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Astrologia: Mercúrio, o “Quatrocento” e Botticelli! por Luciene Felix Lamy

Mercúrio bico de pena

Amigos do ConsueloBlog, no Post desse mês, abordamos o significado do posicionamento do planeta Mercúrio em nossos mapas. Daremos prosseguimento ao minicurso sobre o Renascimento (o período “Quatrocento”) que iniciamos no Post anterior (AQUI), quando tivemos a oportunidade de contemplar Giotto di Bondone (início do “Trecento”). Confirme agora, toda genialidade do pioneiro na pintura das alegorias e mitos gregos, o florentino Sandro Botticelli na análise da “Alegoria da Primavera”, em cuja cena figura o deus Hermes (Mercúrio).

Hermes/Mercúrio, do escultor flamengo Artus Quellinus (séc. XVII). Amsterdam Town Hall, hoje Royal Palace. Hino órfico: “Filho bem amado de Maia e de Júpiter, deus viajante, mensageiro dos imortais, dotado de grande coração, censor severo dos homens, deus prudente de mil formas (…), deus de pés alados, amigo dos homens, protetor da eloquência, tu que gostas da astúcia e dos combates, intérprete de todas as línguas, amigo da paz, que trazes um caduceu sangrento, deus venturoso, deus utilíssimo, que presides aos trabalhos e às necessidades dos homens, generoso auxiliar para a língua dos mortais, ouve as minhas preces, concede um feliz fim à minha existência, concede-me felizes obras, um espírito dotado de memória e uma fala abençoada pela eloquência.”.

Para saber em qual signo está o planeta Mercúrio, faça seu mapa AQUI.

Significado do planeta Mercúrio em cada elemento (Fogo, Terra, Ar e Água):

O elemento do signo de Mercúrio indica o tipo específico de energia e de qualidade que influencia os processos de raciocínio e a maneira como a pessoa expressa os pensamentos de acordo com aquela onda vibratória específica. Mercúrio simboliza o impulso para entrar em contato e estabelecer comunicação de duas mãos com os outros, bem como todas as formas de coordenação, inclusive a coordenação do sistema nervoso. Seu elemento num dado mapa representa o influxo (via percepção) e o escoamento (via habilidades, fala e destreza manual) da inteligência. Mostra a necessidade de ser entendido por outras pessoas que tenham uma sintonia semelhante com o mundo das ideias, bem como a necessidade de aprender, recebendo ideias e informações do mundo exterior.

Mercúrio em Signos de Fogo: Os pensamentos são influenciados pelas próprias aspirações, crenças, esperanças e visões futuras. As habilidades e a fala apresentam uma expressão impulsiva, efusiva e entusiástica.

Mercúrio em Signos de Terra: Os pensamentos são influenciados por considerações práticas e matizados por atitudes tradicionais. As habilidades e a fala apresentam uma expressão persistente, paciente, cautelosa e específica.

Mercúrio em Signos de Água: Os pensamentos são influenciados pelos próprios sentimentos e anseios mais profundos. As habilidades e a fala apresentam uma expressão sensível, emocional e intuitiva.

Mercúrio em Signos de Ar: Os pensamentos tem realidade própria e são influenciados por ideais abstratos e considerações de ordem social. As habilidades e a fala apresentam uma expressão objetiva, articulada, baseada na compreensão dos princípios envolvidos.

Mercúrio, afresco do Renascentista Rafael Sanzio na Villa Farnesina, Roma. Consagramos nosso espírito ao que achamos belo, pertinente e a arte é o veículo através do qual expressamos o que se passa em nossos tempos.

MERCÚRIO : como você pensa, raciocina e se comunica?

Mercúrio em ♈ Áries: comunica-se assertivamente, vigorosamente, diretamente e com confiança. O impulso desassossegado para agir está latente na forma vigorosa de falar e no uso criativo das habilidades. O confronto e a liberação vigorosa de energia são necessários para o aprendizado; capaz de captar intuitivamente o essencial. A capacidade de raciocínio é matizada pela liberação intencional de energia voltada para as experiências novas; portanto, frequentemente dá preferência aos pensamentos audaciosamente novos. O estabelecimento de uma verdadeira relação de troca com os outros pode ser prejudicado pela autoafirmação insensível e desatenciosa.

Mercúrio em ♉ Touro: comunica-se com cuidado, certificando-se de cada palavra antes de dizê-la; expressa lentamente seus pensamentos. A necessidade de aprender devagar e propositalmente pode limitar a variedade das percepções. Mente retentiva e estável, baseada na consolidação das ideias; traz as ideias para a realidade em busca de uma aplicação prática. Impulso para expressar as próprias percepções das sensações físicas; saboreia concretamente as palavras enquanto fala. A necessidade de fazer contato com os outros fica restrita devido à relutância em abrir-se sem reservas e espontaneamente.

Mercúrio em ♊ Gêmeos: comunica-se fluentemente, rapidamente, habitualmente e inteligentemente – às vezes superficialmente. Impulso para expressar imediatamente suas percepções. Precisa aprender estabelecendo e identificando conexões entre pessoas e ideias. A mente, instável e curiosa, se expressa por meio de interações amigáveis com os outros e perguntas intermináveis. O alto grau de energia nervosa manifesta-se na fala, na escrita e em outras formas de destreza manual/mental.

Mercúrio em ♋ Câncer: comunica-se emocionalmente, instintivamente e sensivelmente; protege os próprios pensamentos. Aprende pela absorção, contando com os sentimentos para estabelecer conexões entre dados. Cultiva as ideias novas até elas florescerem como habilidades criativas. A boa memória e a capacidade de retenção contribuem para o aprendizado. Preconceitos e medos subconscientes podem interferir com a objetividade e a atenção dada a novas ideias.

Mercúrio em ♌ Leão: comunica-se energeticamente, radiantemente, orgulhosamente. Cordialidade, afeto e vontade forte motivam a necessidade de fazer contatos. A comunicação é matizada pelo senso teatral, pelo humor e pelo pendor criativo. O orgulho e o impulso pelo reconhecimento dão brilho à expressão das percepções. Precisa de um envolvimento criativo a fim de aprender; dá saltos intuitivos em vez de fazer associações lógicas. O envolvimento do ego com o processo de raciocínio pode prejudicar a objetividade e diminuir a flexibilidade e a retenção de fatos.

Mercúrio em ♍ Virgem: comunica-se logicamente, criticamente, prestimosamente, humildemente – às vezes negativamente e ceticamente. Impulso para expressar as próprias percepções com realismo, demonstrando sua capacidade analítica. Necessidade de discriminar as ideias e colocá-las em sequência lógica com vistas a um aprendizado. Suas ideias práticas e proveitosas contribuem para a capacidade de entrar em contato com os outros. A atenção exagerada aos detalhes pode prejudicar a percepção do ponto de vista mais amplo e de todas as suas interconexões e implicações mais gerais.

Mercúrio em ♎ Libra: comunica-se inteligentemente, agradavelmente, diplomaticamente e com elegância. Impulso para exprimir as próprias percepções harmoniosamente – de um modo equânime e objetivo – para equilibrar todas as polaridades precisa ser imparcial e ter tato a fim de entrar em contato com os outros. A expressão verbal é matizada pelo senso artístico e estético. Procura o equilíbrio e a objetividade nas interações pessoais, e precisa de feedback sobre suas ideias para esclarecê-las. A consciência de todos os pontos de vista pode prejudicar a capacidade de decidir.

Mercúrio em ♏ Escorpião: comunica-se poderosamente, profundamente, apaixonadamente (e muitas vezes não verbalmente); capaz de formar ligações íntimas profundas por meio da comunicação. O impulso da expressão verbal vem das profundezas do ser e nunca é superficial. Profunda necessidade de aprender penetrando na realidade e esquadrinhando-a até o seu âmago; leva qualquer pesquisa até o fim e se interessa pela investigação. A compreensão objetiva pode ser prejudicada pela natureza da mente, demasiado intensa, voluntariosa e emocional. O uso das habilidades e da inteligência é influenciado por desejos ardentes, paixões profundas e pelo impulso para descobrir as motivações secretas dos outros. A capacidade de fazer contato com os outros pode ser inibida pela necessidade de manter sigilo e silêncio.

Mercúrio em ♐ Sagitário: comunica-se abertamente, honestamente, de forma otimista, entusiasmada e tolerante. A necessidade de aprender expressa-se através de uma inquieta aspiração impulsionando para um ideal. O pensamento e o raciocínio norteiam-se por metas de longo prazo e não por detalhes rotineiros. Interessa-se por ensinar aos outros o que aprendeu [tão eu]; vê uma estreita relação entre ensino e aprendizado. Necessidade de ligar-se aos outros sendo direto, verdadeiro e mentalmente tolerante. A coerência dos pensamentos pode ser turvada pelo excesso de generalizações motivadas pelas aspirações idealistas.

Mercúrio em ♑ Capricórnio: comunica-se seriamente, cautelosamente, com forte senso de autoridade; às vezes pensa usando categorias rígidas. A persistência, a ambição e o progresso constante suprem a necessidade de aprender. Impulso autocontrolado para expressar as percepções e a inteligência pela manipulação do mundo físico, e pela obtenção de resultados práticos a partir das teorias. A discrição, a autossuficiência e a formalidade podem inibir a forma de comunicação com os outros. A razão e a capacidade de discriminação são postas a serviço de uma meta a atingir; a aguda percepção da realidade prática pode levar a dar mais destaque às limitações do que às possibilidades.

Mercúrio em ♒ Aquário: comunica-se abertamente, inteligentemente, idealisticamente, de forma distanciada. Necessidade de estabelecer ligações diferenciadas com os outros, relacionando-se individualmente com cada pessoa, ao mesmo tempo que tem acentuada percepção dos processos de comunicação de grupo. O impulso para expressar as percepções e a inteligência é matizado pela liberdade individualista, e muitas vezes pelo extremismo. Pensa de forma experimental e inovadora, testando as teorias com os outros; voltado para o futuro, gosta de explorar possibilidades de mudança. A independência, a inventiva e o desprendimento intelectual contribuem para o processo de aprendizado. A expressão de ideias pode ser errática, fragmentada por ligações imprevistas entre conceitos desconexos.

Mercúrio em ♓ Peixes: comunica-se sensivelmente, idealisticamente, poeticamente, evasivamente, imaginativamente. A compaixão motiva a expressar as percepções e a inteligência com simpatia. Entra em contato psíquico e espiritual com os outros; percebe a comunicação em mais de um nível. A energia verbal é inspirada pela flexibilidade e pela capacidade de síntese. A razão e a capacidade de discriminação podem ser obscurecidas pela confusão, pelo devaneio e pela ilusão.

RENASCIMENTO

O Renascimento, que surgiu em Florença, berço de uma nova cultura, transformou a Itália no centro da mais alta civilização mundial. É a Idade de Ouro, que legará gênios jamais imagináveis.

Na segunda metade dos anos 1400 Florença se torna a mais refinada das cortes renascentistas. Com Lorenzo di Médici – O Magnífico, essa cidade se torna o centro mais culto e de maior potência econômica e política da Itália, florescendo e expandindo o campo das artes, das letras e da filosofia.

Como já vimos, no início do século XIV (cerca de 1300 em diante), fim da Idade Média, surge o questionamento quanto à religião ser a única fonte de saber e a descoberta de uma realidade para além dos muros da Igreja. É quando o renascentista coloca-se como centro do universo, capaz de ser dono de seu destino, erigindo as bases do que chamamos humanismo.

Todas essas mudanças bruscas no modo de pensar e ver o mundo estimulou o nascimento de uma forma totalmente nova de expressão artística, algo repleto de vigor, ousadia, força e frescor.

O período “QUATROCENTO” – Auge do Renascimento.

Nesse trecho de “A calúnia de Apeles” (1495), Botticelli retrata a fealdade de uma anciã maltrapilha (alusão à Igreja?) que se volta para encarar a verdade nua que aponta para o céu. Galleria degli Uffizi, Florença.

Uma das características do Renascimento é o que hoje chamamos de interdisciplinariedade que, versátil, dialoga com diversas áreas da ciência e das artes. Vários artistas, além de pintores eram também escultores. Muitos redigiam textos científicos, poesias e dedicavam-se a ourivesaria (citamos os pioneiros ourives Pisanello e Verrochio).

Entretanto, alguns começaram a se especializar em determinada área, buscando o reconhecimento nela (Michelangelo Buonarroti, por exemplo, ansiava firmar-se e ser reconhecido como escultor).

Nesse empenho por se afirmar como profissional “especializado”, o artista vai modificando suas condições de vida. No “Quatrocento”, o pagamento por jornada de trabalho vai se restringindo às tarefas puramente artesanais, como as cópias e restaurações.

Santo Elígio (Elói), padroeiro dos ferreiros, dos ourives e dos que trabalham com metal, em sua oficina, por Petrus Christi (1449). Metropolitam Museum of Art.

Com maior reconhecimento, os artistas passam a ser mais exigentes, a ter seus caprichos, impondo condições.

Em contrapartida, para não ficar refém de seus humores (vez ou outra abandonavam um trabalho pela metade), tornou-se comum o pedido de um fiador por parte de quem encomendava uma obra, a fim de garantir o cumprimento do contrato.

Nessa fase, o prestígio dos artistas era tanto que eles desfrutavam de liberdade para, além de poder escolher que tipos de obra desejavam executar, qual tema preferiam trabalhar.

Claro que toda essa emancipação passa a exigir a profissionalização das especialidades. E os jovens aprendizes foram levados a ampliar seus conhecimentos, não somente nas oficinas, mas nas Academias que proporcionavam o aprofundamento nos estudos de anatomia, geometria e perspectiva, por exemplo.

Os artistas se sentiam mais livres, pois menos reféns da Igreja: agora, eles contavam também com o patrocínio das ricas famílias, pois “cacife” para bancar e manter filósofos, músicos e outros artistas por perto era a nova “régua” com a qual os poderosos se mediam entre si, reivindicando “nobreza”. Foi então que a mitologia grega, as grandes batalhas e as alegorias se tornaram os temas prediletos.

Simonetta Vespucci foi casada com Marco Vespucci, primo do famoso navegador Américo Vespucci. Era considerada a mulher mais bela de Florença e serviu de modelo para as duas mais famosas obras de Botticelli. Dizem que foi amante de Giuliano, irmão caçula de Lorenzo di Médici. A tuberculose a ceifou bem jovem, com apenas 23 anos.

Também era praxe a encomenda de pinturas que retratassem o casamento de um filho ou a imagem da filha, a fim de despertar curiosidade, rumores e, quem sabe, a conquista do clássico “bom partido”.

Sem falar das cenas cotidianas, onde queriam se mostrar aos demais ostentando a opulência de que estavam cercados (confira nossa análise sobre “O casal Arnolfini”, de Van Eyck, AQUI .

Se com a Igreja o “divino” é o que inspirava e estava por trás das obras, com o mecenato (que é o sistema de proteção e incentivo dado pelas ricas famílias aos artistas e literatos, patrocinando seus trabalhos), o artista ganha mais autonomia e reivindica sua individualidade, sua originalidade, passando a assinar suas obras. Era o início do que hoje chamamos de propriedade intelectual. E, vaidosos, eles travaram verdadeiras batalhas entre si, competindo por maior reconhecimento de sua genialidade.

Ainda sobre o mecenato, trata-se de uma atividade que se iniciou no Renascimento e, é exercida até hoje por pessoas físicas ou jurídicas, promovendo realizações artísticas e culturais. O nome deriva de Caio Mecenas (68 aC – 8 aC), ministro e conselheiro que apoiava a produção artística de sua época, formando um círculo de intelectuais e poetas.

Tamanho apreço e investimento legou uma considerável coleção artística secular, não somente em pinturas e esculturas, mas também em bordados, tapeçarias, vitrais, adornos, joias, murais e objetos domésticos, como bandejas, espelhos, camas, arcas, vasos, etc.

Com toda essa avalanche de propostas de requinte e beleza, o papel da arte na sociedade transcende o caráter meramente estético ou funcional, ganha respeito, passando a gozar de muito prestígio e valor. Por isso, é também no “Quatrocento” que surge a figura do colecionador.

Sandro Botticelli: pioneiro, ousado, brincalhão e genial!

Detalhe de seu autorretrato na obra “A adoração dos Magos” (1475), Galleria degli Uffizi, Florença. “Se Botticelli fosse vivo hoje, estaria trabalhando para a revista Vogue”. Peter Ustinov

O pisciano Alessandro Mariano di Vanni Filipepi nasceu no dia 1º de março de 1445, numa família de artesãos florentinos (seu pai era também curtidor de peles). Ainda menino, logo cedo aprendeu a profissão de ourives, mas descobriu que seu talento era mesmo a pintura.

Com 17 anos o rapaz foi estudar com Fra Filippo Lippi, um dos grandes mestres florentinos que influenciou muito suas primeiras obras. Apesar da boa relação com esse mestre, o aprendiz parte em busca de sua independência e, com ajuda financeira de seu pai, monta seu próprio ateliê.

Foi nessa época que Lorenzo di Médici – O Magnífico – buscava pintores para ornar o salão do Tribunal da Mercanzia com o tema das Sete Virtudes. O irmão de Botticelli, Antônio Filipepi, que era ourives, viu nisso uma oportunidade de introduzir o jovem no mecenato dos Médici. Com a ajuda de Tommaso Soderini, pessoa de confiança de Lorenzo, o jovem Sandro recebe então, a incumbência de retratar a Virtude da Coragem.

Alegoria Virtude da Coragem, de Botticelli (1470), Galleria degli Uffizi, Florença.

Ele agarrou a oportunidade com pincéis, unhas e dentes e, graças a seu empenho, esse trabalho (alegoria da Virtude da Coragem) se mostrou superior às demais, que eram de Piero Pollaiuolo.

Detalhe da Virtude da Coragem Botticelli (1470). Galleria degli Uffizi, Florença.

Depois disso, Botticelli ganhou a confiança de Lorenzo e passou a trabalhar regularmente para a família Médici. A partir de então, além de qualidade seu trabalho também tinha visibilidade e o que lhe abriu as portas para encomendas de outras abastadas famílias florentinas.

Botticelli, que se inspirava nos temas pagãos e seus deuses (Mercúrio, Vênus, Marte, Apolo, Diana, etc), também se dedicou às obras cristãs. Mas sempre mantendo seu compromisso com os Médici, reproduzindo os rostos de vários membros da família mesmo em suas obras religiosas.

Entretanto, a Igreja também se encantou e quis o artista para suas obras. Devido à estreita relação que mantinha com os Médici, o artista angaria prestígio e reconhecimento a ponto do papa Sixto IV convidá-lo a trabalhar na Capela Sistina, em Roma.

“A tentação de Cristo”, por Botticelli (1481-82), Museu do Vaticano, Roma.

Detalhe de “A tentação de Cristo”, por Botticelli.

Coroação da Virgem Nossa Senhora da Assunção (1481-83). Galleria degli Uffizi, Florença.

Detalhe da coroa da Virgem Nossa Senhora da Assunção (1481-83). Galleria degli Uffizi, Florença.

A morte do grande mecena Lorenzo de Médici, em 1492, foi seguida de grande agitação política e religiosa. O conflito entre a Igreja e o frei Savonarola (perseguido e queimado numa fogueira por heresia) inspirou Botticelli a retratar os mártires cristãos em suas lutas, sofrimentos e abnegações.

Conhecido por seu fantástico bom humor (nem mesmo a acusação anônima de que mantinha casos amorosos com seus aprendizes o abalou), Botticelli fica arrasado com a morte de Savonarola e se afasta da vida pública, passando a se dedicar aos estudos e à meditação.

E foi assim, recluso e solitário, que em 17 de maio de 1510, ele faleceu em Florença. Está enterrado na Abadia de Ognissanti, em Florença.

A primavera…

A alegoria da Primavera (1472-1473), de Sandro Botticelli. Galleria degli Uffizi, Florença. Botticelli foi o primeiro a trazer um tema exclusivamente mitológico. Posteriormente, a admiração pela Antiguidade clássica, pela civilização grega antiga será uma das características básicas da Renascença.

As duas obras mais famosas de Botticelli são “A Primavera” e “O nascimento de Vênus”, encomendadas pelos Médici (Galleria degli Uffizi). Devido ao fato desse Post tratar do deus Hermes (Mercúrio), trouxemos “A Primavera”, considerada mais intensa e, portanto, superior ao “Nascimento” foi destinada originalmente para a Villa di Castello, residência de verão da família Médici. É considerado um dos mais belos da Renascença italiana.

Nessa composição, Botticelli explicita sua característica de fuga intencional de forma realista. Segundo o estudioso Adriano Colangelo, com sensibilidade quase lírica, ele é um criador de linhas rítmicas e melodiosas extraordinárias, com uma originalidade expressiva ao abordar o mundo lendário da mitologia grega com uma poética surpreendente.

A obra reflete a habilidade de desenhista de Botticelli, algo fundamental para a arte florentina da época. Com sensibilidade, ele cria uma atmosfera de sonho, de fábula, sobre as quais se movimentam imagens fantásticas, fora de qualquer tempo, evocando divindades lendárias pagãs, como se fossem de um maravilhoso mundo desconhecido.

De fato, observamos que as figuras – de uma beleza perturbadora –, emergem quase que de improviso, evocando divindades da terra, do vento e das florestas, distribuindo flores, folhas e ar puro.

O gesticular de todas as figuras é delicado, elegante, rítmico e sintetizam o ideal físico e ao mesmo tempo universal de beleza.

São seis figuras femininas, duas masculinas e um Cupido (Eros) numa plantação de laranjas entre centenas de espécies de plantas e mais de uma centena de tipos de flores. O quadro talvez tenha sido inspirado por um poema de Ovídio sobre a chegada da Primavera.

Vamos à leitura da imagem, da direita para a esquerda: Zéfiro, o vento cortante de março, retratado num tom azul acinzentado e com asas, sequestra e possui a ninfa Flora (conhecida pelos gregos como Clóris), que usa uma diáfana túnica, transparente como um véu.

Zéfiro com Primavera (na verdade é a ninfa Flora)

As bochechas de Zéfiro estão inchadas e, por ser a divindade “invisível” que é, seu diferente espectro separa-o dos demais. As árvores ao redor dele também sopram em sua direção, assim como na túnica de Flora, que ele está soerguendo enquanto flores e folhas frescas surgem de seus lábios. Flora era muito venerada entre os Sabinos, que levaram seu culto a Roma.

Conta-se que depois de arrebatá-la, Zéfiro fez dela sua esposa, conservando-a no esplendor da juventude e presenteando-a com o império das flores. Ele a torna então, deusa da Primavera, portadora da vida eterna, a espalhar rosas pelo chão. É por isso que os poetas costumam inserir o casal no cortejo da Primavera.

Primavera a espalhar flores.

A Primavera é essa figura feminina coroada de flores num vestido de estampa também floral a espalhar rosas, recolhidas nas dobras do seu vestido, representando a mais bela estação do ano.

Observe que Primavera possui um abdome proeminente por baixo do vestido, como que indicando mesmo algo que lhe é tão peculiar: a germinação.

Detalhe das flores no chão.

Segundo Cunningham e Reich, a obra é uma elaborada alegoria mitológica da fertilidade florescente do mundo.

A exaltação ao máximo do ideal de beleza como o ponto alto de um sonho é plenamente realizado no Renascimento florentino através de Botticelli.

Em destaque, pois centralizada e visivelmente acima das outras figuras está uma mulher vestida de branco com um belo manto vermelho de fundo azul. Em seu semblante se observa um plácido olhar de espectadora que abençoa. As árvores atrás dela formam um arco destacando-a ao centro. Somente ela e Mercúrio portam sandálias. Talvez porque somente Vênus (Afrodite) e Mercúrio (Hermes) sejam deuses da mitologia grega, enquanto os demais, alegorias.

Elas são: Aglaé (brilhante), Tália (verdejante) e Eufrosina (alegria da alma).

Agrupadas, à esquerda, três graciosas jovens – As três Graças – em trajes branco e diáfano, unem as mãos com delicadeza enquanto dançam de forma sensual e suave.

Segundo o mito, as Graças eram filhas de Eurínome (ou Juno/Hera) e Júpiter (Zeus) ou ainda, noutras versões, de Bacco (Dioniso) e Vênus (Afrodite).

São fiéis companheiras da deusa do amor e da beleza, Vênus (Afrodite), a quem devem a graciosidade, o encanto e todos os atrativos que garantem triunfo. O poder das Graças se estende sobre todos os divertimentos da vida.

Elas dispensam aos seres humanos não somente a boa vontade, a alegria e as boas maneiras, mas também a eloquência e a prudência. Elas presidem ainda os benefícios da gratidão.

Duas das Graças usam colares bem destacados (joias com as cores da família Médici).

As Graças são sempre representadas jovens, castas (pudicas) e elegantes a bailar. Os artistas as retratam nuas ou envoltas em túnicas leves, como véus flutuantes. Elas partilhavam também as honras que se rendia ao Amor, personificado por Vênus (Afrodite), a Mercúrio (Hermes) e às Musas.

A flechada desse inocente “anjinho” arrebata qualquer um, podendo nos alçar, imediatamente, ao paraíso.

Um cupido (Eros) bem rechonchudinho sobrevoa sua “mãe”, Vênus (Afrodite) e, de olhos vendados (como sabemos, o Amor é cego), aponta sua flecha para as Graças que, alheias a essa ameaça, bailam tranquila e delicadamente.

O caduceu de Mercúrio (Hermes) mantém o jardim seguro de nuvens ameaçadoras. Ele traja uma túnica de cor chamativa, transpassada por um cinturão que sustenta sua espada, as famosas sandálias aladas e o elmo que o torna invisível. Seu corpo revela estar displicente e despreocupado, entretanto, atento aos céus.

Botticelli inspirou-se no rosto de Juliano de Médici como modelo para retratar o mensageiro dos deuses.

Além de seu significado evidente que é o anúncio da Primavera, essa pintura tem sido interpretada como uma ilustração do amor neoplatônico popularizado entre os Médici, sendo o amor carnal natural representado por Zéfiro (à direita) e a renúncia personificada pelas três Graças e por Mercúrio, voltados para outras coisas.

Espero que tenham apreciado o passeio, amigos! E, como Botticelli deixa “um gostinho de quero mais”, em breve teremos um Post complementar, com mais de suas preciosas obras (não, não pude me conter…), a análise do mapa de uma amiga do Salotto e um convite especial.

Luciene Felix Lamy

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Obrigada Lu!! Post fantástico!!

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