De onde vem a coragem…

Se, como insistem os mais otimistas, toda perda tem um ganho, imagino que  devo ter ganhado muita coragem (ou cara-de-pau, dependendo do ponto de vista..) diante da constatação inevitável de que o tempo leva também o vigor e o impacto mais influente de uma beleza em plena juventude. Nunca foi nostálgica e explico aqui o porquê do tal momento-corajosa.  Recebi essa semana um convite para participar de uma seção da (ótima) revista Serafina, da Folha de S. Paulo, cuja ideia é reproduzir, com a cara de hoje (ui!), uma foto marcante do passado. Detalhe: bem conhecida e já bastante publicada ao longo dos anos (confira acima), a foto escolhida pelos editores foi feita pelo cineasta Luchino Visconti  numa luz magnífica  do ano de 1965 (ui!), quando eu tinha vinte e poucos anos, um cabelão de fazer inveja acrescido de uma extension (made in China),  que usava para aumentar (ainda mais) o volume, e, toda montada no frescor, fazer a starlet vestindo Pucci… Pelo menos no que diz respeito à beleza, aquilo seria um auge, convenhamos. Tentei negociar, sob o argumento de que eu não tinha mais a roupa (nem o pescoço, nem o olhar, nem o brinco…).  Ouvi como contra-argumento que a produtora era o máximo e conseguiria o impossível, a roupa igual e tal. Ri sozinha pensando na missão impossível da produtora-milagrosa, disse que me sentiria mais confortável com o meu próprio figurino e, resumo da ópera, fui, acredite, capaz de aceitar o convite. Sem perder obviamente a visão crítica da situação nem a risco de documentar o ridículo… Imagine, afinal, uma senhora de 74, na primavera de 2013,  com uma extension chinesa no cabelo, fazendo carão meio existencialista ao mirar o infinito numa luz de tarde chuvosa em Higienópolis. Et voilá!  Eu própria fiz o make-up, tentei me divertir com a suposta ousadia-coragem-cara-de-pau, decidimos rapidamente que o primeiro click era o melhor de todos e, quando a fotógrafa foi embora, ainda me lembrei de um poema famoso (One Art, da americana Elizabeth Bishop) que recebi outro dia de um amigo e que diz: “A arte de perder não é nenhum mistério/ Tantas coisas contém em si o acidente de perdê-las que perder não é nada sério…” E por aí vai.  A propósito: não perca. Em breve nas bancas.

por Costanza Pascolato

E a foto, com a ótima entrevista, que foi publicada ontem no Serafina…

Ps. E já nas livrarias, uma reedição especial, revista e atualizada, do primeiro livro que lancei, O Essencial, que esgotou nos anos de 1990,  e traz dicas ainda muito atuais e práticas para lidar melhor com a própria imagem, porque o tempo, afinal,  não pára.

Para a compra do livro pela internet, é só clicar sobre o nome de uma destas livrarias on-line:

SARAIVA

LIVRARIA CULTURA