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Dançamos conforme a música?…mais palavras sábias da nossa colaboradora Cris Zanferrari

aqui é alto anos não ouço o c(h)oro dos sapos Paulo Leminski Foto de Cris Zanferrari

aqui é alto anos não ouço o c(h)oro dos sapos Paulo Leminski
Foto de Cris Zanferrari

Felicidade de ser

Por Cris M. Zanferrari (sigam seu Insta, Prosapoesia)

“Felicidade é podermos ser quem somos e apaziguarmo-nos com isso”. Pincei essa frase da entrevista do escritor Valter Hugo Mãe no programa Roda Viva dias atrás. Fez-me pensar. Aliás, a entrevista toda o fez, porque Mãe é um desses geniais escritores que fala como quem narra uma história da qual queremos sempre mais.

Mas o que a frase do premiado escritor tem de tão especial? Bem, digamos que ser quem se é requer um mínimo de ousadia e um outro tanto de autoconhecimento. Não é fácil ser quem somos o tempo todo. Ou alguém aí tem coragem de dizer um sonoro não mais de uma vez ao dia? Somos levados pelas circunstâncias e pelos papéis sociais que desempenhamos a dizer sim quando queremos dizer talvez, a ir quando o desejo é ficar, ou a ter de ficar quando o desejo é partir. Somos demasiado preocupados com a opinião alheia, ou então não nos ocuparíamos tanto com as redes sociais. Somos ansiosos, estressados, deprimidos. Atuamos conforme o script, dançamos conforme a música, cantamos ao som do que está na moda. Somos, neste mundo mutante, quem nos cabe ser.

Mas então, subitamente, num universo paralelo, acaso fossem dispensadas as convenções, inexistentes as circunstâncias, absolvidos os papéis sociais, descaídas as máscaras, poderíamos finalmente nos deparar… com quem? Com quem? Ah, sim… livres de quaisquer amarras, quem somos nós, afinal?

Como se vê, se a felicidade é poder ser quem somos, descobrir-se passa a ser um exercício diário de autoanálise. Quem somos nós quando estamos a sós, quando não há espectadores, quando a única pessoa a quem devemos satisfação ou a quem podemos agradar é efetivamente o nosso eu? Quais são nossas preferências, nossos ascos, nossas dores, nossas delícias? A quantas anda, enfim, o conhecimento que temos de nós mesmos?

Se conhecer a si mesmo_ lição que vem dos gregos_ já é difícil, o que dirá convivermos em paz com a descoberta de quem realmente somos. Aliás, fosse essa uma tarefa fácil, inúmeros consultórios médicos e psiquiátricos estariam, muito provavelmente, a esvaziar-se. Ao descobrir quem somos, acabamos por querer sermos mais: mais bonitos, mais esbeltos, mais inteligentes, mais articulados. Tudo bem. Não há nada de errado em querermos ser melhores, desde que seja por uma vontade de humanização, e não por ditames sociais. Mas daí a chegarmos a estar em paz é outra história.

Estar apaziguado com quem se é requer uma boa pitada de humildade e uma dose generosa de aceitação. É preciso mesmo muita humildade para aceitar que somos apressados, descuidados, desumanos. Que somos injustos, invejosos, insatisfeitos. Que ofendemos, odiamos, e não toleramos. Que somos, não raras vezes, sem limites, sem paciência, sem noção. Sentir-se apaziguado sendo quem somos é aceitar que somos como os traços de uma pintura ‘em-se-fazendo’: imperfeitos, incompletos.

Até aí tudo bem. Mas que não se confunda aceitação com acomodação. Somos o que somos. Somos_ tudo considerado_ o que podemos ser. E também o que fazemos. “Mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.”

Na viva roda da vida, portanto, habitarmo-nos de nós mesmos pode se revelar uma experiência comparável à da leitura de uma obra do aclamado Mãe: sensível, doce, poética, e, sobretudo, única.

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A nossa Cris!  E de sua filha que tirou esta foto.

Somos “imperfeitos, incompletos”!!!  Ahhhh!!! Que alívio!!

 Sempre digo que sou meu pior inimigo… e sempre tento “domar os meus demônios”.  É uma batalha diária.  Porém, aceitar que nunca serei completamente magra, ou rica, ou perfeita, é um alívio!  Mas desistir de buscar algo mais próximo à perfeição, NUNCA!!  Êta karma de capricórnio!!  

Obrigada Cris!!

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