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Sejamos a nossa verdade!! Por Cassi Lopes

Cassiano

Cassiano, It’s ok to be gay! O D66 é um partido democrático focado nas causas sociais.

O querido colaborador e amigo do Salotto, Cassi Lopes nos dá mais um texto sincero e corajoso sobre o que nos leva a ter orgulho de quem somos.  Para mim “ser a nossa verdade” é essencial sejamos nós gay ou hetero, altos ou baixos, ricos ou não, magros ou gordos, velhos ou jovens, homens ou mulheres!  Atingir aquele momento mágico de termos orgulho de quem somos é uma felicidade maravilhosa que desejo a todos neste ano novo!! 

Abaixo o percurso de Cassiano.

It’s ok to be gay

Fui em uma única parada gay na minha vida e isso aconteceu no ano de 2013, em Amsterdã, quando estava de férias no país. Foi incrível e inesquecível. Um mix de excitação, emoção, alegria e orgulho de pertencer à classe, descreve o que eu senti, principalmente porque essa viagem foi “para me encontrar comigo mesmo”, no melhor estilo Lady Kate! É claro que o ideal seria um internato num templo budista, um estágio espiritual com o Dalai Lama ou até mesmo uma estada na Índia com o Deepak Chopra, mas sem cobras e macacos, please! Mas, como quem não tem cão caça com gato, lá estava eu, mergulhado em mim, para encontrar tais respostas. E com muito chardonnay para entender melhor as descobertas! Hahahaha!

A bandeira com as cores do arco-íris é o símbolo do orgulho, do reconhecimento e da cultura LGBT em todo o mundo.

Nessa parada, diante de tanta diversidade, um slogan que dizia It’s ok to be gay (tudo bem ser gay) mexeu comigo, justamente porque eu precisava dessa confirmação de vida. Então, pensei alto: “Meu Deus! Como um dizer tão simples pode ter uma mensagem tão poderosa?!” Não consegui tirar isso da minha cabeça… Depois, vendo outras frases como I can be myself at work (posso ser eu mesmo no trabalho) e Respect 2 Love (respeito para amar ou respeito ao amor), o it’s ok to be gay ficou ainda mais claro! Entendi, naquele momento, que não há problema algum em take control, tomar propriedade da nossa natureza e sentir orgulho disso.

Olhei aquela multidão celebrando a diversidade e vibrando com a liberdade e o direito de escolha. Não tive outra reação, senão chorar. Me senti livre, liberto, free! O meu choro foi um desabafo, uma abertura da alma e um agradecimento à Deus pela minha vida. Uma sensação de leveza tomou conta de mim enquanto ouvia o hit do verão Wake me Up (Acordem-me) de Avicii. Todo o sentimento de ódio, raiva, dó e pena, causado pelos xingamentos, risadas e hostilidades que sofri quando estava “dentro do armário”, foi expelido através de socos aéreos na tentativa de atingir as nuvens. E quase consegui tamanha era a sensação de liberdade. Meus amigos e um casal da terceira idade non-gay testemunharam essa alegria e se juntaram no mesmo movimento frenético e intenso, celebrando, celebrando! Quando atingimos o ápice, um foguete de confete explodiu sobre nossas cabeças e aquela chuva colorida me abençoou para sempre. Desde então, tudo mudou. Voltei para casa mais leve, dono de mim, cheio de sonhos e desejos. Encontrei as respostas e hoje, quem convive comigo sabe que me tornei uma pessoa melhor por ter orgulho de ser eu mesmo, o Cassi, o Cacho, o Cassie Jones, o Mr. Copacabana.

Dreamboat com vários #catalert!

Respect 2 Love = Respeito ao Amor/Respeito para Amar

Muitos outros saíram desse fervo delicioso transformados e marcados pelas mensagens de amor e respeito, independentemente de suas orientações sexuais. Lembro de um barco com oficiais de todas as categorias militares, que belissimamente trajados em seus uniformes, faziam sinal de continência em respeito à classe LGBT. Um mais lindo que o outro! Homens, mulheres, gays, héteros, brancos, negros. E-M-O-C-I-O-N-A-N-T-E! Esse sentimento de orgulho, de vontade de gritar, dançar, pular e querer tocar o céu é o que movimenta qualquer parada como essa, seja nos Estados Unidos, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Tel Aviv e tantos outros lugares onde celebra-se a diversidade e o gay pride. O fervor interno entra em ebulição quando nos juntamos a tantas outras pessoas que se encontram na mesma condição e, esse mar de gente, emite a vibe mais cool, mais massa, mais mara que pode existir. Eu, que odeio multidão, me senti abraçado, aquecido, feliz. Ver todas aquelas pessoas ali, comemorando a vida e o orgulho de ser quem são, me fez acreditar ainda mais no término absoluto do preconceito.

Até a família real estava presente hahahahaha

Diamond Divas! Chic drag queens.

I can be myself at work = Posso ser eu mesmo no trabalho

Modern family = Família moderna

Hoje, tenho o maior orgulho da minha trajetória e da minha história. Vivo normalmente e à medida que as pessoas vão chegando, conhecem a minha realidade naturalmente. Entendo quem tem a necessidade de falar que é gay e tudo mais, mas chega uma hora que essa autoafirmação deixa de ser necessária. Let it flow! Deixe fluir! Deixe o orgulho brotar, aos pouquinhos.

Abraço de urso!

Google Pride

Quando ele apontou o dedo para mim, quase pulei no canal e nadei até lá hahahaha

Vocês sabem como começou a questão do gay pride? No final dos anos 60, o bar gay nova iorquino Stonewall Inn, foi invadido por policiais descontrolados que agrediram violentamente os habitués, na sua maioria gays, lésbicas, travestis, drag queens e artistas. Então, como forma de protesto e revolta, manifestantes fizeram uma passeata para celebrar o gay pride, que desde então vem sendo usado como antônimo de vergonha, fator opressor de gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transsexuais e transgêneros. Esse princípio ainda lidera as atuais manifestações favoráveis aos direitos civis para os LGBTs.

Já fui agredido duas vezes. Nem sei se deveria contar isso, mas faz parte do contexto. A primeira, uma pedrada que levei na cabeça de dois marroquinos na rua. A segunda, um assalto em uma viela, creio que pelos mesmos dois caras. Só que dessa vez, foi mais pesado. Além de socos e pontapés, arranharam o meu rosto com algo cortante. Talvez um prego, não sei. Levaram meu dinheiro, meu celular e cortaram toda a minha jaqueta de frio, aquelas fofinhas. O motivo? Talvez pensaram que eu fosse marroquino pelos meus traços e na cultura deles, não respeitam os gays e fazem pior do que fizeram comigo. Quando cheguei em casa, parecia um galo voltando de uma briga, todo depenado, roxo, arranhado. Uma visão do inferno! Hahahahaha Hoje eu rio, mas foi “soda” na época.

Quando penso nessa questão da agressão (física ou verbal), do preconceito, do bullying e afins, a única solução é o respeito que, junto com a educação, são a base para a construção de uma sociedade mais justa, democrática, com livre poder de escolha, de amor, de igualdade entre os gêneros, de felicidade. As manifestações de orgulho gay são mais comuns e a aderência ao movimento é cada vez maior porque os LGBTS, suas familias, amigos e todos aqueles que lutam pela causa querem viver em paz. Lembro da primeira parada gay em São Paulo, com tremenda repercussão e alguns conflitos porque ainda não se entendia o motivo. Fiquei boquiaberto quando vi uma pessoa – de Jaguar City! – dando entrevista na tv e falando com a maior naturalidade sobre a parada e não era eu! Queria morrer… A medida em que os discursos tornaram-se frequentes e eloquentes, os militantes e representantes da classe LGBT começaram a ser ouvidos, houve uma melhor compreensão e o diálogo ficou mais aberto. Artistas e celebridades se tornaram parceiros e juntos sensibilizaram a população para o entendimento da causa, o que foi animador e se tornou uma conquista e tanto.

Walter, euzinho, Petra & Leo, felizes da vida ao final da parade

Entretanto, com o passar dos anos, eu acho que o sentido social das paradas acabou se perdendo e os encontros se tornaram um grande carnaval. Toda aquela multidão me parecia estar ali só para “festar”. A conduta de muitos era contra o objetivo comum desse evento babilônico e as comissões organizadoras não conseguiram administrar o sucesso e a proporção que essa celebração tomou. Será que ficaram intoxicadas com tanto gliter e purpurina? I don’t know! Ainda bem que a ficha caiu e os responsáveis resgataram o real sentimento de luta pela causa e estão cada vez mais engajados.

Esse momento da parada é quando podemos reafirmar o it’s ok to be gay e mostrar aos demais que “tá tudo bem”, que não somos seres de outro planeta por ser diferente. E daí se eu uso saia? E daí se tenho tits & balls? E daí se meu peito é maior que o seu, se era homem e virei mulher e vice-versa, se duas mulheres se amam? Qual é o problema em assumir a verdade, sem máscaras, e ter orgulho disso? Problema algum! O que realmente importa é o caráter, a honestidade, a compaixão, o amor e respeito ao próximo. Alguns ainda tem dificuldade em encarar essa realidade, por diferentes motivos. E isso vai acontecer na hora certa. Sou otimista. Sei que tudo vai mudar. E para melhor.

Gloria Gaynor, a diva das divas de todas as divas divantes do universo gay e da disco music, lançou o hit I am what I am que tem tudo a ver com essa questão do orgulho de ser quem você é e diz, em um refrão com uma tradução livre, o seguinte:

“I am what I am (Eu sou o que sou)
I don’t want praise (Eu não quero reconhecimento)
I don’t want pity (Eu não quero pena)
I bang my own drum (Eu toco minha própria bateria)
Some think it’s noise (Alguns acham que é barulho)
I think it’s pretty (Eu acho que é lindo)
And so what if I love each sparkle and each bangle (E daí se eu amo cada brilho e cada bracelete)
Why not try to see things from a different angle (Porque não olhar as coisas de um ângulo diferente)
Your life is a shame (Sua vida é uma vergonha)
Till you can shout out (Até que você possa gritar)
I am what I am” (Eu sou o que sou)

Se não conseguir abrir o vídeo de Gloria Gaynor: I am who I am, por favor clique AQUI.

Essa música diz tudo, assim como tantas outras que ela gravou. É um dos hinos de liberdade mais emblemáticos que conheço. Portanto, reforçando essa mensagem da Gloria de “eu sou quem eu sou”, sejamos a nossa verdade.

Vamos nos colocar no lugar do outro, ser empático, respeitar e amar o próximo sem rótulos e sem preconcepções. Sejamos honestos com os nossos corações e com a nossa alma. Tenhamos orgulho de ser a nossa mais pura verdade para viver em harmonia. Com leveza, tolerância e muito amor.

Happy New Year!!

Tot volgende keer Amsterdam… Até a próxima!

Obrigada Cassi!!!  <3

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