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É a vez de Nápoles por Kareen Terenzzo

O poderoso Vesúvio. Tão perto...

Nápoles aos teus pés…

Mais um trecho da viagem de Kareen.  Para quem chegou há pouco no blog, Kareen tem nos contado sobre sua viagem pela Europa, especialmente Itália.  O que acho intrigante de seus contos, é como ela vai descobrindo coisas de si própria enquanto descobre este mundo antigo.  As diferenças culturais, iluminam a sua própria cultura.  Também me impressiona a pesquisa feita com antecedência e a coragem de viver a vida local pegando transporte público e comendo nos botecos (que na Itália, garanto serem ótimos e seguros).

Visitem também o seu blog Vacation Animae.

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Io sono Napolitana

Se sua ideia sobre Nápoles se resume à pizza, tarantela, San Gennaro, roupas penduradas nas janelas e… à máfia (opa, que ninguém nos ouça), surpresa… Sim, é isso, mas muitas outras coisas legais.

Nápoles não fazia parte do meu roteiro, assim, pra ficar… Eu pensei em fazer um “check in/out” rápido – desembarcar e embarcar na estação de trem, comer uma pizza, olhar a baía, dar uma volta… e ciao. Mas quando estava em Sorrento decidi estender minha estadia e montar minha base lá para conhecer Pompéia e Herculano que ficam praticamente no meio da viagem entre Nápoles e Sorrento pela linha Circunvesuviana! Sim, a linha do Vesúvio. Já estava no clima do sul da Itália, e mais que isso, tenho raízes em Nápoles também… Meus bisavós por parte de pai, Francisco Antonio Scorse e Filomena Severino, e minha avó Josefina, eram napolitanos. Vieram para o Brasil e Josefina se casou com Rynaldo Terenzzo (há indícios que o correto seja Terenzi ou Terencio), também italiano, mas da Calábria. Já tinha ouvido falar especialmente mau sobre Nápoles – caótica, suja, perigosa, grosseira. Mas resolvi “correr o risco” e honrar a cidade que originou parte do meu DNA e conhecer mais sobre Partenope, a Riviera dos romanos da antiguidade, que depois veio a se chamar Napoli! Pois é, aquele meu livro, “Férias Pagãs” ainda me acompanhava…

Buongiorno Napoli!

Baía de Nápoles

Castel dell’Ovo

Fiquei hospedada num lugar bacana e bem localizado. Pertinho da Via Toledo, no centro histórico que, como tudo na Itália também é patrimônio da Unesco, e onde só circulam pedestres. E bem perto da estação de metrô Dante para garantir o acesso fácil à Circunvesuviana.  A primeira surpresa foi chegar no hotel que está no quarto andar de um prédio bem antigo… já me imaginei arrastando minha mala, mas não, podia contar com um elevador charmoso, daqueles que não se vê mais, bastava colocar uma modinha de 10 cents de euro! Curti esse “improviso”, coloquei minha mala e desconfiada preferi subir de escada. Logo depois descobri que o prédio não é só mais um prédio antigo, ele tem também uma importância sócio-política! Pronto!!! Saí inspirada para descobrir  minha porção napolitana.

A placa na porta do prédio do hotel onde me hospedei, a resistência italiana!

A TV no meu quarto… Proposta moderninha

Andiamo a Napoli

Meu primeiro dia, enquanto tomava meu capuccino… duas noivas! Na mesma rua!

Nápoles é uma cidade grande. Descobri que é a terceira cidade mais populosa da Itália, perde para Roma e Milão. Bem menos turística que Roma, à primeira vista é tão barulhenta e bagunçada quanto mas depois tudo me pareceu… fácil. É uma cidade “viva”. As casas e apartamentos mais antigos, próximos ao centro histórico, estão no alto da cidade… nas colinas! Adorei isso. São elas que formam aquele skyline de “casas penduradas” especialmente bonito visto a partir do mar…

Vista parcial de Nápoles a partir das colinas. Cheguei aqui por uma linha do funiculare. Há várias linhas deles… Adorei!

O poderoso Vesúvio. Tão perto…

Fim de tarde ensolarado

A cor predominante é o amarelo em meios aos tons terrosos

Notem a quantidade só nessa foto de duomos, cúpulas, de igrejas

Não cheguei em tempo de visitar o Castel Sant’Elmo

Não posso dizer que me aventurei tanto assim mas caminhei o bastante, usei o transporte público, fui na lavanderia, conversei com pessoas no metrô, me senti bem à vontade, exceto pelos sustos constantes com as scooters que surgem das ruelas “meio do nada”… e dei muitas risadas com o “humor mal-humorado” despachado irônico dos napolitanos… Como no dia que parei numa doceria linda e vi meu doce italiano preferido, o canoli siciliano (que só compete com o tiramisu)!!!! Pedi para a atendente naquela tentativa de um italiano arrastado, “per favore uno cannoli siciliani”. E ela olhou bem pra mim e respondeu: “che cannoli siciliani? Qui abbiamo solo napolitano!!!”. E caímos as duas na risada. Ou como o dono da loja de queijos e frios aonde parei para comprar um panini, que pensou que eu era italiana e quando falei que era brasileira mas que tive uma avó napolitana, ele fez uma festa e pediu pra tirar uma foto comigo. Nápoles é divertida!

Estação Dante. O círculo azul é um buraco que parte do nível da rua e chega aí, dentro da estação. É para ser olhado mesmo, a ideia é criar uma sensação “deep blue”

Trechos da obra de Dante na estação

Mais uma instalação no metrô. Essa é de um artista de Nova Iorque

Apesar da sensação de aflição, adorei essa obra

A arquitetura preservada. Essas “mini pontes Vecchio” me encantam Itália!

Aha! O autêntico espaguete napolitano no Gambrinus, o famoso café frequentado por Oscar Wilde

A famosa pizza napolitana só podia ser margherita e não foi na pizzaria do filme Comer Rezar Amar (!!!). Foi na Sorbillo. Dica do meu amigo Fabiano Marques que passou uma longa temporada em Nápoles.

Opa, um momento yoga assim no meio da rua em Nápoles?! Saudades da minha prática, dos meus amigos yogues

Não é que eu consegui achar uma manifestação?! A Itália é um país politizado e ainda se vê muitos cartazes sobre o partido Comunista, ou Socialista

Cenas de verdade. Enquanto estava lá congelada na estação de trem observei muito as pessoas. Essa foto por exemplo, não resisti… tirei e publico, com todo respeito. O senhor de óculos escuros parece ter saído de um filme da máfia…

Muitas igrejas (muitas mesmo), museus, exposições e eventos na cidade mas eu queria focar em Pompéia e Herculano. Meu interesse talvez fosse menos histórico e mais “romântico-aventureiro” – sou meio fascinada por vulcões, provavelmente influenciada pelas estórias de Julio Verne. Comprei os ingressos antes e reservei uma parte do dia seguinte só para Pompéia e o resto para Napoli! Queria meus momentos de calma para sentar num café e ficar sem fazer nada. Confesso que estava bem cansada também de tantas informações, de tirar fotos, mas como não conhecer? Conhecimento sempre é sedutor e irresistível…

POMPÉIA
Todo mundo já ouviu falar sobre Pompéia e Herculano, as cidades destruídas pelo Vesúvio no ano 79dC. As cidades ficaram adormecidas séculos e foram descobertas somente no século 16. Já o Vesúvio deu um pouco mais de trabalho, mas desde 1944 está lá, calmo, tranquilo… entretanto, dizem que deve entrar em erupção novamente num futuro próximo. Pompéia era uma cidade importante, tinha pouco mais de 20 mil habitante e através de pesquisas e indícios arqueológicos, durante sua existência foi a cidade dos prazeres dos romanos da alta classe média. Por conta disso, os religiosos da época atribuíram a tragédia à fúria dos deuses que resolveram castigar Pompéia pelo seu estilo de vida.

Exploradores mais atentos, após sua visita, contam com detalhes sobre as casas, placas das casas, as funções de cada peça encontrada, e com quase todos que conversei que estiveram lá, antes durante e depois, todo mundo quer saber onde era o prostíbulo… Ora, deixemos os mortos em paz. Confesso que minha visita não seguiu assim. Não havia mapas disponíveis e não queria ficar “refém” de guias ou de um audio-guide. Pompéia é graaande e o Sol estava impiedoso. Impossível lembrar ou anotar tantos detalhes. Fiz uma breve pesquisa na internet antes e segui meu caminho, mais de olho na paisagem e nos detalhes que renderiam boas fotos.

Um parênteses: em breve será lançado o longa intitulado Pompeia, do diretor Paul W.S. Anderson e no elenco Carrie-Anne Moss, Paz Vega, Kiefer Sutherland, entre outros. A estréia prevista nos cinemas aqui do Brasil, para o dia 21/fevereiro.

Uma casa ainda em bom estado

Grandeza e beleza na cidade fundada pelo gregos, tomada pelos etruscos, fenícios e por último sob o domínio dos romanos

Uma das fontes originais ganhou uma torneira nova

Paisagem que faz você pensar em como seria essa rua no séc. 79dC antes da tragédia

O auditório! Pronto para ser usado

Colunas e mais colunas

Esse lugar especialmente me lembrou o Palatino, de Roma

Bandeira brasileira?

Muitos afrescos estão em bom estado ou sendo restaurados

São belíssimos

E trazem informações sobre os costumes e cultura de Pompéia

E trazem informações sobre os costumes e cultura de Pompéia

Uma casa maior, de alguém mais importante. Notem o mosaico no chão e o pequeno quadrado onde era um espelho d’água

Uma paisagem sublime se você não pensar no estrago que o Vesúvio fez

Salas como estas são comuns. Estão trancadas e é aonde são guardadas as descobertas arqueológicas. As condições de preservação desse patrimônio não são das melhores, infelizmente

Outro prédio importante que teve as colunas destruídas

Não é pra menos que o pessoal gostava daqui

Ainda hoje há novas escavações e descobertas,  mas sofrem com a falta de apoio e investimento. Algumas áreas estão fechadasou ainda não liberaram o acesso. 

HERCULANO
Herculano é bem menor que Pompéia, era habitada por cerca de 4 mil pessoas mas mais próxima ao Vesúvio. De acordo com as pesquisas científicas as cidades foram destruídas em 24 horas. O vulcão começou a expelir rochas e material vulcânico atingindo Pompéia e poupando Herculano, por conta do vento. O vulcão não demonstrava apresentar perigo, até que houve uma explosão maior e em questão de minutos Herculano foi totalmente soterrada pelas lavas vulcânicas. Isso, ironicamente, fez com que a cidade se mantivesse mais preservada e portanto hoje, mais bacana de ser estudada e admirada. Já Pompéia foi sendo destruída ao longo de 24 horas. O fato interessante disso tudo, e que eu não sabia direito, é que essa foi a primeira tragédia tóxica vamos dizer assim, que a humanidade viveu… O que matou na verdade a população das cidades foi uma nuvem tóxica de cinzas e gases – as pessoas morreram asfixiadas e depois queimadas.

As principais descobertas estavam em Londres, no British Museum na exposição “Life and death”. Como depois acabei voltando para Londres (pronto já contei!!!) aproveitei minha estadia na cidade e fui ao British para concluir meu passeio.

(Herculano conta hoje com apoio da Inglaterra, acho que do próprio British Museum, nas pesquisas arqueológicas e conservação da cidade).

Herculano!

Parece que esse túnel, que era uma mina, serviu de rota de fuga para os que conseguiram escapar

Uma estátua muito bem preservada

Aqui também afrescos belíssimos

Há vida em Herculano

Uma rua importante da cidade

A beleza da arte

Fornos de cozinha! As pessoas viviam numa certa coletividade

Alguns lugares realmente são belos

Aqui temos um jardim recuperado no pátio de alguma casa ou prédio importante, e logo acima as casas atuais, habitadas, a poucos metros do Vesúvio…

Aqui dá pra ver bem como Herculano ficou soterrada! É impressionante

Imagina morar ali e ter Herculano (e o Vesúvio) como vizinhos?!

Essa casa provavelmente pertencia a alguém importante porque tinha sua própria cozinha

Dorme Vesúvio…

O sentimento de liberdade é realmente estranho. Pode confundir e fazer você “entrar em pânico”. Chegou o dia de deixar Nápoles, eu mesma queria partir, mas não sabia para onde… Simplesmente fiquei lá cinco dias e fui deixando para decidir depois… e então estava lá na estação de trem, parada, sozinha. Me senti o personagem do Tom Hanks no filme “Terminal”, sabe? Só que nada me prendia a não ser minha própria indecisão. Vontade, eu tinha de ir para todos os lugares. Mas tinha que escolher um. Uma opção era pegar um barco, uma ferry boat, e ir para Sicília. Outra opção, que surgiu de repente, era ir para Bari encontrar um amigo que ia participar de um festival de arte, tocando com um grupo de brasileiros. Ou eu podia seguir para Veneza… Faltava Veneza no meu roteiro! Mas já era alta temporada e algo me dizia que eu ia ficar louca e aborrecida com tantos turistas… além de mim mesma (risos). Veneza agora não, pensei, Veneza quero só pra mim (até parece, risos). E havia a possibilidade de ir para Amsterdã… Uma amiga e sua família acenaram quando coloquei os pés na Europa, “vem pra cá”. E claro, Londres, que já considero meu segundo lar.

Eu estava empolgada em permanecer na Itália, al mare, mas a opção de Bari “travou”. Ficou uma coisa é, mas pode não ser, e entreguei pra vida, literalmente, até que chegou esse dia… eu não sabia se pegava um barco, um avião ou um trem, e confesso, passei uma tarde literalmente parada! De repente deu um cansaço. Mental físico e emocional. Homesick, dizem. Ou no nosso idioma, saudades! Saudades “de casa”. Ou de uma casa. Me rendi à oferta de casa com cara de casa, colo e aconchego mezza brasileiros mezza holandeses da Arlete, da Stephanie e da sua família linda, naquela delícia de cidade que é Amsterdã.

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E quem aguenta esperar o próximo capítulo?!?!??!?!!!!  Obrigada Kareen!

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