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Crônicas por Alessandra Blocker: Nossa Auntie Mame

Aqui em Londres estou sem uma foto da Tia Suzy. Está no meu outro computer na Itália. Assim que chegar em Florença na Terça, subo a foto para vocês.

Me chamo Consuelo SUSAN Blocker em homenagem a ela.  Susan Blocker, Tia Suzy, era uma explosão de energia, sorrisos e idéias.  Conquista a todos com a sua exuberância. Se foi já faz 30 anos mas suas estórias ainda nos acompanham cotidianamente trazendo sorrisos e comentários cheios de risadas de todos nós.

A Tia Suzy, morou em Londres por muitos anos.  Não seria justo que a nossa estadia por aqui não incluísse uma homenagem a ela.  Esta foi a idéia da minha irmã, Alessandra, que escreveu mais uma das suas maravilhosas crônicas para nós aqui do salotto!  Hope you enjoy it!

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Seguindo os posts da Consuelo em Londres, não pude deixar de me lembrar da nossa tia Suzy, a irmã caçula de nosso pai, que morou lá por mais de 20 anos.

Tia Suzy era uma mulher ímpar, independente, divertida, extravagante, excêntrica. Meu pai sempre a compara à Auntie Mame, personagem de filme homônimo, sucesso de 1958 com Rosalind Russell.

Tia Suzy resolveu ir à Londres nos anos 60 atrás de um pretendente. Reza a lenda que seu diálogo com o oficial da Polícia Federal Inglesa seguiu mais ou menos assim:

– A senhora vai ficar por quanto tempo?

– Não sei.

– A senhora tem o endereço de onde vai ficar?

– Não.

– Quanto dinheiro a senhora tem?

– Nenhum.

Não é muito difícil de adivinhar no que deu essa conversa. Por sorte, ela pôde dar um telefonema e conseguiu falar com uma amiga londrina. Esta amiga tinha um pai influente que convenceu a imigração a deixar tia Suzy entrar no país. De lá não saiu mais.

O romance com o tal pretendente, motivo de sua ida à Londres, não vingou. Em um primeiro tempo, ela se viu numa cidade desconhecida, praticamente sozinha. Mas nada era muito problema para ela. Outra de suas histórias divertidíssimas diz que ao ir a festas onde não conhecia ninguém, ao invés de ficar num canto com cara de paisagem, olhava para o outro lado da sala, fingia ver alguém conhecido, mandava tchauzinho de longe e atravessava a festa. Chegando ao outro lado, olhava para outro canto, acenava para outro amigo virtual e cruzava a sala novamente. É claro que com sua personalidade efusiva e explosiva, não demorou muito até que ela fizesse uma enormidade de amigos.

Ela viveu a Londres vibrante dos anos 60 e 70, e tinha a sua cara.  Para ganhar a vida, tentou vários negócios até abrir uma agência de turismo. Certa vez teve um bar que chamou de Suru Bar. Dava feijoadas e bailes de Carnaval beneficentes. Ao perguntarem qual beneficência ela estava ajudando respondia:

– Me.  (Seguido de uma risada larga.)

Durante um tempo seu carro era um London Cab (vai saber como é que ela arranjou ele!). Quando dava carona aos amigos adorava ficar abrindo e fechando a portinha de acrílico que separa o banco com motorista e o dos passageiros para conversar com eles. Nossa tia Bibi conta que, certa vez elas passearam por Londres vestindo a mesma roupa: Suzy na frente dirigindo e Bibi atrás, para a confusão dos transeuntes londrinos que olhavam estupefatos.

Infelizmente estrelas que brilham muito, brilham por pouco tempo. Tia Suzy contraiu um câncer que se espalhou pelo corpo todo. Foram anos de luta, durante os quais ela nunca perdeu o bom humor. No final de sua vida foi morar em São Paulo com nosso pai. Tia Bibi, veio também ajudá-la no tratamento que acabou não vingando. Em 1982, aos 42 anos ela se foi.

Ao voltar a Londres, tia Bibi encomendou uma missa em sua homenagem. A igreja transbordou. Até o porteiro do prédio onde ficava sua agência de turismo compareceu.

Todos nós lembramos dela com tanto carinho, tanta admiração. Outro dia, numa festa na casa de meus sogros, uma prima de meu marido veio me dizer que foi amiga de tia Suzy em Londres. “Ela dava as melhores festas da cidade”. Assim era a tia Suzy.

 

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