Falando das minhas casas…
Fiz este post para a Bontempo sobre a união do antigo e novo nos lares que me cercam. Gostei muito de escrevê-lo. Foi publicado no blog da marca (AQUI). Achei tão bonito que pedi a autorização para publicá-lo aqui no Consueloblog. Agora aviso, vale a pena passar no blog da Bontempo AQUI pois cobriram a feira de móveis mais importante do planeta em Milão, a iSaloni, e identificaram todas as tendências do momento em decoração! Se você gosta destas coisas, está super interessante!
Memóiras, afetos e tradições…
Nosso lar é como uma impressão digital: pertence unicamente a cada um de nós. Carrega nosso DNA, abriga nossa essência. Em nossos interiores, pouco a pouco, tudo reflete quem somos, construindo um refúgio à passagem da vida – de um risco na parede a um desenho dos filhos na estante. A casa é constituída do que mais amamos e mais entesouramos, não importa o seu valor – não é à toa que a Bontempo está em Milão nesta semana para encontrar novos tesouros no iSaloni. Peças que durarão no tempo, levando um pouco de nossa história à próxima casa que as abrigará.
Tenho raízes muito fortes na tradição, mas uma cabeça que sempre busca a modernidade: cresci em casas que traziam um mix do tradicional, herdado dos meus avós, e do moderno, colecionado por meu pai. Sempre achei isso interessante, bonito, razão de orgulho. A pessoa que sou talvez seja consequência dos meus arredores.
Atualmente, na casa de meu pai, no Texas, o mix é de quadros da metade do século 20, móveis rústicos italianos da mesma época, tapetes antigos e pedras minerais brasileiras centenárias (ametista e turmalina).
A combinação de épocas revela-se inusitada, um reflexo do homem que ele é: ativo, exigente, sensível e de ótimo gosto. Trata-se de um lugar onde a natureza do espaço exterior casa com as peças internas – inclusive um piano de cauda longa herdado de sua avó. Uma peça tão tradicional encontrou um espaço nobre e acolhedor nas planícies rústicas do sul dos Estados Unidos.
A casa de minha mãe em São Paulo teve grandes mudanças quando minha avó faleceu. Costanza herdou várias peças antigas da casa do meu avô em Veneza, quadros e móveis cheios de história de séculos atrás. Ela sentiu a necessidade de mudar o ambiente para acomodá-los com o respeito que mereciam. Com a ajuda de sua amiga Marilu, artista plástica, pintaram as paredes de um vermelho profundo. São sete camadas de tons diferentes, pinceladas à mão por alunos de arte de Marilu. Criou-se um ambiente quase cinematográfico – lembra um set do diretor Luchino Visconti –, necessário para incorporar peças fortes ao lar dessa mulher pequena e aparentemente frágil, mas na verdade de grande força.
Ecletismo define o espaço de Costanza. Na sala de jantar, que acolhe um grande candelabro de Murano, uma das paredes é dourada. Do outro lado, há um biombo chinês.
Mas não deixa de ter cantinhos irônicos, afinal minha mãe também é muito engraçada. Um banquinho foi coberto de plástico dourado, apesar de todos os outros serem em veludo vermelho ou jacquard de seda. Um pequeno brasão de madeira com suas iniciais, encontrado numa feirinha de antiquário dos domingos, foi pintado de dourado. Ele fica orgulhosamente sobre um arco, diante de enormes brasões de família de seu marido, que era marquês – de verdade! Apesar de parecer imponente, o cômodo é muito acolhedor. É nessa sala que escrevo este texto. Sentada próxima a um móvel cheio de livros antigos, sinto o cheiro de suas páginas. Um cheiro antigo, raro que lembra minha infância e os contos em volumes – como aqueles de Monteiro Lobato.
Já a minha casa é uma combinação de quem sou até hoje. Moro em parte da estufa da mansão que pertenceu à família de Américo Vespúcio, em Florença. Apesar da estrutura rural não ter valor arquitetônico, é muito bem exposta ao sol e tem grandes janelas que dão para um lindo e pequeno jardim. Os móveis e quadros, herdei de meu pai. Os quadros integram sua coleção que mencionei anteriormente.
As estantes estão cheias de livros, fotos e desenhos de meus filhos quando eram crianças.
Em um canto, tenho uma mesa de 1700, de minha tia, e um quadro de 1800 que fora de minha avó. Na minha infância, ficava sobre a cama onde eu dormia na sua casa. Ela dizia que parecia comigo. Quando morreu, foi a única coisa que pedi.
O tapete persa antigo foi presente de meus 40 anos. Na sala de jantar, peças clássicas: a mesa de Saarinen (1957), cadeiras Breuer (1925), vasos Aalto (1936) e a lâmpada Arco de Castiglioni (1962). Desenhos que parecem modernos, mas que na verdade têm quase 100 anos. São atemporais, prova de que um bom design dura para sempre – qualidade e design reunidos, aquilo que a Bontempo, em seus anos de carreira e profissionalismo, almeja incessantemente.
Parte da minha sala pertencera ao meu pai, mas a fiz minha com paredes rosadas, adicionando detalhes pessoais e escolhendo a mesa e a lâmpada que sempre amei, em mármore preto. Uma escolha corajosa, pessoal. Lembro da noite em que tudo ficou pronto. Quando todos estavam dormindo, fui à sala descalça e sozinha. Olhei ao meu redor e me emocionei. Foi a primeira vez que me senti adulta. Aquelas peças, daquele jeito, com aquele legado, não eram apenas móveis: carregavam uma história e agora faziam parte da minha. São o meu lar. Me senti totalmente feliz.
- April 20, 2016
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Natalia Pereira
20 de April de 2016Lindo Texto, me emocionei no final compartilho do mesmo sentimento nossa casa é o misto das nossas historias.E como sempre parabéns pelo bom gosto. É de herança com ctz kkkk
Karoline Fernandes
20 de April de 2016Já te disse que escreves bem... Mas esse foi mais especial sabe Consuelo... Porque fala da nossa casa... Onde é o nosso canto o nosso refúgio, onde nossos melhores momentos são eternizados alí... Eu acredito que seja... Parabéns mais uma vez por dividir a sua vida com tantas pessoas, dividir tantas coisas lindas que vem de dentro do teu coração! Você me fez bem hoje lendo este texto!
Obrigada mais uma vez!
Andrea - Curitiba
20 de April de 2016Querida Cons, adoro as tres casas, cada qual com seu estilo. Se eu pudesse descrever em poucas pinceladas a minha, seria mais o estilo da casa de Mamisa. Inclusive possuo uma parede bem vermelha como a dela. Porque: por que apos a perda de mamae , apos muuuitos anos de um luto que deixava a casa como um santuario, fiz o meu lar, com a minha cara MAS guardando lembrancas e mais lembrancas de objetos, livros e moveis que pertenceram a epocas diferentes e que tantas estorias contam! Portas entalhadas de madeira escura, o mesmo acontecendo com moveis entalhados a mao pelo mesmo senhor que dedicou 80 anos ao mesmo oficio convivem lado a lado com telas e esculturas modernissimas...Como amo demais a mistura do classico + moderno, quadros no chao e encostados nos moveis( na verdade, possuo apenas tres pendurados nas paredes, na sala) , colecoes espalhadas pela casa, tapetes encaixados harmoniosamente, convivem todos juntos....Minha amiga decoradora Sandra me ajudou a entremear objetos, moveis e tapetes, o que tornou tudo muito aconchegante. Adoro ¨namorar¨ minha casa, meus cantinhos prediletos! E como possuo TOC( NAO muito acentuado, diga-se de passagem..haha), tudo esta impecavel e nao gosto que nada seja mudado de lugar..haha.....Ahhh como eh bom ter sua casa, seu gosto, seu lar! Feliz daquele que pode sair e voltar para o seu aconchego, seja ele simples ou sofisticado...Lar eh o que escolhemos para ser nossa continuacao....Bjs querida........
consueloblog
21 de April de 2016q emoção, né andrea?!! bjs c
Zoraia Sesti Lahude
20 de April de 2016Lindo texto, comovente, sensível e verdadeiro, assim como te expressas na tua maneira de ser. Em tudo transmites emoção! Apesar de ter trocado poucas palavras contigo na cidade de Bento Gonçalves, RS, pareces muito íntima para mim pois te vejo exatamente como te apresentas para as pessoas e para o mundo. Te admiro muito! Bjo carinhoso
Rosa Virginia
20 de April de 2016Ola Consuelo, ola salotto!
Lindo texto!!
Que tal compartilharmos uma foto de nossas casas, um cantinho especial, um quadro, um vaso, um pedacinho de nós?
PS. Lindas as palavras de Andrea (Curitiba) : "Lar é o que escolhemos para ser nossa continuação"
Abraços caseiros,
consueloblog
21 de April de 2016boa ideia! vou anotar! Sim lindo o comentário da Andrea!
bjs
c
Angela Motta
20 de April de 2016Lares lindos e peças maravilhosas! Tb tenho mesas Saarinen, brancas, e meu filho tem essas cadeiras Breuer atemporais e lindas. A sua mesa de 1700 e 1 paixão de linda! Seu bom gosto e sua casa refletem a sua personalidade descontraída e sofisticada. Também, com esse berço esplêndido não poderia ser diferente: Costanza chiquerrima e o ap mais que maravilhoso com peças únicas e dispostas de uma maneira tão elegante e moderna e seu pai com um rancho autêntico!! Parabéns, belos designs. Bjs
consueloblog
21 de April de 2016Obrigada amiga! bjs c
Jovita Agra
20 de April de 2016Excelente seu artigo para a Bontempo, Consuelo. Acredito que, antes de qualquer coisa, a casa deve ter a personalidade de quem ali habita. Só assim a pessoa se sentirá confortável e será sempre o local para onde se quer voltar. Sua casa de Florença é muito simpática e acolhedora. Imagino que com esta sua vida de constantes viagens, deve sentir um prazer enorme sempre que retorna para casa, e sentir todos os cômodos como só o dono o faz.
Beijo para você e para todos do Salotto.
consueloblog
21 de April de 2016Nossa! Isso tudo q escreveu é muito verdade!! bjs c
Sheila andrade
20 de April de 2016Como você escreve bem é emocionante ler seus textos, me sinto com uma amiga, conversando e tomando um cafezinho. ..
Já me mudei tanto Consuelo, vida meio cigana sabe? Marido militar, um tempo aqui outro ali tive que desapegar de coisas , pessoas e lugares várias vezes.
Parece que esse estilo de vida faz a gente ficar meio inquieto.
Estou querendo parar agora, montar uma casa definitiva, com coisas novas e com as poucas coisas que consegui carregar comigo nesses trinta anos de sobe e desce pelo Brasil.
consueloblog
21 de April de 2016Wow Parabéns! Qual teu signo? Eu ficaria louquinha!
bjs
c
Fatima Bertoche
20 de April de 2016Todas as três casas lindas! Mas a sua é a que msis gosto. Leve!
Fátima Helena Melo
20 de April de 2016Amei todas as linhas traçadas e descritivas das lindas casas de muitas histórias e culturas, cada uma com suas particularidades.
Beijos
Maria Conceição Gotti Vianna Carneiro
20 de April de 2016Ola Consuelo acho o tecido dos seus pufs uma graça!!! Sou sua seguidora tenho 62 anos mas muito antenada com decoração, tenho uma loja muito bacana aqui em SP. Gostaria de saber onde vc comprou este tecido. Obrigada um grande BJO. Conceição.
consueloblog
21 de April de 2016não fui eu quem comprou... chegou assim. Quem ajudou meu pai na época foi a Cristina Allegri. bjs c
Marina
20 de April de 2016Consuelo, este texto é emocionante está escrito com sensibilidade e verdade. É muito interessante pensar na dimensão que as nossas casas têm e como espelham a nossa personalidade e abrigam parte do que somos e do percurso que fazemos. E felizes os momentos em que sentimos (descalços no chão) essa ligação. Obrigada pela partilha. E as suas casas são lindas demais! Beijinho
consueloblog
21 de April de 2016o descalço é bacana, né?... bjs c
Giovanna Stewers
21 de April de 2016"Que bom chegar em casa", sempre dizemos isso após uma viagem. Melhor lugar do mundo. Com nosso jeito, cheiros, aromas...nossa personalidade. Minha casa hoje tem objetos que contam histórias ... de uma viagem, um presente, da família de meu falecido marido de Trieste, enfim, histórias que fazemos ao longo do caminho. Amei a sua casa, minha cara! Você é doce e gosto de sua energia, bj bj.
consueloblog
21 de April de 2016Bacana Giovanna! bjs c
Frederica
21 de April de 2016Três casas diferentes, que espelham a personalidade e história de quem as habita, todas muito adequadas às respectivas coordenadas geográficas. Mais um post lindo, obrigada!
Beijos a todos
ana
21 de April de 2016oi, adorei o tecido clarinho dos pufes e das almofadinhas, de onde são? Achei a tua casa muito leve e harmoniosa, parabens!
consueloblog
21 de April de 2016O quadro é de Eduard Sued. Tem mais no clipping. O tecido das almofadas são da Etro e Pucci que ganhei nos desfiles. Dos pufes eu não sei... bjs c
ana
21 de April de 2016mostra mai de perto o quadro colorido emcima do sofa!
Sandra Abreu
21 de April de 2016Consuelo, esse texto é pura delicadeza e sensibilidade! Parabéns.
Rosana Fiedler Buerger
21 de April de 2016Consuelo vc escreve com o coração, e com mta bagagem claro. Adorei 'entrar" nessas três casas. interessante a presença da luminária Arco nas três. Também adoro!!!
Imagino o quanto vai ser agradável a leitura do seu livro. Aguardando...
Fã incondicional!
consueloblog
21 de April de 2016É mesmo! A mesma luminária nas três! É tão natural pra mim q não registrei!! rssss! bjs c
Ledyanne Carvalho
21 de April de 2016Aí, que post lindo Consu! É verdade! Ir à casa que era da minha mãe, dos meus avós e dos meus tios é como voltar no tempo, no meu passado tbm! Sempre gosto de chegar e olhar fotos que eles guardam, RS! Olho as paredes, os quadros e sempre vem alguma lembrança boa e as vezes tbm! Agora, minha casa é a composição do que sou hoje, dos lugares que morei e viajei! Ano passado voltei a morar no Rio, minha cidade natal. Fiquei dois anos no Rio Grande do Sul e dois anos no Paraná. E a medida que eu ia abrindo as caixas da mudança e vendo meus objetos, ia recordando aonde comprei, aonde estava na outra casa e quão valiosos eram, pois vieram de um outro lugar, que eu talvez não achasse igual aqui no Rio.
O quadro que pertencia a tua finada avó é lindo e acho que dá bastante destaque ao cantinho que está na tua sala!
Bjs, parabéns ser sempre tão sensível!
consueloblog
21 de April de 2016Ledy, adorei tua história, mesmo vc sendo tão jovem! bjs c
monica
21 de April de 2016Cada casa com a personalidade do dono!!! A sua é sua cara!!! Clara, com pitadas de tradição mas moderna, leve e alegre!!! :D
consueloblog
21 de April de 2016Tantos comentários carinhosos q me emocionei! De novo! bjs c
Teresa
21 de April de 2016Um grande amigo arquiteto tinha essa equação que compartilho aqui: casa=abrigo +reino. Bjs salotto.
Carmen Nogueira
21 de April de 2016Cada lar abriga um pouco da tragetória de vida de cada um e da personalidade também.
Fico sempre feliz por ter a oportunidade de acompanhar seus textos que sempre trazem a sua sensibilidade e intimidade.
Gde abraço
Carmen Nogueira
21 de April de 2016Ups...trajetória
Claudia Mara
21 de April de 2016Consu querida como te acompanho no snap já conhecia tua casa e de fato, retrata tua personalidade: simples e com estilo! Vc só esqueceu de descrever a sua mesa de centro: Noguchi (1944)! Sempre adorei o design dessa mesa!
Minha casa tb reflete minha personalidade! Gosto de mixar estilos: linha reta e móveis antigos! Para os quartos, aconchego e conforto no estilo provençal! E nos banheiros e cozinha, o clean! Mas tudo tem o meu toque: nos livros de fotografias e peças das viagens que fiz, nas louças e taças antigas que herdei! Uma casa tem de ter voce refletida nela, com tudo que faz parte da sua estória! Se não for assim, vira casa de capa de revista: linda, mas sem vida!
Bjs! 😘
consueloblog
22 de April de 2016Bem notado Claudia! obrigada!
bjs c
Marly Papa
22 de April de 2016Oi Consuelo , estou um pouco atrasada , mas o importante é participar , não é mesmo ? Acho que as tuas casas representam mto bem a personalidade de cada um de voceis , a do seu pai um rancho no Texas com estilo europeu , gosto muito !!! A sua mãe com os ganhos de móveis e quadros e peças deu o seu estilo particular a cada uma delas , ficou mto legal e o teu apto , te represente tb mto bem , misturando estilos e leveza como vc é !!! Difícil escolher qual ficaria , porque cada um deles tem suas peculiaridades !!! Bjs !!!!
Andréa Rodrigues
23 de April de 2016Nossa casa ! É o nosso ponto de equilíbrio, é o encontro carinho,quando encontramos nossos filhos, no almoço ou no jantar ! Consuelo suas casas são lindas e harmoniosas, adoro a casa de Florença, a paissagem é maravilhosa !! Beijos Consuelo
lina
23 de April de 2016o mais lindo: Casa é sua impressão digital!!! Sua familia é linda!!!!
Alexandra
26 de April de 2016Casas lindas e cheias de personalidade!
Reparando um pouco já se percebe um pouco de cada uma na mulher incrível que você é. Mas como o nosso lar existe nenhuma outra. Esse nos abraça a cada chegada e nos deixa ser aquilo que verdadeiramente somos, e é isso que conforta o coração e fortalece a alma.
Um grande beijo, minha querida!
graziele fava
7 de May de 2016ola Consuelo, muito bonito o seu post
um grande abraço
consueloblog
9 de May de 2016Abraço!!c