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Escutar é urgente!! por Cris Zanferrari

O Golden Gate Bridge em São Francisco.  Foto de Cris Zanferrari

O Golden Gate Bridge em São Francisco. Foto de Cris Zanferrari

Mais um texto maravilhoso da nossa amiga do salotto Cris Zanferrari.  Esse mexeu demais comigo!!  Quantas vezes me encontro conversando com alguém e logo querendo interromper para contar o meu lado da história ou o que aconteceu comigo!  Eu, eu, eu!!  Ou a cabeça enterrada no celular!!  É tão bom lembrar, às vezes, a importância de escutar!!   Além de salvar vidas, pode fazer feliz alguém que você ama!

Escutar é urgente

Por Cris M. Zanferrari
Quem alguma vez já atravessou a pé a mais famosa das pontes americanas, a Golden Gate, deve ter se surpreendido com os telefones públicos, ao longo do trajeto, com uma finalidade única: aconselhamento emergencial para momentos de crise, ou, em bom inglês, “Crisis Counseling: there is hope/make the call”. Explica-se: o mais belo postal de San Francisco é também o local preferido por suicidas das mais variadas faixas etárias. Mais de 1.300 pessoas dali saltaram para a morte. Contra tamanho desespero humano, o que pode um telefone, afinal?
Pode muito. Basta imaginar que do outro lado do aparelho haverá alguém capaz de ouvir, com genuína preocupação, os dramas e tormentos de quem faz a ligação. O que não é pouca coisa. Sim, porque escutar é uma arte em franco esquecimento nos dias de hoje. Olhe ao seu redor. A tagarelice ocupa lugar no ônibus, na cafeteria, no escritório, na academia, e, claro, nas redes sociais. Todo mundo tem o que contar o tempo todo. Todo mundo anseia por ser ouvido. Mas quem é que está _ verdadeiramente_ disposto ou disponível para ouvir?
É um desafio escutar alguém sem querer interrompê-lo, sem querer completar uma frase, sem pensar em outras coisas, sem demonstrar impaciência, sem nos distrairmos. Nossa ansiedade antecipa a palavra do outro, e antecipa, assim, a própria vida. Mal nos damos conta de que negócios se desfazem, amizades se desfazem, casamentos se desfazem, vidas se desfazem, porque alguém não escutou.
Escutar é coisa séria. E urgente.
Mikhail Bakhtin, famoso pensador russo, afirmou ser a palavra uma espécie de ponte lançada por alguém em direção a outrem. Ora, se a finalidade de uma ponte é estabelecer uma ligação de um lado a outro, a palavra é o que nos liga, nos aproxima, nos conecta uns aos outros. Certo? Sim, mas a palavra dita só alcançará o outro lado se for ouvida. Do contrário, jamais chegará a ser ponte. Nem elo. Muito menos salvação.
Faça um exercício: experimente ouvir alguém, uma pessoa qualquer. Comece por fixar seu olhar nos olhos dela. Resista heroicamente à tentação de, enquanto ela fala, pensar que outra vez esqueceu de marcar o dentista, lembrar que tem de buscar o cachorro na pet shop, passar na lavanderia, ligar para sua mãe, comprar shampoo. Resista a acelerar o final da conversa, a precipitar a despedida, a desfazer o contato visual. Resista, sobretudo, a sacar do celular para checar novas mensagens ou o que quer que seja. Depois, no uso da mais absoluta sinceridade, responda: quanto tempo durou sua resistência?
Ser um bom ouvinte é um exercício de desprendimento, de entrega, de doação. O bem mais precioso que podemos ofertar a alguém é algo que nos é raro e caro: o nosso próprio tempo. Escutar de verdade, pra valer, é algo que se faz sem pressa, como qualquer outra coisa que se faça com prazer, na qual se ponha, além do tempo, o coração.
Só em 2013, mais de 100 pessoas foram poupadas de fazer parte da triste estatística da Golden Gate. Mais de 100 pessoas foram devolvidas à vida porque alguém as escutou. Prova de que escutar alguém com profunda e sincera atenção e com genuíno interesse é, por si só, uma demonstração de afeto e de resposta. E uma resposta assim, nos dias de hoje, já é quase um abraço.

Me permiti de sublinhar o que mais achei importante… “um ato de entrega, de doação…” lágrimas…

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