Essa roupa todinha está no meu corner da OQVestir! Foto da fera Marcela Schneider Ferreira da @hashtagitaly
Sou do tempo quando para entrarmos em um desfile fazíamos Xerox colorido do único convite que encontrávamos e canetas metalizadas indicavam o número do assento. Ouro, prata, bronze, tínhamos todas! Aguardar um tumultozinho para entrar nas costas do segurança era outro método… Além da estratégia extrema de entrar pelos bastidores através de um furo na cerca para ter acesso à sala de desfile. A internet não existia e para assistir o show era necessário estar presente… senão só daqui a seis meses.
Quase 20 anos atrás quando comecei a frequentar as semanas internacionais de desfiles com minha avó e mãe, o Brasil era inexistente nas importantes listas das RP’s. Daí chegou um furacão chamado Daslu! As leis de importação mudaram no país e ela virou case. O metro quadrado da Chanel era o mais rentável do mundo! Isso se traduziu no lindo time de Eliana Tranchesi com Donata Meirelles ser convidado à primeira fila! Vocês nem podem imaginar o que elas eram! Entravam em grupo sobre saltos altíssimos e maravilhosos, ultra bem vestidas e com cabelos longos e sedosos. O diferencial? A sensualidade brasileira e aquele sorriso! Deram festas para todo o fashion crowd e em dois palitos o mundo da moda estava apaixonado pelo Brasil! Elas, e a loja, representavam um estilo de vida. Com esse fenômeno abriram-se as portas do paraíso para nós que quiséssemos cobrir os eventos. Foi uma delícia!! Não te digo que sentávamos na primeira fila como elas, mas, tínhamos convite nas mãos!
Chegou o momento do boom brasileiro. Só intensificou o nosso poder! Aí sim cheguei a sentar na primeira fila da Max Mara (depois de olhar 5 vezes se não tinha errado)!!
Mas este é um mundo volúvel… a Daslu fechou, a situação econômica piorou, ficou mais barato viajar (portanto o número de pedidos de acredito aos desfiles aumentou muito) e chegaram as blogueiras. Eu era uma delas, mas de nicho e nunca tive os números das mais jovens. Elas começaram a tomar conta da primeira fila pois a estratégia das companhias mudara. Hoje, os desfiles são mais uma forma de publicizar o brand para vender tudo, da roupa, ao acessório, ao perfume. O que antes era um segredo, a mensagem que o estilista queria passar aos editores e compradores, hoje é uma imagem que quer ser passada para o mundo. Especialmente depois que as marcas se tornaram parte de grandes grupos onde compreensivelmente o lucro tem grande importância.
Perdi meu lugar… Respeito. A casa é deles e convidam quem querem, não é mesmo? Os desfiles são para editores, jornalistas, compradores, it-people (VIP) e digital influencers de peso que podem divulgar em massa e com grande velocidade o desfile para o mundo! Não pode-se comprar ingresso… não funciona assim. Fico um pouco triste, mas tento ver do lado positivo. Hoje estou em Milão para cobrir a semana de moda de outro jeito. Posso ver o desfile bem (não como estar na sala que sempre tem um pathos importante) em duas horas ou às vezes ao vivo em streaming. Sou convidada ao que é chamado de re-see (quando se vai ao showroom ver de perto as peças do desfile e se tem um briefing da coleção). Esbarro cotovelos com a elite da moda em jantares, showrooms e eventos da moda. E com todos esses anos de presença, acabam me reconhecendo. Tem que ter alguma vantagem ser veterana! E além de tudo, estou em lindas capitais.
Esta estação vou cobrir o que entendo por moda hoje, que para mim se traduz em estilo. Encontrar as pessoas, marcas e lojas que melhor exprimem o momento em que estamos vivendo com mudanças radicais de governos, comportamentos morais e uma ira da natureza. Quero tentar fazer sentido disto tudo e vou adorar se vocês vierem nesta viagem comigo!
Estarei falando aqui no blog e meu insta mas a cobertura maior será pelo insta e stories da @santaconstancia, tecelagem de tecido da minha família. Espero vocês lá!
@santaconstancia