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Michelangelo é divino! Por Júpiter que é!

Um super texto de Luciene Felix Lamy contando tudo sobre o grande Michelangelo!!  É grande, mas vocês tem o fim de semana todo para dar uma olhada!  Obrigada Luciene!

A criação do Homem, por Michelangelo Buonarroti (1512). Capela Sistina, Vaticano. Roma. “Seus trabalhos o colocaram em um alto pedestal, o que o levou à visão do poder do artista como criador. Não foi à toa que ele, ainda em vida, foi chamado de ‘o Divino’ ”. Giorgio Vasari.

Amigos do Consuelo Blog, no Post desse mês abordamos o significado do posicionamento do planeta Júpiter (Zeus, na mitologia grega) também conhecido como “o grande benéfico” em nossos mapas e trazemos o DIVINO Michelangelo Buonarroti por seu contemporâneo, amigo e biógrafo Giorgio Vasari.

Eis o todo poderoso do Olimpo, Júpiter (Zeus). Ele é o 6º filho, o caçula de Saturno (Chronos) e Gaia (Rhéa). Seus irmãos são Nettuno (Poseidon), Plutão (Hades), Ceres (Deméter), Juno (Hera) e Vesta (Héstia). E seus filhos… Bem, são muitos os filhos de Deus, digo, de Zeus.

 

Confira abaixo em qual signo de SEU mapa o planeta Júpiter se encontrava quando você nasceu (Faça seu mapa AQUI). É aí que jorra a abundância, que está sua maior sorte na vida!

E, para saber exatamente em qual esfera da vida essa Fortuna se dá, basta consultar em qual Casa astrológica Júpiter se encontra. Lembre-se de que já abordamos TODAS as 12 Casas astrológicas aqui mesmo, no Consuelo Blog.

Planeta Júpiter.

Posição de Júpiter por signo: como o indivíduo procura crescer, progredir e ter confiança na vida.

Júpiter em Áries ♈ : procura crescer e progredir por meio da atividade autoconfiante e autoafirmativa. Precisa depender de sua própria iniciativa e energia para ter fé na vida – muitas vezes sua capacidade de liderança é bem desenvolvida. As oportunidades surgem por meio da liberação de energia com um único objetivo voltado para a experiência nova. A agressividade, força e desassossego em demasia podem levar a pessoa a exceder-se, a correr riscos exagerados e a deixar passar oportunidades de desenvolvimento pessoal. Tem compreensão inata da importância da coragem e da fé em si mesmo.

Júpiter em Touro ♉ : procura crescer e progredir por meio da produtividade, da firmeza e da confiabilidade. O impulso de união com uma ordem maior é satisfeito pela profunda valorização do mundo físico; sua sensualidade é extremamente desenvolvida. A tentativa de melhorar de vida unicamente através do dinheiro, das posses e do luxo pode levar a uma atitude excessivamente materialista e esbanjadora. Tem uma compreensão ampla e tolerante da natureza humana e das necessidades básicas de prazer. A fé na vida cresce com o contato com a natureza e com o modo simples de viver; expressa as qualidades mais nobres e generosas de Touro.

Júpiter em Gêmeos ♊ : procura crescer e progredir por meio da comunicação, do desenvolvimento de uma ampla gama de habilidades e do aprendizado irrestrito. A fé vem através da percepção imediata e da verbalização de todas as conexões; os interesses amplamente diversificados contribuem para dar sentido à vida. O otimismo às vezes é tolhido pela curiosidade instável e pelo excesso de raciocínio e preocupação. Precisa cultivar a inteligência e a capacidade de raciocinar a fim de sentir fé em si mesmo e na vida; seu impulso de ligar-se a uma ordem maior é racional e lógico. Tem compreensão inata da importância da boa comunicação; quer beneficiar os outros sendo uma fonte de informações.

Júpiter em Câncer ♋ : procura crescer e progredir pelo desenvolvimento dos valores da família e pelo apoio emocional. As oportunidades vem através da expressão da empatia protetora e da capacidade instintiva de cuidar dos outros. Precisa ser sensível aos sentimentos dos outros para ter confiança em si mesmo; essa sensibilidade emocional geralmente é bem desenvolvida. A confiança num poder mais elevado pode ser refreada pelo excesso de retraimento, temor ou autoproteção. Tem compreensão inata da necessidade humana de segurança, e em geral expressa o lado mais dadivoso e generoso de Câncer.

Júpiter em Leão ♌ : procura crescer e progredir por meio da atividade criativa, pela expressão desenvolta da exuberante vitalidade, e por meio do incentivo cordial e firme aos outros. O expansionismo é matizado pelo orgulho e pela necessidade de atenção e de autoconfiança das pessoas. A fé numa ordem superior pode ser tolhida pelo egoísmo e pela atitude arrogante e dominadora, mas em geral tem uma fé inata e inabalável na vida. A necessidade de causar impressão e ser reconhecido pelos outros leva à confiança em si; tem senso teatral bem desenvolvido e talento. Expressa a fé na vida como se esta fosse uma peça teatral; sente-se abençoado por estar desempenhando seu papel na vida, mas às vezes atribui a ele uma importância exagerada.

Júpiter em Virgem ♍ : procura crescer e progredir pela prestimosidade espontânea, pela conscienciosidade na prestação de serviços e pelo autodesenvolvimento sistematizado. Expõe-se humildemente à graça de um poder superior; confia, por natureza, na importância do trabalho assíduo e da autodisciplina. A necessidade expansionista de perfeição motiva sua abertura ao autoaperfeiçoamento. O excesso de atenção aos detalhes pode inibir a ligação com uma ordem maior, mas em geral tem um senso crítico bem desenvolvido, sem mesquinhez excessiva. Tem compreensão inata do modo de usar a própria capacidade de análise e discriminação.

Júpiter em Libra ♎ : procura crescer e progredir por meio de atitudes equilibradas e objetivas, equanimidade e maneira diplomática de agir. Sua fé aumenta com as atitudes equilibradas, imparciais, pela largueza de visão. As oportunidades surgem por meio dos relacionamentos íntimos e, em geral, a capacidade de realizar intercâmbios pessoais sinceros é bem desenvolvida. O impulso voltado para uma ordem maior se expressa pela partilha, pela cooperação e pelo incentivo aos outros – às vezes por meio da arte ou da beleza. A necessidade de examinar todos os lados de uma questão pode minar as ações expansionistas e confiantes e a firmeza das opiniões.

Júpiter em Escorpião ♏ : procura crescer e progredir pela transmutação dos desejos e compulsões, e pela compreensão invulgarmente completa da dinâmica da vida interior. As oportunidades vem através da sagacidade no julgamento de pessoas e situações – engenhosidade e senso de oportunidade bem desenvolvidos. O expansionismo otimista e o desenvolvimento da fé podem ser dificultados por medo, sigilo e pela incapacidade de se abrir emocionalmente; entretanto, Júpiter muitas vezes expressa as qualidades mais nobres e elevadas de Escorpião. O impulso para ligar-se a algo maior que o eu expressa-se pela intensidade de experiência e profundidade de sentimentos; a confiança num poder superior vem quando procura e encara essa intensidade. Precisa liberar sua poderosa energia transformadora para ter confiança em si mesmo.

Júpiter em Sagitário ♐ : procura crescer e progredir aspirando a metas longínquas e guiando-se por sua fé inata na vida. A confiança numa ordem maior é favorecida pela orientação otimista e filosófica. Precisa tirar proveito das oportunidades de fazer explorações internas e externas para evoluir. O expansionismo exagerado pode levar ao dispêndio excessivo de energia e a deixar passar as oportunidades imediatas. Tem a capacidade inata e bem desenvolvida de valorizar a importância da dimensão religiosa da vida.

Júpiter em Capricórnio ♑ : procura crescer e progredir pelo trabalho persistente, pela disciplina e pelo progresso constante. Precisa expressar as qualidades de autocontrole e conservadorismo confiante a fim de progredir; tem uma aura natural de autoridade que inspira confiança nos outros. O otimismo e o expansionismo podem ser derrotados pela postura excessivamente séria e temerosa. A fé e a confiança baseiam-se na realidade, na experiência e na compreensão inata do valor da história e da tradição. As oportunidades vem através da capacidade de ser confiável, responsável e paciente – qualidades que, em geral, são bem desenvolvidas.

Júpiter em Aquário ♒ : procura crescer e progredir através dos ideais humanitários, do desenvolvimento intelectual e das experimentações ousadas. O otimismo pode ser posto à margem pela postura excessivamente distante e descomprometida, mas em geral é generoso com os outros. Precisa sentir-se completamente independente do ponto de vista intelectual para ter plena confiança em si; tem, por natureza, uma atitude científica bem desenvolvida. Sua fé é excêntrica, individualista, não-ortodoxa e peculiar. Acredita na unidade de todos os homens e de todo o conhecimento, e é muito liberal em relação a um amplo leque de formas de liberdade de expressão.

Júpiter em Peixes ♓ : procura crescer e progredir vivendo os próprios ideais, expandindo sua solidariedade e grandeza de alma. Precisa ser compassivo e sensível para sentir fé em si mesmo. As iniciativas para satisfazer sua necessidade de autodesenvolvimento podem ser dificultadas por atitudes nebulosas e sem critério e pelo escapismo. A abertura à benevolência baseia-se na compaixão que sente em relação a tudo que sofre. Tem uma confiança bem desenvolvida num poder superior; entende a importância da devoção a um ideal e da abertura à dimensão espiritual das experiências.

Michele Agnolo – Anjo Miguel – Michelangelo…

Escultura de Michelangelo por Emilio Santarelli. Piazzale degli Uffizi, Florença.

“E eis que surge um artista, um homem de gênio extraordinário e dramático para sacudir com sua inquietação telúrica e terrível toda a arte renascentista e talvez toda a Europa: Michelangelo Buonarroti”. Adriano Colangelo.

O pisciano nasceu em Caprese em 6 de março de 1475. Certidão de Nascimento de Michelangelo. Casa Buonarroti, Florença.

Como já estudamos aqui, no ConsueloBlog, no início do Renascimento, uma obra ainda era composta por vários integrantes de uma oficina – entre seus mestres e aprendizes –, mas Michelangelo queria ser ele próprio o único autor e mentor de seus trabalhos.

Desde cedo já se mostrava inapto para cooperar com os outros alunos ou ajudantes, e mantinha um clima de tensão por onde passava. Sua postura individualista era um traço marcante de sua personalidade.

A independência e o individualismo não tinham se expressado de forma tão intensa em um artista até o indômito Michelangelo.

Vamos à análise das obras? Com vocês, as palavras de Vasari.

Buonarroti na obra de Vasari.

“Vidas dos Artistas” (1550), do florentino Giorgio Vasari: porque o Salotto merece.

“(…) os engenhos toscanos sempre estiveram entre os sumamente elevados e grandiosos, por serem muito dados ao trabalho e ao estudo de todas as faculdades, acima de quaisquer outros povos da Itália, quis esse mesmo Céu dar-lhe por pátria Florença, digníssima entre as outras cidades (…)”. Giorgio Vasari.

O autor nos informa que a família de Michelangelo, os Simoni sempre foram cidadãos nobres e honoráveis. O pai dele, Ludovico di Leonardo di Buonarrota Simoni tinha muitos filhos e, sendo pobre e tendo numerosa família para pequenos proventos, pôs os outros filhos no aprendizado de alguns ofícios, enquanto Michelangelo já na infância se aplicava a desenhar em papeis e muros.

Ludovico levou o menino ao pintor Domenico Ghirlandaio que, encantado com os desenhos que viu, se dispôs a ficar com ele, empregando-o pelo prazo de três anos com um salário justo e honesto.

Cresciam a virtude artística e a pessoa de Michelangelo de tal maneira que Domenico se assombrava ao vê-lo fazer coisas que de ordinário os jovens não fazem, parecendo-lhe que ele não só superava seus outros discípulos, que eram numerosos, mas também se equiparava ao próprio mestre em muitas coisas.

Igreja de Santa Maria Novella, Florença.

Quando Domenico trabalhava na capela-mor de Santa Maria Novella, certo dia em que estava ausente, Michelangelo se pôs a retratar o andaime com algumas mesas, todo material da arte e alguns jovens que ali trabalhavam. Domenico, ao voltar e ver o desenho disse: “Ele sabe mais que eu”.

Lorenzo de Medici por Giorgo Vasari.

Em 1480, desejando criar uma escola de pintores e escultores, Lorenzo de Medici, que tanto amava as artes, adquiriu um jardim em frente à Igreja de San Marco e pediu a Ghirlandaio que enviasse ao jardim os jovens de sua oficina que por ventura tivessem tais inclinações, pois lá desejava exercitá-los e formá-los de uma maneira que o honrasse e à sua cidade.

Michelangelo fez então algumas esculturas de barro e Lorenzo, vendo tão belo espírito, sempre depositou grandes esperanças nele. Depois de alguns dias, encorajado, Michelangelo tomou um pedaço de mármore e começou a copiar um busco antigo que ali havia.

Lorenzo, muito contente, festejou o feito e determinou que ele deveria receber proventos de cinco ducados por mês, tanto para ajudar o pai quanto por incentivo, e, no intuito de alegrá-lo, deu-lhe um manto violáceo e, ao pai, um cargo na aduana.

Em mármore, esculpiu a “Batalha dos Centauros” (está na Casa Buonarrotti), inspirada no livro Metamorfoses, de Ovídio. A perfeição do contorno e o volume dos corpos contorcidos só foi conseguida graças a seus estudos de anatomia que, assim como fazia seu contemporâneo Leonardo, eram realizados através da dissecação de cadáveres.

Sua pesquisa era minuciosa, cada descoberta era anotada em um caderno como texto e desenho. O artista queria descobrir como era o funcionamento do corpo, chegando à lógica de seus movimentos e expressões.

Tondo Doni. Galleria degli Uffizi, Firenze

Agnolo Doni, rico mercador florentino, que se casou com Maddalena Strozzi, era amigo de Michelangelo e, segundo Vasari, muito se deleitava com a posse de coisas belas. Para ele, Michelangelo fez um medalhão onde pintou Nossa Senhora que, ajoelhada sobre as duas pernas, levanta um menino nos braços e o estende a José, que o recebe.

Tondo Doni detalhe Maria. Galleria degli Uffizi, Firenze.

Na posição da cabeça da mãe de Cristo e no seu olhar para a suprema beleza do Filho, Michelangelo mostra seu maravilhoso contentamento e a emoção de participá-lo àquele santíssimo velho.

Tondo Doni detalhe Jesus. Galleria degli Uffizi, Firenze.

Este, com igual amor, ternura e reverência, toma-o sem hesitação, como tão bem se percebe em seu rosto. Não bastasse isso, para mostrar mais ainda que sua arte era grandiosa, Michelangelo fez ao fundo muitos nus [ignudi] apoiados, em pé e sentados; e trabalhou a obra com tanta diligência e esmero, que entre suas pinturas em painel, ainda que poucas, essa é considerada a mais bem-acabada e bela.

Baco de mármore (1497). Museu Nacional de Bargello, Florença.

O Baco é de tamanho maior que o natural, com um sátiro perto, no qual se percebe ter ele desejado certa mescla surpreendente de membros, ao aliar, em especial, a esbeltez da juventude masculina com a carnosidade e a rotundidade da mulher: coisa admirável, em que mostrou ser mais excelente na escultura do que qualquer outro moderno até então conhecido.

Piedade (Pietà). Basílica de São Pedro, Vaticano. Roma. Sua primeira obra-prima, finalizada em 1499, quando o rapaz tinha apenas 23 aninhos.

Não acredite nenhum escultor ou excelente artista ser capaz de acrescentar algo a essa obra em matéria de desenho e graça, nem pense que, trabalhando, obteria com tanta arte o mesmo acabamento, esmero e cinzeladura do mármore que Michelangelo obteve, pois nessa obra se percebe todo o valor e o poder da arte.

Pietà rosto de Maria

Adriano Colangelo diz que na poderosa Pietà, do Vaticano, ele revela uma linguagem autônoma e extremamente segura, na qual o drama da deposição revela tragicamente os últimos estertores de uma dor que no Cristo se fixa no abandono da morte, enquanto a Mãe observa, com uma desolação contida pela resignação e com um último trágico olhar de despedida, o corpo sem vida do Filho.

Piedade (Pietà) vista de cima. Basílica de São Pedro.

Entre suas coisas belas, além do divino panejamento, mencione-se o Cristo morto; e que ninguém acredite jamais vir a contemplar um nu tão divino pela beleza dos membros e pela maestria do corpo, não havendo morto que mais se assemelhe àquela morte.

Pietà detalhe Cristo

Suavíssimo semblante, harmonia entre os músculos dos braços, do corpo e das pernas, pulsos e veias trabalhados, tudo isso se vê, e causa admiração e assombro o fato de um artista ter logrado fazer de modo tão apropriado e em pouquíssimo tempo algo tão divino e admirável; pois é decerto milagre que uma pedra de início sem forma alguma tenha sido levada à mesma perfeição que a natureza.

O amor, aliado ao trabalho de Michelangelo, teve tanta força nessa obra, que ele inscreveu seu nome no cinto que cinge o peito de Nossa Senhora, coisa que não fez em nenhuma outra, como se quisesse mostrar que se sentia satisfeito e contente consigo.

Piedade (Pietà) assinatura.

Com isso ele granjeou grande fama. Se bem que alguns, mais tolos que outra coisa, dizem ter ele feito Nossa Senhora jovem demais, não percebendo e não sabendo que as pessoas virgens, não contaminadas, se conservam e mantém a expressão do rosto sem mácula por muito tempo, ao passo que com os aflitos, como foi Cristo, ocorre o contrário. Por todas essas coisas, cresceram mais a glória e a fama de sua arte que por todas as outras anteriores.

Davi jovem. Inspirado no semideus Hércules (Heracles), Davi impressiona pela dimensão e pelo realismo de seu corpo que traz detalhes dos músculos, veias, cabelos e unhas saltando aos olhos. Encomendado em 1501 e terminado em apenas dois anos.

A qualidade e a originalidade de suas obras já eram notáveis, mas a consagração de Michelangelo e o respeito como grande mestre foram alcançados quando a cidade de Florença foi declarada República, e o artista chamado de volta para executar a escultura de Davi, símbolo cívico patriótico.

Adriano Colangelo diz que, despontando rapidamente como um gênio imenso, Michelangelo mostra que em seus trabalhos de escultura, na juventude, ressentiu notavelmente a influência, por sinal muito salutar para a sua educação artística, da melhor forma da estatuária grega e romana: isto pode-se perceber sobretudo no imponente Davi.

Buonarroti Davi face. Segundo os estudiosos, Davi tem a peculiaridade de ser calmo e tenso ao mesmo tempo.

Michelangelo deu início ao trabalho onde fez um tapume de alvenaria e madeira ao redor do mármore e, trabalhando ininterruptamente, sem ser visto por ninguém, [aos 26 anos] terminou tudo perfeitamente.

Ele vinha de uma estadia de muitos anos em Roma e ficará fortemente impressionado com os corpos musculosos e cheios de emoção da escultura helenística (grega).

Colocado na Piazza della Signorina, em frente ao palazzo Vecchio, em 8 de setembro de 1504. Para isso alteraram a lei, que proibia estátuas nuas em locais públicos.

E, como o mármore outrora mutilado e avariado por mestre Simone em alguns lugares não parecesse capaz de servir àquilo que Michelangelo tinha vontade de fazer. Sem dúvida foi um milagre Michelangelo ter recuperado aquilo que era dado por perdido.

Depois de fixada na alvenaria e terminada, foi dada a público e realmente sobrepujou em fama todas as estátuas modernas e antigas, gregas e latinas, tais foram a proporção, a beleza e a qualidade com que Michelangelo a fez.

Retrato do papa Júlio II (1511/12) por Rafael Sanzio (o maior e mais ambicioso dos papas do Renascimento). National Gallery, Londres.

Michelangelo ficou tão famoso pela Pietà [do Vaticano] e pelo gigante [Davi] de Florença que o pontífice Júlio II decidiu pedir-lhe a execução da sepultura e, chamando-o de Florença, conversou com ele e deliberam juntos realizar, para memória do papa e como testemunho da virtude de Michelangelo, uma obra que em beleza, soberba e invenção superasse toda e qualquer sepultura imperial antiga.

Apresentando Moisés.

Estátua à qual nenhuma obra moderna jamais se equiparará em beleza, podendo-se dizer o mesmo sobre as antigas, pois ele, sentado em atitude austera, pousa um dos braços sobre as tábuas que segura com uma das mãos, enquanto a outra cofia a barba, que é bem penteada e comprida, executada no mármore de tal sorte, que seus pelos – coisa que tanta dificuldade oferece em escultura – se mostram finíssimos e fofos, macios e desfiados, parecendo impossível que o ferro se tenha transformado em pincel; sem falar da beleza do rosto, que tem a expressão do verdadeiro santo e do príncipe temível, a tal ponto que quem o olha sente vontade de pedir um véu para cobrir-lhe a face, tão esplêndida e luminosa se mostra ela.

Moisés (1514-17). Igreja de San Pietro in Vincoli, em Roma.

Moisés entre Rachel (Vida contemplativa) e Lia (Vida ativa).

Tão bem retratada no mármore está a divindade que Deus lhe pusera no sagradíssimo rosto, tão bem cinzelado é o panejamento e bem acabado o seu belíssimo movimento, são tais a beleza e a perfeição dos braços e seus músculos, tão bem executadas as mãos com a ossatura e os nervos, assim como as pernas, os joelhos e os pés, acomodados estes em tão bem-feitos calçados, enfim, tão bem-acabado é todo o trabalho, que Moisés, hoje mais do que nunca, pode ser chamado amigo de Deus que, pelas mãos de Michelangelo, quis unificar seu corpo e prepará-lo para ressurreição antes de todos os outros; e continuem os judeus homens e mulheres, a visitá-lo e adorá-lo em bandos, como fazem todos os sábados, pois não adorarão coisa humana, e sim divina.

Moisés detalhe fronte.

Segundo o estudioso Adriano Colangelo, crescendo em linguagem, que Michelangelo domina totalmente, e na visão do mundo, que apodera-se de sua mente, ele cria uma série de obras realmente excepcionais, tais como o terrível Moisés, de uma intensidade dramática nunca igualada.

 

Fachada da Igreja de San Lorenzo de Florença. Reedificada por iniciativa de Cosimo, o Velho, com base em projeto de Brunelleschi sempre fora objeto de atenção por parte dos Medici. A fachada de San Lorenzo foi encomendada a Michelangelo em 19 de janeiro de 1518.

Michelangelo decidiu fazer um modelo (Museu da Casa Buonarroti) e não quis participação de ninguém mais, como superior ou orientador da arquitetura.

Abóbada da cúpula de San Lorenzo de Florença.

Feita por Michelangelo, que ali se vê, trabalhada com várias composições; encomendou ao ourives Piloto uma esfera de 72 faces que é belíssima.

Sepultura do duque Lorenzo. Igreja de San Lorenzo de Florença.

Colangelo diz que voltando para Florença ele inicia um trabalho notável de escultura, onde a costumeira potência expressiva é, desta vez, dosada em função dos motivos arquitetônicos; estamos nos referindo as Tumbas de Lorenzo (acima) e Giuliano de Medici (abaixo). Estas estão nas Cappelle Medicee.

Sepultura de Giuliano (terceiro filho de Lorenzo, o Magnífico). Igreja de San Lorenzo de Florença.

Neste trabalho monumental que não teve oportunidade de terminar, Michelangelo consegue frear a sua explosão criativa para melhor unir os elementos plásticos da arquitetura com as estátuas: de fato as figuras, sem perder a força expressiva, se recolhem visualmente num ritmo, cujo escandimento harmoniza-se claramente com as molduras da própria tumba, como também os arcos falsos formando configurações geométricas que se casam numa clara visão de conjunto.

Segundo Vasari, muito assombro causou o fato de, ao conceber as sepulturas do duque Giuliano e do duque Lorenzo de Medici, ele ter imaginado que só a terra não bastaria para dar sepultura honrosa à grandeza destes, mas quis que todas as partes do mundo ali estivessem, de tal modo que os sepulcros eram ladeados por quatro estátuas: em um, a Noite e o Dia (Giuliano); em outro, a Aurora e o Crepúsculo (Lorenzo).

Crepúsculo.

Essas estátuas são trabalhadas com belíssimas atitudes, sendo grande a maestria com que foram esculpidos os músculos, de tal modo que, caso a arte se perdesse, estariam aptas a fazê-la voltar à luz primeva.

Aurora no túmulo.

Que dizer da Aurora, mulher nua capaz de suscitar a melancolia da alma e desnortear estilos em escultura? Em sua atitude percebe-se o solícito e sonolento despertar, quando ela, ao se desvencilhar das plumas, parece ter encontrado fechados os olhos daquele grande duque. E por isso se retorce com amargura, lamentando-se em sua imperceptível beleza e dando sinais de grande dor.

Lorenzo meditativo no túmulo.

Entre outras estátuas, estão aqueles dois capitães armados. Um é o meditativo duque Lorenzo, em cujo semblante se vê tanta sapiência; suas belíssimas pernas são feitas de tal modo, que nossos olhos não podem ver nada melhor.

Giuliano no túmulo.

Eis acima, o duque Giuliano, tão altivo na cabeça, no pescoço, nas órbitas dos olhos, no perfil do nariz, na fenda da boca, nos cabelos divinos, nas mãos, nos braços, nos joelhos e nos pés; em suma, tudo o que ali ele fez é de feição a jamais cansar nem saciar os olhos. Realmente, quem olha a beleza dos calçados e da couraça acredita-o celestial, e não mortal.

Buonarroti Perfil de Lorenzo. A fé de Michelangelo na imagem do homem como veículo supremo de expressão deu-lhe um sentido de afinidade com a escultura clássica que não seria superado por nenhum outro artista do Renascimento, afirmam H.W. Janson e Anthony F. Janson em “Iniciação à História da Arte”.

Noite no túmulo.

E o que dizer da Noite, estátua única e rara? Quem terá em algum século jamais visto estátuas assim, antigas ou modernas? Nela podemos perceber não só a quietude de quem dorme, mas a dor e a melancolia de quem perde algo honroso e grandioso.

É de acreditar ser essa a noite que obscurece todos aqueles que em qualquer tempo acreditem equiparar-se a ele na escultura e no desenho, que dirá ultrapassá-lo. Nessa estátua, percebe-se a sonolência que há nas imagens adormecidas.

Poema de Giovan Battista di Lorenzo Strozzi, chamado o Velho (1517-70):

La Notte che tu vedi in sí dolci atti
Dormir, fu da uno angelo scolpita
In questo sasso; e perché dorme, ha vita:
Destala se no ‘l credi, e parleratti.

“A noite que vês tão suavemente / a dormir foi por um anjo esculpida / nesta pedra; e porque dorme tem vida: / desperta-a se não o crês, e ela te falará”.

E a isso, personificando a Noite, Michelangelo respondeu assim:

Grato mi è il sonno, e piú l’esser di sasso
Mentre che il danno e la vergogna dura,
Non veder, non sentir mi è gran ventura:
Però non mi destar, deh parla basso.

 “Gosto do sono, mais ainda se de pedra / Ao passo que o dano e a vergonha dura / não ver e não ouvir é grande ventura: / Por isso, não me acordes, ai, fala baixo”.

O dia. O dualismo corpo e alma é expresso com inesquecível grandiosidade através do aspecto meditativo e ameaçador do Dia.

Apolo a retirar uma flecha da aljava. National Gallery, Londres.

Excelente fado o dos artistas que nasceram neste século e encontraram já rasgado o véu das dificuldades de tudo o que possa ser feito e imaginado na pintura, na escultura e na arquitetura.

Piedade da Marquesa de Pescara (Vittoria Colonna). Museu Gardner de Boston.

Mas por que estou eu aqui a vagar de coisa em coisa? Basta dizer apenas que onde quer que ele tenha posto sua divina mão tudo ressuscitou e ganhou vida eterna.

Vitórias nuas. Palazzo Vecchio, Florença.

Escravo moribundo (1513/15). Museu do Louvre, Paris.

Colangelo afirma que na obra acima ele fixa, com uma síntese e plasticidade de gestos realmente fantásticos, os últimos movimentos de uma vida que está prestes a fugir de um corpo em agonia, sobretudo neste do museu do Louvre de Paris; nesta obra (por sinal, em mármore, como praticamente todas as outras), Buonarroti exterioriza todo o drama do homem em eterna luta com a matéria, com a vida da qual ele não quer se desprender, mesmo dominado pela dor, a feroz companheira do ser humano; visão humaníssima, quase autobiográfica do autor.

Crucificação de São Pedro (1545-50), em que Cristo lhe dá as chaves. Capela Paolina, Vaticano, Roma.

Nas ações de Michelangelo sempre se viu religião; neste último caso, seu exemplo era admirável, pois ele fugiu o máximo que pôde da frequentação das cortes, cultivando a amizade apenas daqueles que, pelo trabalho, precisassem dele, ou daqueles que se via obrigado a amar pelas muitas virtudes que tinham.

Conversão de São Paulo (1542-45). Capela Paolina, Vaticano, Roma.

Michelangelo, dizem H.W. Janson e Anthony F. Janson, exemplifica mais plenamente que qualquer outro artista o conceito de genialidade como inspiração divina, um poder sobre-humano concedido a poucos e raros indivíduos, e que atua através deles.

Cristo crucificado. Crucifixo (1492) realizado aos 17 anos. Sacristia da Basílica de Santo Espírito, Florença.

(Cristo com cruz santa Maria sopra Minerva). Cristo redentor (1519/20). Igreja de Santa Maria sopra Minerva, Roma.

Ainda segundo os autores acima citados, as convenções, os padrões e as tradições podiam ser observados pelos espíritos menores; ele, no entanto, não podia reconhecer nenhuma autoridade superior àquela que lhe era ditada por sua genialidade.

Pietà palestrina. Pietà da Catedral de Santa Maria Del Fiore, Florença.

Michelangelo sempre ajudou os parentes com honestidade, mas nunca cuidou de tê-los por perto. Também cuidou pouquíssimo de ter em casa artistas do mesmo mister, mas sempre que pôde ajudou a todos. Sabe-se que nunca criticou as obras alheias, a não ser depois de ter sido espicaçado ou ferido.

Para príncipes e cidadãos privados fez muitos desenhos de arquitetura, como da igreja de Santa Apollonia de Florença, da qual uma das freiras era sua sobrinha.

E quem lhe tiver atribuído excentricidade e estranheza por afastar-se da convivência com os outros deverá escusá-lo, porque realmente se pode dizer que quem quiser atingir a perfeição nesse mister será obrigado a fugir dela, pois a arte exige pensamento, solidão e comodidade, e não uma mente que vaga e se desvia no comércio humano.

Assim, ele não falhou perante si mesmo e com seu trabalho deu grande proveito a todos os artistas; sempre ornou sua virtude com honrosas vestes; sempre gostou de belíssimos cavalos porque, tendo nascido de nobres cidadãos, manteve a categoria e mostrou seu saber de maravilhoso artista.

cornija do Palácio Farnese. Campo di Fiore, Roma. É também de Michelangelo a cornija do Palazzo Farnese, no Campo di Fiore, Roma.

No que se refere à Construção de São Pedro, Michelangelo teve o cargo de arquiteto da Basílica em 1º de janeiro de 1547, quando já elaborava um projeto desde o mês anterior (projeto d cruz grega, segundo a primeira ideia de Bramante), que estava terminado em setembro de 1547. Quanto à cúpula, abandonou a inspiração no Panteão e voltou-se mais para a cúpula de Brunelleschi. Depois de sua morte, a obra foi continuada por Vignola, Pirro Ligorio e Dalla Porta e Fontana.

Cúpula da Basílica de São Pedro, Roma. Na arquitetura, sua principal obra foi a Basílica de São Pedro, cuja cúpula representava o poder da Igreja no mundo, mas infelizmente não foi concluída antes de sua morte.

Por Colangelo, sabemos que sente-se o esforço titânico, que é todo dele como homem e como artista, de se libertar, de se projetar num mundo ideal que a matéria impede de alcançar. Quem sabe se o gênio italiano não quis intencionalmente deixar de terminá-las, para legar a humanidade um testamento dramático, mas poderoso, cuja mensagem é a eterna luta do homem com a vida e seus ideais, num incomparável e corajoso canto de despedida, que encerra a obra de arte deste fabuloso gênio com a cúpula de S. Pedro no Vaticano.

Nela o autor florentino eleva uma oração ao Universo que sintetiza admiravelmente todo o homem e o artista que ele foi; o volume, a plasticidade, a luz e a sombra convergem com o impulso ascensional do ritmo arquitetônico, para um vértice, para um cume que se acalma no equilíbrio do conjunto.

interior da Basílica de São Pedro.

Interiormente a cúpula é o triunfo da harmonia geométrica, na qual formas redondas, retangulares e triângulos se apoiam entre si como um sistema solar, onde as forças gravitacionais e a unidade na diversidade representam um equilíbrio vivido, alcançado do microcosmo-Michelangelo em relação ao macrocosmo da vida que ele tanto interrogou e compreendeu no fim de sua longa, atormentada e gloriosa caminhada.

Michelangelo por Danielle de Volterra (1553).

Sofrendo de uma forte febre, aos 89 anos, Michelangelo Buonarrotti morre em Roma, como um dos maiores artistas da história.

Mesmo após a sua morte, em 19 de fevereiro de 1564, o artista continuou gerando polêmica pela sua forte personalidade: ao contrário do desejo do Papa Pio VI, que era de enterrá-lo em Roma, seu corpo foi levado [escondido] para Florença, pois ele o havia assim estipulado em um testamento.

Igreja de Santa Croce, Florença.

Michelangelo foi enterrado na Igreja de Santa Croce, em Florença, onde até hoje está seu túmulo, projetado por Giorgio Vasari.

Túmulo de Michelangelo por Vasari. Para ele, Vasari desenhou um busto do mestre, acima de uma escultura de três mulheres chorando, com os dizeres: “arquiteto, pintor e escultor; o que diz muito pouco sobre o grande artista que foi”.

Túmulo por Vasari.

Vasari: Como disse, o Céu o mandou (Michele Agnolo) aqui embaixo para servir de exemplo na vida, nos costumes e nas obras, para que aqueles que se miram nele, imitando-o, possam aproximar-se da eternidade por meio da fama, da natureza por meio das obras e do estudo e do Céu por meio da virtude, do mesmo modo que ele sempre foi motivo de honra para a natureza e para o céu.

Michelangelo Buonarroti em bico de pena num medalhão.

E que ninguém se admire por ter eu [Giorgio Vasari] descrito a vida de Michelangelo, estando ele ainda vivo, pois, como se espera que ele nunca morra, pareceu-me conveniente contribuir um pouco para sua honra; e embora ele venha a abandonar o corpo como todos os homens, suas obras imortais nunca encontrarão a morte: enquanto o mundo existir, a fama delas viverá sempre gloriosíssima nas palavras dos homens e nas plumas dos escritores, malgrado a inveja e o despeito da morte.

 

Dedico esse post à querida amiga Consuelo, em comemoração a sua “Bodas de Prata” sob a magia desse solo pois, parafraseando Vasari: “(…) quis esse mesmo Céu dar-lhe por pátria Florença, digníssima entre as outras cidades (…)”. Que bom que você existe donzela. Existe em Florença, existe no mundo e “ilumima” nossos corações com sua generosa autenticidade, ousadia e coragem. Coisas de quem nasceu com Júpiter em Áries: “Tem compreensão inata da importância da coragem e da fé em si mesmo”. No fear: como o cordeiro és protegida, donzela!

Bem, espero que tenham apreciado, amigos. E, ainda sobre Michelangelo, será que esqueci de alguma coisa? Ah, de reiterar o convite para nosso curso de SETEMBRO em Roma, pois desconfio que haja mais do DIVINO Michelangelo nos aguardando por lá.  Será fantástico!! Conhecer a Toscana em seu melhor período explorando a sua arte!!  Quem vem?  Link AQUI.

Indico o maravilhoso vídeo abaixo (num italiano de fácil inteligibilidade), fidelíssimo à obra de Giorgio Vasari. Vale a pena!

Acima, além de Vasari, a bibliografia consultada para esse post.

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