A evolução de uma artista: Caterina Zangrando

Escrevi sobre Caterina Zangrando AQUI já faz 10 meses.  Desde então, ela cresceu muuuuito!!! Sua nova coleção é madura e foge completamente do universo lúdico onde a conheci.

Linda, simpática, talentosa e doce, viramos amigas.  E só agora, escrevendo sobre ela para a Vogue descobri que a sua garra é enorme e que tudo vale para seguir seu sonho.  Pedi para ela escrever de seu punho a sua história (que não cabe toda na Vogue) e aqui está.  Estou publicando tudo por achar que é uma inspiração para tantos!

Mas antes, quero mostrar as peças da nova coleção que vi em Paris em Outubro.  Vejam só a diferença com a coleção do post anterior que eu fiz em Dezembro de 2012.

 

Aqui vai Caterina Zangrando by Caterina Zangrando:

Como eu comecei ?
Parece trivial , mas na verdade desde que eu era pequena eu desenhava, coloria , bordava… eu tinha uma paixão por canutilhos e miçangas e adorava brincar de desmontar e montar jóias de minha mãe.  Também cortava e costurava roupas para as minhas bonecas.  Barbie para mim era mais uma manequim que usava para experimentar os vestidos que criava… Eu sempre tive uma enorme paixão.

Crescendo meus pais me proibiram de fazer Escola de Arte … pois achavam que era uma profissão sem futuro. Também me proibiram de cursar a faculdade de St. Martins em Londres, pois “eu tinha que fazer algo que pudesse me dar as noções básicas de cultura” e não rabiscos e vestidos !

Cursei a universidade em Milão de Relações Públicas.  Porém, escondida de meus pais encontrei um trabalho no escritório de imprensa da Valentino.  Lógico que com o tempo eles descobriram e ficaram muito bravos, mesmo que me tenha me formado no número de anos certo e com ótimas notas.

Formada, eu disse: ” mãe agora vou para Paris e me inscrevo no segundo grau na École de la Chambre Syndicale de la Couture Parisienne , e não me diga nada!”

Nós fomos a Paris e lá a escola me informou que os testes do grau italiano não seriam aceitos na França e que eu teria que começar de novo a partir do zero por 5 anos ….
Desconsolada, disse à minha mãe: “Vamos almoçar no l’Avenue!”  [ndr. Um restaurante elegante e muito frequentado por jet-setters, VIPs e gente da moda.]

No L’Avenue estava André Leon Talley (que nem sabia quem fosse, vi que todos o cumprimentavam e eu pensei que ele era uma estrela de rock).  Ao passar por ele, ele me para e admira o colar que minha mãe estava usando , obviamente, um dos muitos que eu continuei a fazer para mim,  ela e minhas amigas …. Ele disse que na próxima semana me queria em NY com uma coleção …. eu a fiz em 7 dias, me demiti da Valentino e entendi:  ÉSTA É A MINHA PAIXÃO E VAI SER O MEU TRABALHO!!! E o sonho tornou-se realidade

O engraçado é que o colar da minha mãe que originou tudo isto tinha sido feito com um colar de pérolas verdadeiras , que um ex-namorado havia me dado o qual a minha mãe odiava!! Rssss  De brincadeira, como presente de Natal eu desmontei e remontei o colar de pérolas de quem ela odiava e dei de presente para ela!

Por que mudei completamente de gênero nas últimas coleções ?
Fazia tempo que sentia a necessidade de fazê-lo e de repente, a inspiração veio!  Na verdade sou muito egoísta façoas jóias principalmente para mim.  Não sentia mais a coleção antiga com cores, cristais, fantasia e contos de fadas, eu queria algo mais maduro, mais linear, algo que me representasse, neste momento.  Eu queria misturar arte, história, ciência, matemática, física, cidade e as áreas metropolitanas, mas tendo bem clara a idéia de ser mulher.  Queria expor esta feminilidade sem mostrar bling bling …. Queria pérolas porque trazem luz e iluminam sempre, pois joias devem iluminar e decorar não devem ser só moda e metal.  Senti a necessidade da transparência para enfatizar o corpo, a forma o pescoço, os dedos, os lobos da orelha …. e é por isso que eu adicionei o plexiglass. Queria peças simples para serem usadas todos os dias, e para mim, como sempre em todas as minhas coleções, as peças devem ser grandes!  Desejava algo contemporâneo e é por isso que surgiu a “DOUBLE REVOLUTIONARY COLLECTION”! Eu busquei a força de mulheres poderosas que deixaram uma marca na história.  Quis peças que são como talismãs, com a força de sua musa.  Pois eu também sou uma mulher forte que está dando cotoveladas neste mundo da moda que, mesmo frívolo,  é um mundo duro e difícil de ter sucesso. E é por isso que eu dediquei esta coleção para as mulheres fortes da história , ocultando um pouco seus nomes, para que cada um possa escolher a parte que preferem …

Como me sinto quando crio e como trabalho
Sou de uma inconsciência absoluta , crio sonhando… eu ainda acredito em sonhos!   Mesmo sabendo que no fim das contas, tenho que ser prática.  Mas quando eu crio eu penso em tudo de mais lindo e maravilhoso que existe!!   Mais tarde, durante a produção, acabo por descobrir que várias peças que sonhei são impossíveis de produzir.  Mas pelo menos me enriqueci sonhando-as e desenhando-as.  Como a pequena clutch que introduzi pela primeira vez na minha coleção.  Eu sonhei uma bolsa de noite, romântica e também  sonhei o maior anel de noivado do mundo!!  Et voilá … ela apareceu, uma clutch-anel de noivado em plexiglass, transparente, redonda e brilhante!

Trabalho na maior desordem!  Não importa onde, posso estar na minha mesa de escritório, no quarto ou na sala de estar.  Eu coleciono tudo … papéis, imagens, recortes de jornais, fotos, vários esboços, amostras de tecidos, cores, as coisas mais impensáveis ​​e espalho tudo pelo chão!

E depois, uma vez que crio a coleção, quase por superstição mesmo, saio para comprar um batom, e saiba que eu, na maquiagem, NUNCA uso batom… mas sei lá,  é um gesto que me faz rir… é um pequeno,  inútil femminilíssimo prêmio.

 

Adorei estas palavras de Caterina.  Digam a verdade, não é inspirador?