moda | estilo | viagens | afins | Consuelo Blocker

Damos pouco valor ao que é grátis?…


Semana passada neste post AQUI, falei da importância de ler no processo de encontrar a felicidade e seu valor. Ilustrei o post com lindas fotos de Steve McCurry retratando pessoas absorvidas na leitura.  Fugimos do mundo real nestes momentos de intimidade com as páginas.  Lembro quando estava me separando do meu marido, me jogava na leitura.  Me salvava nela, sem remédios e sem choro.  Me dava tempo de recuperar as forças em um dos momentos psicológicos mais difíceis da minha vida (tem outro post AQUI onde respondo se tem vida após o divórcio...o que vocês acham?).

 Cris, nossa querida colaboradora frequente, ama a leitura.  Acho até que é mais que isso.  Para ela é oxigênio… é vital.  Seus textos sensíveis expressam essa relação amorosa com a palavra (se ainda não leram o post Mãe Rivotril, que se tornou viral com mais de 210 mil views (!!), vejam AQUI).  Ela escreveu um capítulo sobre a importância da leitura no livro Envelhecimento Humano.  Como presente para o fim de semana, este capítulo está na forma de pdf no final do post!!  E aqui está a introdução por Cris M. Zanferrari e mais fotos de Steve McCurry! Divirtam-se! 

Cris também tem o seu blog, Mania de Citação

FELICIDADE ACESSÍVEL

Cris M. Zanferrari

Poucas, pouquíssimas coisas nesta vida são de graça: abraços, festa nos cabelos, sorrisos, olhos nos olhos, pequenas ternuras e gentilezas. E porque são totalmente gratuitas, temos uma inclinação a não lhes dar o devido valor. Acontece com muitas coisas, e é o que acontece também com a leitura. Livros, por exemplo, são incrivelmente acessíveis. Estão aí: nas escolas, nas bibliotecas públicas, na casa de amigos, na nossa própria estante. Chegam até nós, no mais das vezes, por um empréstimo, por doação ou em forma de presente. Aliás, quem presenteia com livros faz mais do que dar um presente, faz-se a própria presença. Ofertar um livro é ofertar uma companhia, é iniciar um diálogo, é promover um encontro__ não raras vezes, do leitor com ele mesmo.

Quem costuma ler não apenas sabe, sente. Sente nitidamente os benefícios todos que a leitura traz e, sobretudo, passa a se sentir melhor, a se conhecer mais e a ter mais esperança. É que os livros, os bons livros, têm esse fantástico poder de nos sequestrar de nossa própria realidade, de nos transportar para um outro universo, e de nos devolver ao mundo real mais fortes, mais otimistas e menos acomodados. Um bom livro nos comove, nos demove, nos situa. Um bom livro, assim como a primavera, põe mais cor e poesia em nossa vida.

Tantos são os benefícios e benesses da leitura que enumerá-los é tarefa já muito bem-feita por inúmeros educadores e estudiosos. A mim, mera leitora, me convence e me basta aquele que considero o mais definidor e definitivo dos argumentos: o de que a leitura é uma forma acessível de felicidade*. Parece tão simples quanto de fato é. Há sempre, em algum lugar, um livro à espera de ser colhido, à espera de promover a felicidade. Basta que façamos o movimento de apanhá-lo, de reservar-lhe _ o que quer dizer reservar-nos_ um momento do dia, e de lê-lo com o cuidado e a entrega de quem está a se dedicar ao ser amado. Para que isso aconteça, muito pouco é necessário. De novo, gratuidades: bem acomodar-se, aquietar o ambiente e a mente, silenciar o celular, abster-se de conversas e redes sociais, direcionar o abajur e os pensamentos. Uma vez imerso no livro, enredado pelas teias de sentidos das palavras, descobrirá ao final da leitura que um pequeno milagre sucedeu: por um indizível espaço de tempo, “suspenderam-se as lamentações” e “deteve-se o mundo.”

É o que acontece quando se lê com prazer e por prazer: sentimo-nos arrebatados pelo texto_ seja um romance, um poema, um conto ou uma   crônica_ e esse arrebatamento nos lança para além de nós mesmos. O mundo que gira é apenas aquele que dá voltas às palavras; o outro, o mundo dito real, inexiste no exato instante da leitura atenta. É que o momento da leitura é de profunda introspecção, porque tudo o que acontece no livro é dentro de nós que verdadeiramente acontece. E é por isso que o que acontece através da leitura, sobretudo da leitura de literatura, é pura terapia. Acessível como o próprio livro na estante.

E se assim é, então abrir um livro nada mais é do que habilitar-se a ser feliz. Custa muito pouco, custa quase nada. Pensando bem, custa só querer.


*Foi o escritor argentino Jorge Luis Borges quem o disse. Borges, um ávido e apaixonado leitor, recusou-se a abandonar essa felicidade quando uma doença hereditária o fez perder a visão. O que fez o célebre escritor para não se ver privado da leitura? Contratou um jovem acadêmico para que lesse para ele!


Por favor cliquem no link abaixo se quiserem ler o capítulo do livro por Cris M. Zanferrari.

 Capítulo 1 envelhecimento humano

Exit mobile version