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Registros do Salotto: A Sra. Maria e seus Miltons

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Adorei esta estória que recebi do querido amigo do blog, Milton.  Me comoveu!!  Está escrito muitíssimo bem e fala da realidade que todas temos dentro de nós: paixões, realidades, dificuldades, sonhos… E como a coragem e determinação fazem com que estes sonhos se tornem em realidade!!…

Un, dos, trés!

Un pasito pa’delante, María
Em 1929 nascia Maria Chiarelli Barbosa, paulista de coração sofrido. Filha de uma portuguesa casada com um italiano, desde os cinco anos a pequena cuidava de seus três irmãos mais novos enquanto os pais trabalhavam na feira. Infância sobre caixas de tomate que serviram de cama. Sobre caixas de tomate que serviram de escada para chegar mais perto do fogão.
Maria cresceu e se descobriu bela. Engraçado pensar que as mãos calejadas agora seguravam outras mãos, de homens sedutores que Maria seduzia. Não, ela não era mulher da vida. Ganhava os homens pela mão fazendo suas unhas. Manicure autodidata: foi desta forma que ela mudou de vez seu destino.
Ganhou Milton pelas mãos. Mãos ora de calos, ora de fada; por fim, mãos de aliança. Casou-se e, quando se deu conta, perdera a mãe e o pai, e as cinco filhas já a ladevam em fotos de família. Pra quê tudo isto, Maria? O corpo mignon dos dezoito anos deu lugar ao ventre avantajado; nunca, porém, perdera o estilo.
Maria deu sorte, Milton tinha sorte nos negócios. As idas ao Jockey Club eram aparições fashion imperdíveis aos olhos da alta sociedade. Rendas francesas, saltos altíssimos, obras de arte na forma de joias. Ela conta que o vestido vermelho de musselina de seda era igual ao de Grace Kelly. Esvoaçante, fluido, num vermelho sangue, escorrido por tomas justíssimas e fendas milimetricamente calculadas. “Porque estar sensual e deslumbrante é diferente de estar vulgar”, diz ela. Alguém discorda?
Concorda-se também com aquela máxima de que o tempo passa para todos. De lá pra cá, 82 anos já se foram, de tragédias a sorrisos, de álbuns de família cada vez maiores à perda do grande amor de sua vida. Tudo bem, mal sabia que anos mais tarde, Maria ganharia outro Milton, um neto puxa-saco que vez ou outra tentava gostar de cavalos como o avô.
Maria continuava linda. Perdera um Milton, ganhara outro. O primeiro vestia-se do pecado, descobria fendas, desabotoava, despenteava. O segundo viera como antítese. Ele cobre, abotoa, tem estoque de laquê para manter os louros fios de Maria no lugar. A Maria mulher tornou-se Maria avó. De Maria do bairro, da feira, das mãos, tornou-se Maria modelo. Modelo de avó, modelo de mulher, das rugas quase imperceptíveis às histórias fascinantes e difíceis de esquecer.

 

Dona Maria com seu primeiro Milton e suas filhas.

Hoje

Em ordem, da esquerda pra direita:
Milta (mãe de Milton (neto)), Yara, Gelsy, Julia

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