Piauí, Serra da Capivara, conta a minha irmã, Alessandra Blocker-2ª parte!!

Serra da Capivara dia 2

Bom, recapitulando. Já na noite em que chegamos, conhecemos nosso guia Rafael. Não sei se todos os guias da Serra da Capivara são assim, mas o nosso era bárbaro!  Além de conhecer tudo e todos, ele nos contou a história do Parque Nacional de forma apaixonada, cativante. Eu não vou me deter muito na história do parque, pois acho que não faria justiça a ela. Se você se interessar, pode encontrar tudo aqui. 

O que posso dizer é que sua formação se deve em grande parte a uma arqueóloga franco-brasileira chamada Niède Guidon .   Em 1963 ela tomou conhecimento da existência de pinturas rupestres no interior do Piauí, mas não foi até 73 que ela entrou de fato em contato com o local e começou um trabalho ao qual se dedica até hoje. Não se sabe direito quem são os autores das pinturas do parque. Acredita-se que foram pintadas por uma tribo indígena que foi dizimada pelos bandeirantes. Deles sobraram as pinturas e alguns vestígios arqueológicos. Infelizmente, por causa disso, a decodificação das pinturas é um trabalho de adivinhação.

Antes da vinda de Niede, o povo de lá as chamava de “pintura de caboclo brabo” com certo desdém. Hoje, o parque é uma das principais fontes de sobrevivência da região. Infelizmente, por ignorância (minha incluída) e dificuldade de se chegar ao local, o turismo ainda é muito incipiente. Bom para nós, que tínhamos o parque inteiro à nossa disposição, sem um mundaréu de turistas se acotovelando para tirar uma reles foto. Pena para o mundo que deixa de conhecer um lugar tão rico. Digo que a viagem vale a pena e a distância e acomodações precárias ficam na memória como uma parte da aventura.  Eu só tenho de agradecer ao Carlos que me leva nas melhores viagens de minha vida. Ele adora viajar, pesquisa, faz e desfaz, e sempre organiza férias bárbaras. Ele fica até irritado com minha falta de participação no planejamento, mas fazer o quê se ele é o mestre? (rsrs)

Voltando ao que interessa. No primeiro dia estávamos ainda baleados por causa da viagem, então fizemos uma programação “light”. De manhã fomos ao parque visitar algumas tocas de carro, andamos bem pouco neste dia.

À tarde fomos ao Museu do Homem Americano. O museu foi feito por um grande amigo meu, Marcello Dantas. Ele é produtor cultural e monta museus e exposições mundo afora. Foi ele que montou o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, por exemplo. Sua marca registrada é a interação do público com o conteúdo através de interfaces virtuais, eletrônicas. Quem diria que no meio do sertão do Piauí encontraríamos um museu tão bem organizado, bonito e moderno. Bárbaro!

Mas, de novo, eu divago. O segundo dia já foi mais agitado. Fomos a tocas mais afastadas, o que nos fez percorrer trilhas mais extensas, aproveitando também para contemplar a natureza, que por si só já vale a viagem.

A vegetação é a Caatinga. Para pessoas, como eu, que teve uma vida primeiramente urbana em clima tropical e subtropical, as estações do ano não querem dizer muita coisa. É só quando entramos em contato com um território tão seco, duro que nos damos conta da força que tem a água. As chuvas naquela região só vêm de outubro a março (quando vêm). Dizem que nesta época fica tudo verde, perfumado de flores, com rios e cachoeiras. Nós vimos uma paisagem completamente distinta. Seca, cinza, com rios secos e folhas caídas, como se estivéssemos em época de outono em alguma região temperada. Para mim, embora teria adorado ver tudo verdinho e florido, acho que foi mais interessante ver a serra nesta época de seca.

Durante os três dias que estivemos no parque, almoçamos na Cerâmica da Serra da Capivara. É uma cooperativa que faz umas cerâmicas lindas! Eles vendem até para o Pão de Açúcar e a Tock & Stock. Não sei bem como começou essa cooperativa, mas sei que chamaram um ceramista de São Paulo para vir ensiná-los a técnica e desenvolver alguns modelos para trazer dinheiro à região. Todas as cerâmicas têm desenhos copiados das pinturas das tocas. Eu ganhei um monte de presentes de aniversário e o Carlos e os rapazes até fizeram uns vasos com a ajuda de um artesão (eles entregam em São Paulo!). Lá na Cerâmica também tem um albergue e um restaurante a quilo delícia!

Meu aniversário comemoramos na melhor churrascaria da cidade a Donizete. Na verdade era um galpão no meio de uma praça. As mesas de plástico ficavam na calçada, televisão à toda… Mas a comida estava uma delícia! Comemos bode, paçoca (que é carne seca batida no pilão com farinha de mandioca e manteiga de garrafa) e picanha.

Esse é mais ou menos um resumo do que vimos. Acho que as fotos falam melhor do que o meu relato.

Uma última coisa da qual me orgulho muito foi ter conseguido fazer as escaladas. Eu morro de medo de altura, mas para poder contemplar a vista do alto da serra, tínhamos de subir umas escadas bem precárias fincadas na pedra. Olhando das fotos não dá para entender, mas algumas chegaram a ter uns 150m de altura. Subir, eu subi sem problemas, olhando para cima, beleza. Para descer, as escadas começavam praticamente na horizontal por cima de uma rachadura na pedra olhando para um precipício. Eu gemia, agarrava os degraus com toda a força, mas consegui descer. Para alguns não parece muito, para mim foi uma conquista!

Espero que tenham gostado e que se aventurem para este lugar tão mágico!