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Mônica Waldvogel dá o seu ponto de vista quanto às damas do contemporâneo!

Com Mônica em Florença

Com Mônica em Florença

Mônica Waldvogel é a consultora editorial do incrível projeto Costanza & Marilu.  Pedi a ela que me escrevesse sobre o que esta experiência traz a ela.  Aqui ela conta o seu ponto de vista quanto às damas do contemporâneo e as suas “sabedorias”…

Costanza e Marilu com Monica Waldvogel entrevistando!

 

                                              DUAS MUSAS

Que mulher nunca se largou no sofá, fechou os olhos e tentou se imaginar dali a vinte, trinta, quarenta anos? Quando meus cabelos estiverem completamente brancos, os contornos do rosto mais imprecisos e os gestos mais lentos, que aparência terei eu?

Vira e mexe, costumo me perguntar se estarei rechonchuda ou sequinha, como minha mãe? Os olhos ainda terão brilho? Que tipo de roupa usarei? Sobre que assuntos gostarei de falar? Serei nostálgica ou ainda estarei me divertindo com os acontecimentos?

Daqui onde estou, tomando um café nesse cantinho do refeitório do estúdio, observo as duas senhoras, uma em frente à outra, no centro da longa mesa de madeira. Aquele pensamento volta a me assaltar e, como percebo, é um tanto vertiginoso.

Em alguns minutos elas estarão sentadas diante das câmeras e, quando alguém gritar ‘gravando!’ terão de começar a performar uma arte que poucos dominam com excelência. A arte da conversa.

Costanza quase não come o almoço servido pela equipe. Ela veste uma calça preta justa, um blaser também preto,  os cabelos estão cuidadosamente armados e presos atrás com dois pentes. Uma porção de grampos enfileirados faz um arremate original na nuca. Os óculos escuros escondem o famoso risco de delineador que faria uma beleza mediterrânea parecer Cleópatra mas que, nela, ressalta os traços aristocráticos. Uma marquesa do século XIX encarnada num look do terceiro milênio.

Ela ouve com atenção a tagarelice de Marilu, uma animadora natural de qualquer ambiente, e ri gostosamente, baixinho. A amiga de tantas décadas está de vestido preto, usa sandálias de plataforma. O cabelo bordô esticado com gel está preso num coque baixo e as pálpebras pintadas de negro (eu ia dizer: como as asas da graúna, e é isso mesmo). As mãos sem esmalte gesticulam sem parar enquanto riscam o ar com seus enormes anéis, acompanhando o vai-e-vem dos longos brincos.  

Marilu fala alto, mas não escuto o que diz.  Nem sei do que ri Costanza. Não tem importância porque uma imagem vale mais que mil palavras, já disseram. Duas mulheres que já passaram dos setenta e tão diferentes entre si exibem para um grupo de pessoas a intimidade da vida compartilhada. Há ali tanto humor para os dramas por que passaram quanto uma boa dose de autodeboche para as tragédias experimentadas.

Elas são abertas para o mundo, dispostas ao trabalho, seguras de si,  confortáveis na própria pele.  Nelas não há traço de ressentimento, nem contas para acertar, ou dúvidas sobre por que são assim e não assado. O estilo elegantérrimo de uma interagindo com a extravagância da outra: é bonito de se ver.

Uma parece que desceu da tela para a vida real durante um filme do Visconti. A outra é puro Almodóvar.  Como não foram inventadas por diretores de cinema mas são o resultado de suas próprias criações,  Marilu e Costanza figuram como musas de carne e osso, panos e badulaques, movimentos e elaborações.

Sou uma sedimentação, diz Costanza.
Sou uma instalação, diz Marilu.  

Enquanto elas se descrevem com imagens tão precisas, eu, que gosto  das palavras, enxergo o punho com que elas redigiram suas vidas, sabedoras de que são nas linhas tortas que se escrevem as mais belas histórias.  

E se forjam os mais singulares estilos.

Como agora Costanza e Marilu têm um abecedário inteiro à disposição, sorte de quem possa se alfabetizar nessa língua que elas falam tão bem.  Com esse vernáculo, quem sabe, inventarei as respostas para o que quero ser quando também chegar lá.

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Mônica também escreveu sobre Marilu nesta crônica AQUI e do delineador de Costanza AQUI.

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