendeu perguntou qual era a finalidade da minha visita. Eu quase disse: “Casar com você, lekker ding”, que quer dizer coisa gostosa e se encaixa perfeitamente para descrever os “boys magya” dourados da terra da rainha Máxima que é o máximo e amiguinha dos gays. Depois de morar em algumas cidades menores, nos mudamos para Amsterdã. Lá, em um happy hour, conheci meu primeiro amor, Hugo, um pescador norueguês.

Lembro como se fosse hoje. Estava eu dançando numa daquelas pistas coloridas – moiaaaaaado! – quando num dos giros avistei-o no balcão. Trançando as pernas, cheguei até lá e pedi fogo – how cliché! Ele olhou para mim e com o isqueiro na mão disse: “Sua aura é linda.” E eu, abduzido pelo álcool, depois de uma baforada, retribuí: “A sua também!” POW! Perdi o bofe… Só que não! Saímos dali e vivemos juntos por um ano. Fomos muito felizes por esse tempo, só que seu ciúme doentio acabou com tudo. Hoje ele mora na Noruega, tem um bar e é casado com uma “coisinha”. Teve também o Ruud, um político defensor da causa LGBT, o Michael, um médico esquisito (mas lindo!), e o Bram, um psicólogo que me ajudou com muita terapia.

Esse último é meu amigo até hoje. Nos conhecemos no COC, uma boate em Alkmaar, cidade vizinha de Heerhugowaard, onde morava. Estava com um casal de amigos gays, um brasileiro casado com um holandês, conversando em português. Ele ouviu e me chamou de Mr. Copacabana. Achei tão fofo. Virei o pescoço no melhor estilo “O Exorcista” e me abri feito um paraquedas. Conquista imediata! Com ele aprendi a paixão pela cozinha, a tomar vinho, apreciar o simples, ouvir Nina Simone, fazer massagens tailandesas (OMG!) e que it’s ok to be gay. Hoje ele é casado com um pianista alemão e viajam o mundo em cruzeiros fazendo performances. Super gay e eu adoro isso!

Como não podia ficar mais na Holanda por causa do visto, voltei ao Brasil em meados de 2004, mesma época em que conheci o Guy, um enfermeiro belga, o segundo amor. Tudo aconteceu pelo mesmo site de relacionamento que conheci o Marcelo. Eu tinha 29 anos e ele, por volta dos 42. Um parêntese: homens mais velhos me atraem. Entretanto, como não posso deixar passar nenhuma oportunidade, caiu na rede, é peixe! Nos correspondemos via e-mail durante três longos anos. Uma relação melosa, brega e bem jacu, mas deliciosa. E ele nem é bonito. Parece um etezinho hahahaha Nosso primeiro encontro foi lindo e um fiasco. De férias na Holanda, combinei de encontra-lo em Bruxelas para um fim de semana a dois. Prestes a embarcar, recebi seu telefonema dizendo que não estava pronto para me ver. Como assim!?! Atravessei um oceano para conhecer o cara e de repente ele diz que não está pronto para me conhecer? Klootzak! (FDP!). Sentei no banco da estação central em Amsterdã e caí no choro. Só parei quando o telefone tocou. Era a Ricky, melhor amiga dele. Pediu desculpas e disse para eu pegar o próximo trem porque passaria o fim de semana com ela e os Eduardos, seu marido e filho. “Fuck Guy”, disse. Ao chegar na estação, me recebeu com um buque de flores, me abraçou e disse: “O Guy é um idiota.” No caminho para sua casa, ele ligou. Estava arrependido. Ela, no viva voz, respondeu: “Ainda bem, porque o Cassi está aqui do meu lado e estamos indo para casa. Esteja lá em 15 minutos.” Ao chegar, ele estava nos esperando na porta. Chorou, me abraçou e ficamos assim por longos minutos. Sinto o seu cheiro (Terre D’Hermès) ao lembrar desse momento. Passamos juntos o fim de semana. Saímos para jantar, tomamos vinho, fizemos planos. Foi incrível! Parecia um conto de fadas.

Só que deu meia noite e a cinderela virou gata borralheira. Ele surtou. Até hoje não entendo. Eram muitas incertezas, o oposto das minhas expectativas. Sofri e tremo na base ao lembrar. Tenho vontade de voltar para a Bruxelas para dar um murro na cara dele. Depois, quem sabe, uns beijinhos #cassisemvergonha! Nos correspondemos eventualmente por e-mail.

Essas experiências me fortaleceram, mas dei um tempo. Tive um flerte aqui, outro ali, nada sério. Quando as mídias sociais massificaram o relacionamento virtual, percebi que tais aplicativos e sites de “cassação” tornaram as pessoas mais descartáveis, algo C&A, abuse e use, sabe como? E isso dificultou a aproximação natural. Acredito que muitos compartilham dessa minha observação e mesmo assim não deixaram de acreditar no amor.

Hoje estou sozinho, mas apaixonado. Não sou correspondido, infelizmente. Sei que não é para mim, pois se o fosse, já estaríamos juntos. Então, esse sentimento que tenho por ele está se transformando, assim como transformou o meu coração e me mostrou que somos capazes de amar de novo.

Tenho fé e certeza que meu par perfeito, my cup of tea, my significant other, está ali, just around the corner, dobrando a esquina para esbarrar em mim, do nada. E a partir daí nossas semelhanças se completarão. Para sempre.

Cassi aqui vão as minhas dúvidas no que você nos conta.  Por que você acha que o preconceito vai acabar logo?  Em um país como o Brasil onde temos uma população de todas as cores, o racismo persiste entranhado e obscuro… A homosexualidade é diferente?

A importância do materialismo em uma relação homosexual me parece idêntica a uma hétero… tem alguma diferença?…

Você diz que o que limita é o preconceito.  Você poderia explicar esse preconceito no Brasil?…  É diferente no interior?

Obrigada com todo o coração Cassi, por ter essa alma tão aberta e compartilhar teus sentimentos conosco!