A importância da rotina e rituais na vida… texto de Cris Zanferrari

Mais um texto delicioso da nossa colaboradora, Cris Zanferrari

Ritualizar a vida

Cris M. Zanferrari

Não sei se todo mundo é assim, mas eu simplesmente a-d-o-r-o rituais. E não estou me referindo a nada muito elaborado, específico ou esotérico, apesar de nutrir alguma simpatia por um certo misticismo. Mas não. O ritual de que falo tem um não-sei-quê de poesia. Algo do tipo que se faz com delicadeza, introspecção, e, sobretudo, presença. Sim, porque é preciso estar 100% presente ao momento, para que se seja capaz de saboreá-lo, acalentá-lo, usufruí-lo.

Estou falando mesmo é dos pequenos rituais cotidianos que, mal acostumados, chamamos descuidadamente de “rotina”. Digo “descuidadamente” porque temos uma casmurrice ao nos referirmos à rotina como se fosse algo sem encantos, uma mesmice a ser evitada ou combatida. Mal nos damos conta de que essa mesma rotina, que no mais das vezes nos desgasta, também é a mesma que sustém nosso equilíbrio emocional, porque nos dá uma sensação de segurança e previsibilidade, o que não é de todo ruim. Por isso mesmo, transformar os pequenos afazeres do dia a dia em pequenos rituais pode se revelar num ato de gratidão pela vida.

Ritual que se preze tem de incluir uma certa devoção. Por exemplo: passar um café. Espalhar flores pela casa. Acender um abajur. Ler um livro. Tomar banho. Receber amigos. Jogar conversa fora. O mais importante, no ritual, é o gesto. E, sobretudo, a intenção que há por trás dele. Quando passo um café, para além da mecânica de despejar o pó no coador, se esconde o meu mais profundo desejo de iniciar o dia com disposição e com aroma. Quando ponho flores no vaso, alegro a casa, os olhos, e o coração. Quando acendo a luz de um abajur, é aconchego e intimidade o que procuro. Quando abro um livro, encontro conforto e companhia. Quando abro a casa para os amigos, entrego-me a um tempo a cada dia mais raro e, por isso mesmo, sagrado: o da convivência. Todos esses pequeníssimos gestos, rituais, se feitos com a tal devoção, são tudo o que se precisa para se fazer de uma casa um lar.

Também é importante lembrar que o verdadeiro ritual nunca é algo a se cumprir às pressas. Aliás, é no vagar de sua consumação que se revela todo o requinte, poesia e_ por que não dizer_ transcendência do momento. Ao ritualizar uma atividade qualquer, compreendemos a grandeza do “aqui e agora”, o seu sentido único e irrepetível. Pelo ritual, aspiramos à beleza e à eternidade. Pode-se querer mais?

Escrever é também um ritual. Não se escreve sem paixão, sem tempo, sem se desnudar. Cada texto escrito é um rito, uma comunhão entre quem escreve e quem lê. Talvez por isso eu goste tanto: como todo ritual, também a escrita cria laços, (re)significa a existência, e traz mais vida aos nossos dias.

E porque é quase Natal: um brinde aos rituais!

Como sempre nos textos de Cris, ela nos deixa com tanto para pensar.  No meu caso, com esta vida caótica de inserir conteúdo no blog e no Instagram, lamento, dentro do coração, de muitas vezes não estar 100% presente em uma situação.  Agradeço, porém, quando alguém me dá um “tapa” virtual, para que eu acorde a isto…

E com todo o meu viajar, a rotina se torna preciosa!  No Instagram se vê o quanto eu adoro a “ritual” do café pela manhã…  Mas o prazer de acender um abajur!!  É tão verdade e nunca havia pensado!!!!  Buscar e encontrar o interruptor, e aquele momento mágico quando se acende a luz… e sim, a do abajur é mais calorosa…

E o escrever, tarefa tão árdua para mim, me une a vocês todos em um ritual maravilhoso!!

E nesta sexta-feira, Cris nos presenteia com um de seus rituais natalícios favoritos!!  Aguardem!

Se quiserem seguir Cris mais de perto, o seu Instagram é lindo, Prosa e Poesia, de onde vem todas estas fotos.