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Mulheres inspiradoras!…

Em Arezzo, foto de Roberto Leone

Em Arezzo, foto de Roberto Leone

Fim de ano é uma época para reflexão… quem foram as mulheres que me marcaram… aqui vai um texto de dois anos atrás…

A Nonna Gabriella (texto sobre ela da minha irmã Alessandra AQUI e AQUI) já se foi, mas a sinto mais próxima que nunca.   Ela era a mãe da minha mãe.  Uma mulher de olhos azuis escuros penetrantes, de grande inteligência, humor simples que a fazia chorar de rir (sempre achei isso lindo dela, uma janela à sua alma) e guerreira como poucas.  Nascendo na Itália no início do século passado, ninguém teria apostado (fora ela) que se formaria em línguas na Ca’ Foscari de Veneza (uma das melhores universidades da Itália), viajaria ao Novo Mundo e começaria uma fábrica de tecidos que alavancou a indústria da moda no Brasil.  Ao vê-la com seus 155 cm de altura, filha de boa família e linda, um bom casamento era a ambição de todos ao seu redor… não a sua.

Mas o que seria de nós se, com as adversidades do pós-guerra, ela não tivesse decidido, junto com meu avô, se aventurar naquele continente de tantas promessas? Se um dia, cansada de trabalhar para os outros, não tivesse visto em um lote de seda, abandonado no banco como colateral de uma falência, o potencial para criar tecidos de decoração maravilhosos que não chegavam àquelas margens? Se fosse desencorajada por não saber nada sobre como funcionava uma tecelagem?

Parece karma, mas cada geração de mulheres nessa família teve que superar obstáculos para conquistar seus sonhos. Nascer em berço de ouro, em nenhuma época, é garantia de sucesso. Mas o exemplo de garra e determinação, unidos a estudo e inteligência, nos leva longe.

Foto: Fifi Tong

Minha mãe foi uma das maiores belezas da sua época. Estudou pouco na escola, mas muito na biblioteca que construiu em anos de vai e vem pelo mundo e na internet (pela qual não se fez intimidar). Casou bem, mas se apaixonou por outro, que tornou o seu rumo íngreme. Teve que trabalhar e começou bem embaixo. À inveja de quem a rotulava como dondoca, respondeu: “O que você sabe eu vou aprender, mas o que eu sei você nunca aprenderá.” Calou a moça e foi pela sua estrada com um tanto de energia, visão e inteligência – e ai de quem estivesse pela sua frente! Com outras poucas, estabeleceu a moda editorial no país. Até hoje sabe e intui sobre moda como quase ninguém que eu conheça.

E é nos ombros dessas gigantes que sento, desbravando agora o mundo digital, após – aos 46 anos, divorciada e com dois filhos – me encontrar sem emprego de um dia pro outro. E não é que estou conseguindo? Sinto em mim a garra dessas duas, a inteligência e o privilégio de tê-las como exemplo. E nos dias que estou cansada e sem esperança, penso nelas e sinto meus problemas pequenos e a mim mesma grande. Vou nessa!

E cá da minha porteira hoje assisto minha filha de 20 anos buscar o seu caminho. Ela tem uma grande vantagem: sabe exatamente o que quer – e me surpreendo vendo o quanto! Atravessou o oceano só para ir a uma ótima escola, um tanto quanto alternativa. O privilégio lhe dá essa oportunidade, mas ela não a desperdiça, aprendendo na sala de aula com a mesma paixão que aprende fora. Acompanho com orgulho, mas posso dizer, ela também me serve de exemplo.

Vejo a vida como um jogo: cada um recebe certas cartas, resta decidir como jogá-las. As tuas decisões, a tua essência vêm dos exemplos que te cercam. E espero que você tenha a sorte de ter mulheres maravilhosas que te sirvam de exemplo como eu tive, para poder jogar bem as tuas cartas.

 

Com a primeira máquina da Tecelagem Santaconstância

A Nonna Gabriella já no Brasil

Minha mãe, Costanza Pascolato.

Minha filha, Allegra Barontini.

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