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O que melhora o mundo por Cris M. Zanferrari

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Estes dias tive uma briga com minha vizinha por uma discórdia quanto a um toldo.  Ela me disse coisas horríveis mas eu também berrei.  No fim do dia não sabia mais se estava brava com ela, com medo, com vergonha ou quem era a louca: ela ou eu…  Daí que Cris, nossa amiga do Salotto e dona do blog Mania de Citação (AQUI) e Instagram Prosa e Poesia (AQUI) me manda este texto!  Re-alinhou meus pensamentos, minha mente, minha alma!  E vâmu que vâmu Salotto!  A vida é uma responsabilidade!  Vamos vivê-la feliz!

Cris com Fabricio Carpinejar

Todos os dias a vida ou o universo, _ou ainda, como diria Caio, “isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus”_ nos dá provas de que o mundo pode, sim, ser um lugar melhor simplesmente porque na vida da gente há gente que melhora o mundo.

Dia desses, ao usar o transporte público, reparei que alguns passageiros ao desembarcar agradeciam ao motorista e ele lhes respondia algo que me era inaudível da poltrona onde estava. Quando chegou minha vez, repeti o agradecimento, porque é o que se deve fazer quando um serviço nos é prestado. E então pude finalmente ouvir as palavrinhas mágicas do condutor: Fique bem! Aquela despedida me surpreendeu. Não era um adeus ou um até logo, era antes um cuidado, uma cordialidade auspiciosa. Desci do ônibus com uma certeza: aquele motorista, com o seu “Fique bem”, melhora o dia de muita gente.

Outro dia precisei fazer exames e fui atendida por uma médica extremamente atenciosa, falante e simpática. Sua conversa me distraiu do desconforto e da fragilidade de ser ali, naquele momento, o seu objeto de análise e investigação.

Saí da clínica com uma certeza: aquela doutora, com sua atenção e delicadeza, ameniza o dia de muitos pacientes.

Hoje mesmo cheguei a saber de uma senhora que, para lidar com o agravo de uma fibromialgia nos meses de frio no Sul, costuma fazer de Fortaleza o seu lar até que o inverno se vá. Na capital cearense, ela se dispõe a juntar todo o lixo que encontra à beira do mar durante as caminhadas diárias que faz. Com um saco plástico e uma obsessão por “não poder ver” sujeira, essa senhora deixa a praia mais limpa e bonita para muita gente.

Já deve ter percebido o leitor que não estou a falar de grandes feitos ou projetos, nem estou a exaltar alguma espécie de genialidade ou coisa assim.     Estou falando de gente como a gente, de gente que melhora o dia dos outros sendo quem é, sendo como é. Simples assim. Gente de bem, de caráter, de boa vontade, de boa-fé. Gente que devolve o dinheiro do troco a mais, gente que respeita a faixa de segurança, gente que segura a porta do elevador ao ver alguém se aproximar, gente que dá passagem no trânsito, gente que dá ‘bom-dia’ e pede ‘com licença’, gente que se importa com bichos e plantas, gente que se importa com gente. Sei que na maioria das vezes não é fácil, que há os que andam na contramão da cortesia, da gentileza, da bondade, da honestidade. Essa gente certamente ainda tem muito o que aprender, mas, honestamente, quem não tem?

Na maioria das vezes, quando melhoramos _voluntária ou involuntariamente_ o dia de alguém, estamos mesmo é melhorando o nosso próprio dia. E, é claro, há aqueles que, muito mais involuntária do que voluntariamente, salvam o mundo sem saber que o salvam. São vocacionados para a grandeza das atitudes gratuitas e desinteressadas, para a delicadeza da cordialidade, para a beleza da espontaneidade, e para a graça da maior originalidade possível: a de ser quem se é. São pessoas como os gratos, os condescendentes, os artistas, as pessoas comuns do poema de Borges. Sendo simplesmente quem são, fazendo simplesmente o que fazem, “essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.”

E gente assim não apenas melhora o dia da gente. Gente assim nos inspira e nos ensina aquilo que não consta em nenhum manual de instrução: ser gente de bem. Principalmente, de bem com a vida.

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Gente querida do Salotto!

Não podia deixar de compartilhar com vocês esse poema belíssimo do argentino Jorge Luis Borges, chamado “Os Justos”. É um dos meus preferidos da vida!!

OS JUSTOS

Jorge Luis Borges

Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.


E só para terminar,  tenho que colocar este vídeo do final da Copa Euro 2016 de alguns dias atrás que me emocionou…  Acho que tem tudo a ver com o que estamos falando…

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