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Astrologia: Vênus e “O banquete” de Platão, à luz de Ticiano.

Nossa querida amiga, Prof. Luciene Felix Lamy, nos presenteia com outro super post!!  Desta vez falamos de Vênus, Platão e Ticiano!!!

 

Astrologia: Vênus e “O banquete” de Platão, à luz de Ticiano.

 

Fruto do Céu (Ouranós) e da Terra (Gaia), a deusa do amor e da beleza, Afrodite (Vênus) é a dynamis mais potente do Universo. Tudo o que há no mundo, seja em que esfera for, nasce e se move através dela. Por ela, para ela, nações são destruídas, impérios são erigidos.

Amigos do ConsueloBlog, no Post desse mês, abordamos o significado do posicionamento do planeta Vênus em nossos mapas, filosofamos com o maior renascentista veneziano, Ticiano Vecellio, analisando a obra “Amor sagrado e amor profano”, em cuja cena figura as duas versões da deusa do amor e da beleza e convidamos a mais uma experiência única, completa, inesquecível.

No “O banquete”, Platão afirma que mesmo que esteja passível de cometer um engano, um erro de pessoa, quem ama verdadeiramente é digno de nobreza.

Para saber em qual signo está o planeta Vênus, faça seu mapa AQUI

Segundo Stephen Arroyo, na obra “Normas práticas para a Interpretação do Mapa Astral”, assim como Mercúrio, Vênus representa influxo e escoamento de energia; seu posicionamento nos vários elementos expressa-se como um intercâmbio de amor, afeto e prazer sensual com os outros. O elemento da Vênus de uma pessoa representa a maneira como ela expressa afeto e interesse pelos outros, a maneira como manifesta seus sentimentos.

Esta fase corresponde ao escoamento do princípio de Vênus; entretanto, a fase de influxo é igualmente importante. Esta representa os tipos de experiência e de expressão que suprem a necessidade de ligar-se aos outros e ajudam a pessoa a sentir-se amada e apreciada.

Vênus, nas mulheres, tem relação com o ego feminino. A mulher precisa viver as qualidades do seu signo de Vênus a fim de sentir-se feminina. Ela mostra também a maneira como a mulher recebe e dá de si mesma no amor e no sexo.

Vênus, via de regra, atua mais como indicador sexual para as mulheres do que para os homens. Esse planeta indica a maneira como a mulher encara qualquer relacionamento que pode acabar levando a sexo, bem como as relações sociais menos íntimas.

Para os homens, Vênus associa a romance, beleza e imagens que lhe parecem particularmente encantadoras e atraentes. Descreve o tipo de mulher que exerce atração erótica sobre um homem, que satisfaz seus conceitos estéticos e desperta seus sentimentos*.

Este planeta também se relaciona com os ideais do homem em termos de amor, sexo e relacionamentos. Entretanto, Vênus não é especificamente sexual; para os homens, Marte simboliza muito mais a energia sexual. Na natureza sexual das mulheres, contudo, tanto as energias de Vênus quanto as de Marte são componentes importantes; elas se misturam e, em geral, são mais inseparáveis do que acontece com a maioria dos homens.

O planeta Vênus está sempre próximo à Lua: é a famosa estrela d’Alva. Rege os signos de Touro (vespertina/pandêmia) e de Libra (matutina/urânia).

Significado do planeta Vênus em cada elemento (Fogo, Terra, Ar e Água):

Vênus em signos de Fogo: Afeto e apreciação apresentam uma expressão energética, direta e grandiosa. Sente amor e ligação com o outro pela participação conjunta em atividades vigorosas, pelas aspirações e entusiasmos compartilhados.

Vênus em signos de Terra: Afeto e apreciação apresentam uma expressão palpável, confiável e física. Sente amor e ligação com o outro por meio do compromisso e da construção da vida em comum, bem como por meio do prazer sensual e da divisão de responsabilidades.

Vênus em signos de Ar: Afeto e apreciação expressam-se por meio de intensa comunicação intelectual e senso de companheirismo. Sente amor e ligação com outro por meio do diálogo, da afinidade mental, do convívio social mutuamente agradável.

Vênus em signos de Água: Afeto e apreciação apresentam uma expressão emocional e solidária. Sente amor e ligação com o outro por meio do intercâmbio de sensibilidade e sentimentos num nível sutil, levando a uma sensação de profunda fusão.

(*) A ênfase de Vênus é despertar os sentimentos de maior carga erótica, a sensualidade e o romantismo. A Lua, no mapa de um homem, representa o tipo de mulher capaz de atraí-lo em vários outros níveis de companheirismo, capaz de despertar outros sentimentos, tais como a necessidade de segurança, de apoio, de cuidado, e a sensibilidade de modo geral.

Democrática, Vênus apresenta-se aleatoriamente, independente de classe social. Quando nos paralisamos diante da presença de uma bela mulher, já não é ela, mas a deusa que a habita.

Posição de Vênus por signo: como o indivíduo exprime o afeto, sente-se apreciado e dá de si mesmo.

Vênus em ♈ Áries: exprime o afeto diretamente, impulsivamente, entusiasticamente. Os gostos e prazeres de cunho emocional florescem quando a energia se volta para experiências novas. Gosta particularmente dos estágios iniciais dos relacionamentos. A necessidade de ligação com o outro pode ser frustrada devido ao alto grau de autoafirmação e exigências; dessa forma, às vezes é difícil chegar à intimidade. Valoriza a individualidade, a iniciativa e a independência, em si e nos outros. Dá de si mesmo energeticamente, e responde à vigorosa liberação de energia dos outros.

Vênus em ♉ Touro: exprime o afeto fisicamente, calorosamente, estavelmente, possessivamente. Dá de seus próprios recursos interiores; responde à energia sensual e profundamente centrada dos outros. A necessidade de dar seu afeto pode ser tolhida pela avareza emocional, pela possessividade ou pela relutância em liberar seus sentimentos ou perder o controle. Aprecia intensamente as sensações físicas: visão, som, aroma, paladar, tato; gosta do contato com a natureza.

Vênus em ♊ Gêmeos: Exprime o afeto verbalmente, inteligentemente, despreocupadamente, jocosamente. Precisa falar imediatamente sobre o que pensa e percebe, a fim de sentir-se próximo ao outro. Os gostos de cunho emocional estão sempre mudando conscientemente; dá muito valor à diversidade e à comunicação mental. O impulso do prazer é matizado pela curiosidade instável, pela loquacidade e pela amabilidade; sente atração pela inteligência e pela presença de espírito. A necessidade de variar e ter sempre estímulos novos pode inibir as oportunidades de ter relacionamentos duradouros e profundidade interpessoal que vá além da superfície.

Vênus em ♋ Câncer: Exprime o afeto sensivelmente, confortavelmente, protetoralmente, tenazmente. Precisa cuidar e ser cuidado, sentir-se parte de uma família, para ficar à vontade. O impulso do prazer e da intimidade pode ser prejudicado pela instabilidade de humor, pela timidez, pela avareza e por sentimentos excessivamente autoprotetores; tem facilidade em refletir os prazeres e estados de espírito dos outros. A receptividade e a dependência sempre fazem parte da sensação de intimidade.

Vênus em ♌ Leão: Exprime o afeto calorosamente, dramaticamente, entusiasticamente. Os gostos de cunho emocional são influenciados pelo orgulho e pela necessidade de reconhecimento. Dá de si mesmo com vitalidade criativa e recebe dos outros com elegância e orgulho. A sociabilidade e a expressão do amor são matizadas pela jocosidade, pela generosidade e pela lealdade. O intercâmbio de sentimentos mais profundos com o outro pode ser dificultado pela necessidade de ser o centro das atenções ou de dominar a vida emocional do outro.

Vênus em ♍ Virgem: Exprime o afeto realisticamente, modestamente, solicitamente, timidamente. A necessidade de prestar serviços e ser útil gera satisfação emocional. Sente prazer com a atenção minuciosa a detalhes e com a atividade mental analítica. Precisa de lógica e praticidade para se sentir à vontade e em harmonia. O excesso de solicitude, as críticas banais ou a reserva natural podem interferir com o intercâmbio emocional e a expressão da paixão.

Vênus em ♎ Libra: Expressa o afeto alegremente, atenciosamente, charmosamente, harmoniosamente. A troca com os outros é matizada por equilíbrio, equanimidade e delicadeza. Os gostos de cunho emocional são afetados pela necessidade de harmonizar as polaridades e de valorizar a simetria e a beleza tradicional. Tem profunda necessidade de paz, tranquilidade e harmonia para se sentir à vontade e ter prazer; por isso pode evitar os intercâmbios emocionais desagradáveis e, dessa forma, limitar o alcance da intimidade. Precisa criar relacionamentos baseados na igualdade de participação e cooperação para liberar suas emoções.

Vênus em ♏ Escorpião: Exprime o afeto intensamente, apaixonadamente, obsessivamente; sentimentos radicais e monopolizantes. O impulso do prazer é matizados por desejos compulsivos, profundidade e emoções ardentes. A troca com os outros gera uma energia curativa e transformadora. As necessidades sociais e amorosas podem ser frustradas pela tendência ao segredo e pela relutância em confiar nos outros. Precisa ir fundo no relacionamento, com intensa força emocional, a fim de sentir-se ligado ao outro.

Vênus em ♐ Sagitário: Expressa o afeto livremente, entusiasticamente, generosamente e idealisticamente. O impulso inquieto de seguir em frente e ter muitas aventuras pode interferir com a formação de relacionamentos íntimos. A maneira de relacionar-se com os outros é fortemente matizada pelas crenças e metas; nos relacionamentos íntimos, sente necessidade de afinidade filosófica. Precisa sentir-se livre para andar sem destino e fazer exploração a fim de ficar à vontade e em harmonia. Tem atitudes tolerantes e abertas em relação a amor e romance; valoriza a honestidade nos relacionamentos e pode, inconscientemente, passar por cima dos sentimentos dos outros.

Vênus em ♑ Capricórnio: Expressa o afeto cautelosamente, seriamente, conscienciosamente e mecanicamente. A necessidade de prazer e amor pode ser inibida pela atitude medrosa e desconfiada, ou pela abordagem altiva e impessoal. Precisa ter certeza do compromisso do outro antes de liberar suas emoções mais profundas; é capaz de ser leal e de enfrentar o trabalho e as responsabilidades dos relacionamentos. O impulso social é matizado pela preocupação com a reputação. A necessidade de autocontrole e discrição emocional pode prejudicar o desenvolvimento de relacionamentos íntimos.

Vênus em ♒ Aquário: Expressa o afeto livremente, inconvenientemente, experimentalmente; gosta de flertar. A atitude distante e impessoal pode interferir com os relacionamentos íntimos; os outros podem achá-lo uma pessoa fria e altiva. Gosta da troca de ideias e fantasias da imaginação (muitas vezes humorísticas) com a pessoa amada. O impulso amoroso e social é matizado pela liberdade individualista, pelo extremismo e pela rebeldia. Precisa de um convívio dinâmico com grande número de pessoas para poder liberar plenamente suas emoções.

Vênus em ♓ Peixes: Expressa o afeto sensivelmente, delicadamente, compassivamente e solidariamente; é capaz de doar-se altruisticamente. Sente profunda necessidade de uma harmonia mágica e romântica; entretanto, os desejos podem ser vagos e indistintos, deixando a pessoa vulnerável. O impulso social e amoroso é matizado pelo idealismo romântico; a pessoa idealiza os seres amados e o próprio amor. O escapismo, a evasão e a confusão podem minar a capacidade de dar de si e receber dos outros; a falta de discriminação pode dificultar a formação de relacionamentos firmes. A sensação de ligação com o outro é influenciada por anseios profundos e pelo impulso de unir-se psiquicamente ao outro; a empatia deriva da capacidade de se identificar com os sentimentos alheios.

Tiziano Vecellio di Gregorio (1490-1576) ou, simplesmente, TICIANO.

Veneza, por Giovanni Antonio Canal – Canaletto (1710). Veneza também contribuiu com a explosão criativa, produzindo artistas de grande talento: Ticiano, Tintoretto e Giorgione, a trilogia veneziana em contraposição com a florentina de Leonardo, Rafael e Michelangelo.

A capacidade imaginativa de Ticiano chegou ao auge interpretando os mitos gregos durante os anos de 1550, instigado por seu principal patrono, Filipe II, da Espanha.

E, para o especialista Adriano Colangelo, Ticiano, Tintoretto e Giorgione deram uma riqueza e uma variedade na paleta, cuja intensidade e luminosidade raramente pode ser encontrada na história da arte, a não ser em algum impressionista, sobretudo em Gauguin. Já tivemos a oportunidade conferir a vasta paleta de Ticiano, AQUI.

Aproveitamos este aspecto, para realçar um importante confronto entre a arte florentina e aquela veneziana do 1500, pois enquanto os florentinos se constituem, pelo seu “ângulo culto e intelectual como artistas da forma (isto é, com maior caráter no desenho, na cor sóbria, na escultura e arquitetura), os venezianos, sem deixar de serem eruditos, deram mais atenção e mostraram uma maior sensibilidade para a cor”.

Sobre Ticiano, afirma-se ser um sinfonista da cor, não somente pela suntuosidade e expressão da mesma, como também pela extraordinária habilidade instrumental, realmente sinfônica de harmonizar as mais variadas tonalidades e dissonâncias cromáticas.

Isto pode ser observado e sentido claramente na obra “Amor Sagrado e Amor Profano”, que analisaremos abaixo. Nesta pintura “ele une e contrasta, com incomum habilidade, os amarelos-laranja dos corpos nus, os vermelhos candentes dos ricos drapejamentos, com os verdes obscuros e solenes das árvores de fundo, sob um céu cuja luminosidade crepuscular cria todo um precioso jogo de contrastes com o resto da obra”.

Suas pinceladas são sensuais e luxuosas pois, dono de um desenho imponente e ágil. Influenciado por Michelangelo, ele fez algumas incursões na temática religiosa e na retratística, sendo mais eficaz na segunda, onde, deliberadamente renunciou um pouco a sua riqueza cromática, para experimentar a maior austeridade do claro-escuro.

Sobre “Amor sagrado e amor profano”, trata-se de mais uma obra feita no Renascimento, movimento artístico e intelectual ocorrido na Europa que transformou profundamente as concepções de mundo e formas de pensamento. Uma das principais características desse período é a redescoberta dos textos antigos, e é em um desses textos que se encontra a chave para a interpretação da obra de Ticiano.

Em “O banquete”, diálogo sobre o amor, do filósofo grego Platão, um dos convidados, Pausânias fala da dualidade de Vênus, a “celestial e a “vulgar”, quando ele protesta: “não é um só”, objeta Pausânias que, cingindo a unidade do Amor, subdivide-o e hierarquiza-os imediatamente: Afrodite não é só uma, há a mais velha, Urânia (celestial) e a Pandêmia (pan = todos e demos = povos).

Nesta última, amam mais o corpo que a alma. Afrodite Pandêmia (a Popular, vulgar) inexoravelmente é vencida pelo tempo (Chronos/Saturno): “Com efeito, ao mesmo tempo em que cessa o viço do corpo, que era o que ele amava “alça ele o seu voo” (citando Homero), sem respeito a muitas palavras e promessas feitas. Ao contrário, o amante do caráter, que é bom, é constante por toda a vida, porque se fundiu com o que é constante”.

E é assim que Pausânias revela duas formas de Amor: Afrodite/Vênus Urânia, associada ao eterno, imortal e Afrodite/Vênus Pandêmia ao transitório, mortal. Os dois amores são necessários, embora sucumbir dando ênfase à Pandêmia desvirtue a alma e, consequentemente, a pólis.

Vamos à leitura da obra:

“Amor Sagrado e Amor Profano” (1514/15), por Ticiano Vecellio. A obra foi encomendada por Niccolò Aurélio e pertence à Galeria Borghese.

Em destaque, estão duas jovens, sentadas na extremidade da borda de uma fonte de mármore, esculpida em alto relevo. Uma delas está nua e descalça, já a outra, constatamos apresentar-se ricamente trajada e calçada.

Ambas representações da deusa do amor e da beleza! Se formos imediatistas, associaremos a Vênus Pandêmia (Venere vogare) à nudez e a Vênus Urânia (Venere celeste) à moça vestida. No entanto, estamos no Renascimento, momento em que houve um resgate os textos clássicos interpretados à luz do humanismo, ou seja, sem falsos pudores.

Por que a nudez não seria pura e as vestes que a encobrem, a profanação dessa pureza? Bem-vindo ao (questionador) “espírito” renascentista! O fato da mulher nua representar a Vênus Urânia demonstra a atribuição de valores positivos que se fez da nudez no Renascimento.

Nessa época, existia a crença de que a beleza sem ornamento é superior à beleza adornada, e que a forma de amor ideal, que aprecia uma beleza superior à que chamamos realidade, é mais elevada que a forma de amor terrena, que aprecia uma beleza pertencente ao mundo material. Porém, as duas Vênus são belas, cada uma à sua maneira, são nobres e dignas de serem “veneradas”.

A Vênus Urânia (celestial, eterna e imortal) está coberta apenas com um paninho branco e um manto púrpura (cor que identifica o caráter divino) e a Vênus Pandêmia (do grego, pan= todos + demos = povo, é a vulgar, terrestre e mortal) veste com um longo vestido branco, de manga púrpura e calça luvas.

Notaram a semelhança fisionômica delas? Não é que elas se pareçam, na verdade, como dissemos, elas são a mesma pois, representam a dupla natureza dessa portentosa divindade. Não se trata aqui de uma distinção puramente moral, como se uma das concepções de Vênus fosse “maléfica” e outra “benéfica”, mas de cisão entre as formas (opostos/complementares) de se experimentar e de se manifestar o amor.

Entre elas, vemos Cúpido (Eros), remexendo, misturando as águas da fonte, simbolizando a harmonia que as duas formas essenciais de amor, apesar das diferenças, podem alcançar.

Observemos que o Cupido está entre as duas personificações da deusa do amor e da beleza, embora um pouco mais próximo da Vênus Pandêmia. A teoria de Platão é de que Cupido (Eros) é um princípio cósmico, que atua como intermediário entre o céu e a terra, um “daimon” mediador, entre o divino e o humano.

Quanto às paisagens, podemos dividi-las também em duas partes: mais sombria, à esquerda (ao fundo da Vênus Pandêmia), onde temos algo erigido para os homens: uma cidade fortificada, para onde um cavaleiro se dirige. E também dois coelhinhos, simbolizando a fertilidade.

A paisagem da direita (atrás da Vênus Urânia) é mais rústica e ainda mais iluminada, pois tomada pelos céus, há mais ovelhas e algo erigido para Deus: a igreja, onde destaca-se o campanário.

Refém dos valores mundanos, a Vênus Pandêmia tem em mãos um vaso repleto de ouro e pedras preciosas. Já a Vênus Urânia, porta um vaso de incenso em chamas, simbolizando o sagrado. Isso porque a Vênus Urânia personifica o princípio do amor e da beleza universal: eterno, ideal, pois inteligível, divino. Já a Vênus Pandêmia personifica a força geratriz, o amor e a beleza concretos, reais, humanos.

Finalizando nossa análise, a fonte, cujo formato remete a um sarcófago antigo, aludindo, portanto, à perecividade, decrepitude e morte, o que parece reforçar o confronto entre a nossa natureza “humana” e a nossa natureza “divina”: mortal e imortal, respectivamente.

E mais ainda: alguns estudiosos apontam que os cavalos representam um terceiro tipo de união, que os medievos identificavam como sendo o “amor ferinus”, aquele amor primitivo, animalesco, de caráter impróprio ao homem (aos animais não há interdito ao incesto, por exemplo). Esse é o amor mais vil, que escraviza com as forças cegas do desejo, impedindo de desfrutar da sublimidade que reside nos amores destinados a nós, que é o físico e o… Platônico. Ideal.

Permitem-me só mais um tiquinho de Ticiano?

Vênus de Urbino, por Ticiano Vecellio (1538). Galleria degli Uffizi, Florença. No “O Banquete”, recorrendo à autoridade de Hesíodo, Fedro dirá que o Amor é dos deuses mais antigos, que sequer possui genitores e que é, para nós, a causa dos maiores bens, pois sem ele, não há com se produzir grandes e belas obras. O Amor deve dirigir a vida de todos os homens que quiserem vivê-la nobremente; é também responsável por algo que nem a riqueza, nem as honras nem a estirpe pode incutir tão bem: “A vergonha do que é feio e apreço ao que é belo”.

Observem como a deusa está convidativamente serena, plena e absolutamente à vontade em sua nudez. Traz flores nas mãos, pulseira incrustada de pedras preciosas, brincos delicados e, sim, os cabelos cacheados, naquele tom “louro Ticiano” de uma querida amiga do Salotto!

A presença do dócil cãozinho aninhado aos pés de Vênus, como a indicar que o Amor é fiel. Ou deveria. Afinal, é essa a maior virtude de uma dama.

As únicas outras figuras são uma menina que, curiosa, abre um baú (alusão à Caixa de Pandora?) e uma mulher nitidamente mais velha. Outra interpretação possível é de Ticiano quis indicar as três principais fases da mulher: criança, jovem e madura.

Isabel de Portugal (1548), por Ticiano Vecellio. Museo del Prado, Madrid. A beleza só perde para Chronos (Saturno), o deus do Tempo, que devora tudo o que cria.

Tarquínio e Lucrezia Borgia, por Ticiano (1515). Kunsthishistorisches Museum, Vienna.

Convite aos amigos do ConsueloBlog!

Em SETEMBRO, estaremos novamente na Itália para nosso Curso de Mitologia Greco-Romana na Galleria Borghese, em Roma.

Frontispício da Basílica de São Pedro, em Roma: IN HONOREM PRINCIPIS APOST PAVLVS V BVRGHESIVS ROMANVS PONT MAX AN MDCXII PONT VII (Em honra do Príncipe dos Apóstolos, Paulo V Borghese Roman Pontífex Maximus 1612 sétimo ano do seu pontificado).

E, para tornar nossa experiência inesquecível ainda mais completa, acrescentamos mais conteúdo, charme, beleza e magia à NOVA PROGRAMAÇÃO, iniciando e finalizando nosso tour por duas encantadoras cidades:

NETTUNO: hospedados em intocado solo feudal, na surpreendente Villa di Bell’Aspetto, reserva ecológica de propriedade particular dos Borghese, onde proferirei a Palestra “Europa Medieval: as Bases Históricas (Política e Econômica) – do Renascimento” e,

FLORENÇA: hospedados em solo renascentista, na bucólica e aconchegante Villa Tantafera, de propriedade do fotógrafo Robbie Leone, onde será ministrado o “Minicurso sobre o Renascimento” (eu) e “A Família Médici” (Sandra Gorski).

Para mais informações, clique AQUI

Espero que tenham apreciado o posicionamento de Vênus em seus mapas, a análise das obras de Ticiano e as novidades em nossa Programação, amigos! Até o próximo Post, com o eleito de Vênus: Marte.

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Obrigada Luciene!!

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