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Astrologia: Marte, o período “Cinquecento” e Leonardo Da Vinci

Destemido, ousado, corajoso, impulsivo, arredio, indômito, cego e imediatista, o sanguinário deus da guerra nunca foi bem quisto pelos gregos, que preferiam a ponderada Athena. Por razões óbvias, apenas Hades (Plutão), o deus do “Reino dos mortos” (no paganismo não havia ainda o conceito de “inferno”) o estimava. No entanto, a bélica Roma tributava-lhe honras e glórias.

Destemido, ousado, corajoso, impulsivo, arredio, indômito, cego e imediatista, o sanguinário deus da guerra nunca foi bem quisto pelos gregos, que preferiam a ponderada Athena. Por razões óbvias, apenas Hades (Plutão), o deus do “Reino dos mortos” (no paganismo não havia ainda o conceito de “inferno”) o estimava. No entanto, a bélica Roma tributava-lhe honras e glórias.

Astrologia: Marte, o período “Cinquecento” e Leonardo Da Vinci

Amigos do ConsueloBlog, no Post desse mês abordamos o significado do posicionamento do planeta Marte (Ares, na mitologia grega) em nossos mapas. Prosseguimos em nosso minicurso sobre o Renascimento, trazendo o período “Cinquecento”, aplacamos a ira de Marte com a delicada e sublime “Anunciação”, do ariano Leonardo Da Vinci e conferimos uma novidade: mala CULTURAL para a Europa.

MARTE: o deus do “Eu quero é guerra!”

A natureza (physis) é caprichosamente violenta em sua dýnamis (potência). Nos assola a violência dos mares, dos ventos e até das paixões, pois, na ousía (essência), não somos poupados do que há de natural em nós. A própria criação da vida de um novo ser não se origina sem determinada violência: o vitorioso e singular espermatozoide que engendrou a alma (psyché) de que quem lê essas linhas, teve forças, lutou e muito para romper a resistente barreira da parede de um óvulo. E venceu! \o/

Para saber em qual signo está o planeta Marte, faça seu mapa AQUI.

O signo zodiacal em que o planeta Marte está e a Casa (de 1 a 12) que ocupa, mostra os modos de atividade e os tipos de experiência que estimulam nossa energia física da pessoa, o tipo de energia que usamos para nos afirmarmos.

O elemento (Fogo, Terra, Ar ou Água) do planeta Marte indica a energia que supre nossa necessidade de estímulo físico e o modo pelo qual somos capazes de expressar agressividade e provar nossa força.

O posicionamento de Marte indica o método específico que usamos para conquistarmos o que desejamos: Marte em ar usa a persuasão; Marte em fogo usa a força e a iniciativa; Marte em terra usa a paciência e a eficiência. Marte em água usa a intuição, a dissimulação e uma persistência até certo ponto imbatível.

No mapa de um homem, Marte mostra como ele se projeta vigorosamente, assertivamente e sexualmente. Indica como ele mostra sua força na relação sexual, e como expressa sua masculinidade em tudo que diz respeito a liderança e iniciativa. Está, portanto, associado ao “ego masculino” do homem.

“Palas Athena” (1650), de Rembrandt Harmensz Van Rijn. Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa. No mapa de uma mulher, Marte é também uma forte imagem masculina da psique; está intimamente associado à imagem romanticamente excitante que desperta sua energia e ajuda-lhe a se expressar. O signo e os aspectos de Marte muitas vezes indicam que tipo de homem uma mulher acha fisicamente atraente.

Significado do planeta Marte em cada elemento (Fogo, Terra, Ar e Água):

Marte em Signos de FOGO: Afirma-se pela ação física direta, pela iniciativa e pela irradiação expansiva de energia. A energia física é estimulada pelo movimento constante, pelo entusiasmo confiante e pela ação dinâmica.

Marte em Signos de TERRA: Afirma-se pela realização concreta que exige paciência e persistência. A energia física é estimulada pelo trabalho árduo, pela autodisciplina, pelo desafio e pelo dever.

Marte em Signos de AR: Afirma-se pela expressão de ideias, pela comunicação ativa e pela vigorosa imaginação. A energia física é estimulada por desafios mentais, atuação social, relacionamento e ideias novas.

Marte em Signos de ÁGUA: Afirma-se pela sutileza emocional e pela persistência, assim como pelo apelo aos mais profundos sentimentos e necessidades dos outros. A energia física é estimulada por anseios profundos, pela sensação de ser necessário aos outros, pelas intuições sutis e pela intensidade da experiência emocional.

Posição de Marte por Signo: Como o indivíduo se afirma e expressa seus desejos.

De gosto pelo desafio da conquista, Ares só se sente bem em pleno massacre pois ama a luta por si mesma, pela alegria feroz de destruir. Seu furor não obedece senão à brutalidade de seu instinto destruidor. Seu emblema é a coragem. Acompanham-no Éris (a Discórdia), que com seu archote em chamas acende o furor no coração dos soldados e seus filhos, Deimos (terror) e Phóbos (medo), também servidores fiéis desse funesto deus.

Marte em Áries ♈ : afirma-se competitivamente, diretamente, impacientemente. Liberação de energia física com um único objetivo voltada para experiências novas; frequentemente, aptidão para dar início a empreendimentos e/ou aptidão mecânica. Impulso voluntarioso para agir, voltado energicamente para a satisfação de seus desejos; enfrenta os obstáculos diretamente, porém a imprudência pode impedir o sucesso. Iniciativa, força de vontade e agitação caracterizam o método de agir, bem como a capacidade intuitiva de captar o essencial. O impulso sexual e a energia física tem uma expressão impulsiva, enérgica e confiante.

Marte em Touro ♉ : afirma-se firmemente, retentivamente, conservadoramente, teimosamente. Atos firmes voltados para a consolidação, a produtividade e o gozo dos prazeres simples; frequente tendência criativa e/ou artística. A iniciativa e o ímpeto são matizados por preocupações e possessividades; às vezes, por lentidão ou preguiça. A consecução dos desejos pode ser frustrada pelo contentamento e pela satisfação com as coisas tais quais são. A energia física e o impulso sexual são influenciados por um profundo apreço das sensações físicas e dos ritmos naturais da vida.

Marte em Gêmeos ♊ : afirma-se flexivelmente, verbalmente, inteligentemente, comunicativamente, por meio de um grande número de habilidades especializadas. Os desejos prioritários mudam depressa e muitas vezes; frequentemente, não está certo do que quer e, assim, muda facilmente de rumo. A energia física e o impulso sexual são afetados por tudo o que estimula a mente – conversas, imagens ou ideias novas e intrigantes; tem a mente bastante aberta. A firmeza é influenciada por circunstâncias momentâneas e percepções imediatas. A ação e a iniciativa voltam-se para o estabelecimento de conexões, usando a mente para assimilar fatos novos e desenvolver novas habilidades, e para a expressão de uma amabilidade quase sem fronteiras.

Marte em Câncer ♋ : afirma-se sensivelmente, timidamente, indiretamente, simpaticamente. Tem necessidade de se sentir ligado às suas raízes e tradições para tornar claros seus desejos e entender seu rumo na vida. A iniciativa e a força de vontade podem ser dificultadas pelo desalento e pela autoproteção cautelosa, mas é capaz de agir destemidamente em apoio às pessoas que ama. A energia física e sexual e a determinação são inibidas por sentimentos, temores e senso de vulnerabilidade inconsciente, e estimuladas pela sensação de estar sendo cuidado e protegido. Vai no encalço de seus desejos com tenacidade e intuição; tem instinto de autopreservação e sendo de oportunidade na busca de suas metas.

Marte em Leão ♌ : afirma-se dramaticamente, cordialmente, de forma radiante, expressivamente, arrogantemente. A expressão dos desejos é fortemente matizada pelo orgulho e pela necessidade de ser reconhecido. A inciativa e o ímpeto são expressos com confiança, criatividade e grande vitalidade. Precisa ser elogiado e valorizado pela capacidade sexual, física ou criativa; a energia física e sexual é estimulada pela atenção e pela generosidade efusiva. Precisa expressar-se de modo impositivo e dinâmico para conseguir o que deseja; muitas vezes pressiona os outros e é muito dominador.

Marte em Virgem ♍ : afirma-se modestamente, solicitamente, analiticamente, conscientemente – às vezes faz críticas banais. A firmeza,a iniciativa e o modo de agir são matizados pelo perfeccionismo e pela apurada discriminação. Os atos enérgicos podem ser impedidos pela autocrítica atenção exagerada aos detalhes. Tem uma necessidade subjacente de prestar serviços que influenciam a energia física e a força de vontade; é capaz de trabalhar com afinco, energia e inteligência prática. Precisa esforçar-se para ser perfeito para conseguir o que deseja.

Marte em Libra ♎ : afirma-se socialmente, cooperativamente, charmosamente, relacionando-se diretamente com as pessoas. O desejo de harmonizar todas as polaridades respalda a vontade de agir. A energia física e a firmeza são fortemente afetadas pelos relacionamentos íntimos e pelas influências estéticas. A iniciativa e o ímpeto voltam-se, com tato e tática, para o equilíbrio e a justiça. O empenho para conseguir o que quer pode ser dificultado pela indecisão, enquanto a pessoa avalia as opções.

Marte em Escorpião ♏ : afirma-se intensamente, magneticamente, ardentemente e poderosamente. A energia física e a iniciativa são movidas por fortes desejos, compulsões e desafios; capaz de demonstrar grande resistência. O impulso sexual é motivado pela necessidade de compartilhar uma profunda ligação emocional e de experimentar uma profunda intensidade. Precisa canalizar e transformar a força emocional para concretizar eficazmente seus desejos. A firmeza e a liberdade de expressão são dificultadas pelo sigilo e pela necessidade de se proteger e ter controle absoluto.

Marte em Sagitário ♐ : afirma-se honestamente, idealisticamente, energicamente, impulsivamente, sem tato. Seus desejos são moldados por suas crenças, ética e inspirações. A firmeza e os atos enérgicos são motivados pela aspiração a um ideal ou por uma visão norteadora do futuro. A excitação física e sexual é estimulada pelas atividades aventurosas. A iniciativa e o ímpeto são matizados por uma grande necessidade de se aprimorar e por uma inquieta necessidade de explorar.

Marte em Capricórnio ♑ : afirma-se cautelosamente, seriamente, autoritariamente, ambiciosamente, com acentuada autodisciplina. A firmeza é acompanhada por planejamento cuidadoso, previsão e paciência. A energia física e o ímpeto se voltam muitas vezes para metas pessoais materiais e realizações a longo prazo. Vai no encalço do que deseja com firmeza e persistência, usando os canais convencionais. O impulso sexual é controlado, porém forte e sensual.

Marte e, Aquário ♒ : afirma-se inteligentemente, individualisticamente, de modo excêntrico e independente. A iniciativa e a força de vontade são matizadas pela necessidade de desfrutar de ampla liberdade de expressão. A realização das metas pode ser frustrada pela rebeldia, porém a vontade de reformar e revolucionar pode ser canalizada para inovações criativas. O distanciamento e a objetividade científica podem dificultar a expressão de desejos apaixonados. A energia física e o impulso sexual são estimulados pela sensação de liberdade, experimentação e pela excitação provocada por novas possibilidades e ideias.

Marte em Peixes ♓ : afirma-se idealisticamente, empaticamente, tendendo ao acordo, com base na gentileza. A iniciativa e a força de vontade são matizadas pela sensibilidade e pela compaixão pelos outros. A autoafirmação e a firmeza são obstruídas pelo forte senso de vulnerabilidade pessoal e emocional. A energia física e o impulso sexual são sempre afetados por sonhos, estados de espírito e emoções. Vai ao encalço de seus desejos de maneira sutil, tendo como principal motivação a inspiração, a intuição ou uma visão norteadora.

Período “Cinquecento” do Renascimento.

“Adoração dos Magos” (1481), de Leonardo Da Vinci. Galleria degli Uffizi, Florença. É dele a frase: “Como a um dia luminoso segue-se uma noite estrelada, assim a uma vida bem vivida sucede uma morte serena”. Para Leonardo, a ternura maternal era a essência da feminilidade.

Prossigamos desfrutando da oportunidade de conhecer algumas peculiaridades do Renascimento, movimento artístico que, pautado por tantas descobertas nas áreas da ciência e do humanismo culminou numa avalanche de criativa genialidade, legando beleza.

Sobre esse marco na História da Arte e, consequentemente, na História da humanidade, trazemos as características do período denominado “Cinquecento” (já abordamos o “Trecento” AQUI e o “Quatrocento” AQUI), que desponta por volta do século XVI.

Na Idade Média, início do Renascimento, o foco ainda estava no culto aos ensinamentos e valores eclesiásticos. Saímos da sacralidade estática do Bizantino, ganhamos “vida” na cotidianidade, através do pioneirismo de Giotto di Bondone (AQUI) e resgatamos a mitologia pagã com Botticelli, por exemplo (AQUI), além de conferimos o poético uso das cores em Ticiano Vecellio (AQUI).

Agora, avançando mais um pouco, numa nova perspectiva, santos, mártires e profetas voltam a ser retratados com toda pompa e solenidade, pois somente o que fosse descomunalmente sublime , até “transcendente” era digno de representação.

Nesse período do Renascimento (o “Cinquecento”), falaremos dos rivais Leonardo Da Vinci e Michelangelo Buonarrotti, que chegaram a dividir Florença em termos de predileção.

Influenciados pela antiguidade clássica (entenda-se “perfeita”), os artistas redescobrem e perseguem gestos e serenidade no porte. Michelangelo é um exemplo de genialidade nas esculturas, cujo grau de realidade extraído do mármore impressionava em cada detalhe, explicitando profunda expressividade inclusive no olhar.

Voltando-se para os detalhes, os Renascentistas afastam-se do comportamento de seus patronos, que eram novos ricos mais discretos, pois buscavam reconhecimento sem chamar demais a atenção. Assim, no “Cinquecento”, até a paleta e o uso das cores fogem um pouco do excesso de colorido e de brilho do “Quatrocento”, caminhando para certa dramatização mais contida.

Como já vimos no “Quatrocento”, foram esses ricos senhores que, almejando o status de nobres, ajudaram a traçar o perfil do que viria a ser o profissional das artes.

Mas é no “Cinquecento” que os artistas se sentem ainda mais seduzidos pela beleza dos corpos, sua pujança, força e perfeição.

Também digno de nota é que no “Cinquecento”, os grandes mestres se tornam eles mesmos, ricos senhores. Isso porque a valorização do trabalho de um pintor ou escultor, agora como verdadeiro artista, não mais um simples artesão, o alça a profissional reconhecido e muito bem remunerado. Mais que tirá-los da marginalidade, os alça a um patamar realmente privilegiado.

Michelangelo Buonarrotti, apesar de ter vivido com modéstia, chegou a recursar o pagamento por seu trabalho na Basílica de São Pedro, pois estava bem de vida. E Rafael Sanzio, por exemplo, já estava muitíssimo bem estabelecido quando executou suas mais magníficas obras.

No entanto, todo esse reconhecimento tinha seu preço. Cabia ao artista buscar “sua própria forma de representação na tentativa de alcançar uma diferenciação entre os tantos que surgiam o mesmo conhecimento”.

Embora a formação técnica e científica proporcionada pelas oficinas ainda se mantivessem por todo o período “Cinquecento”, ela não influenciava mais na formação e estilo dos artistas.

Entretanto, com o surgimento do conceito de “arte científica”, com Leon Battista Alberti, a matemática apresenta-se como sendo uma disciplina comum tanto à arte quanto à ciência, reivindicando as teorias de perspectivas e proporções como sendo partes dela.

Para o ariano Leonardo Da Vinci, a pintura era uma espécie de ciência natural exata, mas também superior às ciências porque essas são imitáveis, enquanto a arte, por estar ligada ao gênio do artista, seria única.

Foi no período “Cinquecento” que o Renascimento ampliou ainda mais seu alcance e inspirou a realização de grandes obras em toda a Europa, tanto na pintura (Albrecht Dürer e Hans Holbein, na Alemanha, por exemplo) quanto na literatura: Dante, Gil Vicente, Camões, François Rabelais e Maquiavel, dentre outros.

Nas ciências, são também desse período os gênios tais como Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Giordano Bruno, que ousaram tirar o monopólio do saber das mãos da Igreja, causando alvoroço. Em oposição ao heliocentrismo de até então (Hélios é o sol na mitologia romana), o antropocentrismo (antropós é homem em grego) se impõe.

Enquanto no “Quatrocento” o movimento Renascentista atinge o auge e espalha-se pelas cidades italianas, no “Cinquecento” chega aos demais países europeus até ir perdendo força no interior da própria Itália.

Um novo período começa a surgir. Trata-se do “Maneirismo” (pois à maneira do autor), movimento artístico que será marcado pelo exagero, o negativismo e certo afastamento da antiguidade clássica.

Segundo especialistas, muitos dos artistas que realizaram seus trabalhos próxima a essa fase, o “Cinquecento”, já foram influenciados pelo “Maneirismo” na concepção de suas obras. El Greco é um bom exemplo sobre o que nos referimos. O afresco do “juízo final”, por Michelangelo, na Capela Sistina, também já apresenta os traços fortes desse novo estilo, que será seguido pelo “Barroco”.

Para fechar a trilogia sobre o Renascimento (Trecento, Quatrocento e Cinquecento), convido os amigos leitores a conhecer um pouco da vida e apreciar a análise da uma das mais famosas obras do ariano Leonardo Da Vinci (1452-1519), “Anunciação”, que nos aguarda na Galleria degli Uffizi, Florença. Dele, já analisamos “A última ceia”, AQUI.

Leonardo Da Vinci: pioneirismo na técnica do sfumato e do chiaroscuro.

Leonardo Da Vinci, Galleria degli Uffizi, Florença.

Leonardo foi, sem dúvida alguma, o artista que melhor representou a genialidade humana em seu trabalho. Extremamente versátil, “profeta notável em relação ao nosso presente e talvez nosso futuro”, sua obra passeia não só pela pintura e escultura, mas também pela arquitetura, música, mecânica, hidráulica, ótica, geologia, cartografia, estratégia militar, balística, armamentos, engenharia, matemática, anatomia humana e animal, astronomia, astrologia, filosofia, ciências naturais e biológicas e vários outros campos ao longo de seus 67 anos de vida.

Leonardo teve uma existência cercada de mistérios e incertezas, a começar pelo seu nascimento, em 13 de abril de 1452, em Vinci (um pequeno povoado próximo à Florença, na Toscana), daí ter ficado conhecido como “Da Vinci”, ou seja, oriundo de Vinci.

Filho bastardo de um jovem tabelião florentino, Ser Piero, o menino Leonardo foi criado até os cinco anos por sua mãe, Caterina de Anchiano, uma camponesa.

Logo passou a morar com o pai, após ele se casar com a adolescente Albiera di Giovanni Amadori, filha de um rico mercador. Leonardo então, recebeu uma educação digna de sua classe social (média alta), sem distinção alguma entre os demais filhos do novo casal.

O pai foi determinante em seu desenvolvimento, pois muito bem sucedido no tabelionato, ele logo incentivou o filho a estudar as leis. Mas o rapaz não estava nem um pouco interessado.

Ao contrário, era visível o talento para a música, desenho e matemática: “tocava alaúde, cantava e garantia bons momentos de diversão para a burguesia florentina, fosse com suas canções, ou com suas enigmáticas engenhocas”.

Ao fim da adolescência, seus desenhos (croquis) deixaram o pai bem impressionado. Ansioso para que o filho aprendesse um ofício que lhe garantisse algum futuro, Ser Piero encaminhou uns trabalhos de Leonardo ao amigo Andrea de Verrochio, prestigiado pintor e escultor da época.

No ateliê de Verrochio…

Verrochio ficou tão impressionado com o potencial de Da Vinci, que pediu ao pai que deixasse o garoto seguir o ofício.

Aos 16 anos Leonardo ingressou no ateliê de Verrochio, seu primeiro mestre, onde aprenderia a trabalhar e fundir metais, esculpir e pintar, através de pinceladas estudadas e perfeitas. Conta-se que a precisão do traço era uma obsessão do artista logo na infância.

Com Verrochio, Da Vinci permaneceu até 1476, apesar de, quatro anos antes, já ter se associado à Companhia de San Lucas, uma associação dos pintores de Florença. Durante os anos de aprendizado, o mestre permitia que Leonardo interviesse em algumas encomendas, pintando trechos ou personagens secundários nas telas, como era de costume na época entre os aprendizes.

Em 1469, acompanhou o mestre em uma de suas viagens a Veneza, fato que mudou completamente sua forma de ver e sentir o próprio trabalho. Pelo trajeto, Da Vinci percebeu a força da natureza de uma maneira arrebatadora: as formas das plantas; o movimento dos astros pelo céu e as cores abundantes exerceram sobre ele uma grande admiração e um sentimento que o instigava a descobrir como retratar cada um daqueles mistérios.

“Paisagem do Arno” (1473), de Leonardo da Vinci. Galleria degli Uffizi, Florença. Essa obra é considerada a primeira paisagem autônoma da história da arte: um croqui que retratava um vale cercado de colinas, pelo qual corria um rio, provavelmente o Arno, que cortava Florença.

Os avançados estudos sobre perspectiva – que havia começado a desenvolver ao entrar no ateliê de Verrochio – se mostram na obra por inteiro.

O desenho, aparentemente comum, representou uma grande influência para o próprio Leonardo, além de inúmeros outros pintores renascentistas. Nele, Da Vinci começa a desenvolver uma técnica pictórica que seria sua marca registrada, o sfumato (esfumado), que consistia em um leve desfoque, a fim de conseguir o efeito de perspectiva atmosférica e distanciamento.

O rompimento com o mestre

Segundo o estudioso Adriano Colangelo, Verrochio mal sabia que, ao dar a Leonardo a oportunidade participar de suas pinturas, estaria provocando seu rompimento com o aluno a quem ensinara tudo, mas que o superaria e muito à sua importância para a histórica da arte.

Verrochio era respeitado e conhecido como um influente artista, tendo reinventado a escultura em seu tempo, ao conseguir uma sensação de suave movimento em suas obras (falamos dele AQUI)

“O batismo de Cristo” (1474/75), de Verrochio e Leonardo Da Vinci. Galleria degli Uffizi, Florença.

Ironicamente, estes foram também alguns dos pilares que o fez enxergar em Leonardo uma ameaça quase intransponível. Em 1472, ao permitir que Da Vinci contribuísse na tela “Batismo de Cristo”, viu todo o talento do jovem aprendiz a frente de seus olhos, travestido no anjo ao lado esquerdo de Jesus.

Segundo contam, tamanha leveza, suavidade e movimento dedicados por Leonardo ao secundário personagem (o anjo da frente), despertaram em Verrochio o amargo gosto de sentir-se superado. Tal peso o teria feito largar definitivamente os pincéis.

Apesar do rompimento, Leonardo continuou atrelado ao ateliê de seu mestre, compondo algumas obras neste período. É o caso de “Anunciação”, que analisamos abaixo.

Em 2 de maio de 1519, morre Leonardo Da Vinci, um dos maiores e mais completos artistas que a humanidade já viu. Seu corpo foi sepultado na igreja de Saint-Florentin de Amboise, em solo francês. Sua obra segue viva, influenciando decisivamente a sociedade, século após século.

Análise de “Anunciação”: um dos mais refinados e sublimes Da Vinci!

“Anunciação”, de Leonardo Da Vinci (óleo sobre madeira, 1472-1475). Galleria degli Uffizi, Florença. Para ele, “A pintura é poesia muda; a poesia, pintura cega”. Sobre Leonardo, o arquiteto e biógrafo Giogio Vasari afirmou que “De tempos em tempos, o Céu nos envia alguém que não é apenas humano, mas também divino, de modo que através de seu espírito e da superioridade de sua inteligência, possamos atingir o Céu”.

Essa magnífica obra esteve oculta até 1867, quando foi transferida de um convento nos arredores de Florença para a Galleria degli Uffizi.

Segundo Adriano Colangelo, a luz difusa anima as figuras e as paisagens, dando-lhes aquele caráter de unidade cósmica, que se sintetiza sobretudo na luz que banha os personagens, quase como um raio luminoso que se projeta da mão do anjo para a mão da Virgem que, aberta, parece receber a fecundação nessa espécie de “diálogo” manual.

Vamos tentar compreender o simbolismo presente nos gestos retratados nessa que é considerada a mais marcante das primeiras obras de Leonardo, pois segundo Colangelo, ele ascendeu até o mundo platônico das ideias, vivendo mentalmente nelas e delas alimentando sua inteligência, longe das emoções e dos conflitos humanos, que observava com desdém.

Envolvida numa atmosfera de respeitoso e requintado afeto, a obra apresenta Maria de uma maneira incomum para a época, ou seja, nada submissa, na verdade seu porte é bem altivo. É que Leonardo, mesmo sendo ainda jovem, intelige e apresenta a face humanista da Virgem, reconhecendo seu papel na encarnação de Deus.

Maria é surpreendida com a inusitada presença do anjo. Imediatamente, ela interrompe sua leitura e levanta a mão esquerda, colocando-a sobre as escrituras sagradas (Bíblia) para marcar o texto e não perder o trecho que estava lendo. A expressão de sua face é serena, digna e nobre. Está ouvindo a anunciação de que será a Mãe do filho de Deus, Jesus. Mais que resignada, a jovem Maria parece confiante no destino que lhe é anunciado.

É importante atentar aos detalhes fisionômicos (aliás, fisiognômia é o nome que os antigos gregos davam ao estudo dos traços do rosto), pois eles proporcionam um diagnóstico do caráter das pessoas, revelando o que, com o tempo, a Alma imprime na carne.

Observem essa sobreposição e atentem ao local exato onde as pontas dos dedos do anjo estariam tocando se nós o aproximássemos da Virgem.

Sabemos que Leonardo estudou (e muito) a aerodinâmica das aves. As asas do anjo possuem camadas e mais camadas de penas em tons diversos que, robustas, parecem bem fortes.

Com o joelho direito flexionado (flexiona-se o joelho direito para “Deus” e o esquerdo para reis e rainhas), o anjo Gabriel traja branco, verde e usa uma túnica púrpura, tom que já sabemos destinado a representar o divino e a realeza. Traz numa das mãos um ramo de lírios brancos, simbolizando a pureza. Sua presença projeta uma sombra no chão.

Ainda sobre o ajoelhar-se, o Pe. Felix nos esclarece que “O sentido etimológico da palavra genuflexão, vem do latim “genuflexione”, oriunda de “genuflectere”, que significa dobrar o joelho, ajoelhar; numa forma figurativa bajular, adular, reverenciar. Pode ser tomada, também, como um ato de respeito, submissão. No aspecto religioso, adorar.”

E prossegue: “ O ato de genufletir, ou seja, dobrar o joelho, pode ser analisado de duas formas: dobrando o joelho esquerdo reverencia-se a majestade representando o poder humano: os reis, rainhas, imperadores, monarcas. É a forma usual dos súditos prestarem aos soberanos sua inteira submissão e o mais irrestrito respeito, obediência, pondo-se ao seu serviço para toda e qualquer eventualidade. Dobrando-se o joelho direito é um ato de adoração, exclusivo da Divindade. Significa o culto a Deus, pois, somente Deus é adorado.”

O delicadíssimo perfil do anjo revela que seu semblante é de respeitosa reverência à Virgem. Além de estar ajoelhado, ele inclina a cabeça e fita-a nos olhos. Esse trecho da “poesia” de Leonardo é inenarrável, amigos. Somente detendo-se na contemplação para absorver o que apenas a Alma pode inteligir. Os lábios estão levemente entreabertos, prestes à “Anunciação”.

No detalhe da paisagem acima, podemos constatar mais uma vez o preciosismo no perspectivismo, pois Leonardo pincela minuciosamente as fortificações e as embarcações ao fundo. Tudo com uma impressionante tridimensionalidade.

A Virgem de Leonardo é jovem, sem dúvida, mas ainda assim, centrada, forte, serena e atenta. Levanta a mão esquerda, paralela (pois na mesma altura) ao coração em sinal de saudação ao anjo Gabriel. Leonardo é bastante expressivo no pincelar das mãos e de cada um dos dedos.

Mais uma vez, aqui podemos confirmar a delicadeza do rapazinho de Vinci em retratar a mão direita da Virgem com notória elegância, além do ineditismo de insistir em nos apresentar a faceta inteligente, erudita e culta de Maria, numa época em que as mulheres não sabiam ler nem sequer tinham acesso às obras.

Propositalmente, uma faixa de tecido na cor dourada perpassa o abdome da Virgem, ornando com os tons de seus cabelos, de sua auréola e destacando seu ventre, que dará à luz ao que há de mais sagrado ao cristianismo: o menino Jesus.

Detalhe dos ornamentos do balcão de mármore sobre o qual estão as Escrituras que Maria está a ler. A concha (ao centro, na imagem acima), como sabemos, simboliza o sexo feminino. Observem quão ricamente é preenchido todo e qualquer espaço da obra.

NOVIDADE: Mala CULTURAL para a Europa!

Convido-os a conferir minha mais recente empreitada: a de proporcionar-lhes uma preciosa bagagem intelectual à Europa, para que possam desfrutar com ainda mais profundidade de toda a beleza das obras de arte nos museus, conferindo de perto o legado que os maiores gênios da humanidade.

B A G A G E M * D A * A L M A

Quando decide viajar, você escolhe o destino, adquire as passagens, reserva o hotel e seleciona os principais pontos turísticos.

Confere seu passaporte, faz as malas e parte em busca de novas descobertas. Obviamente, as visitas aos museus fazem parte de seu itinerário. Preparou-se para contemplar as mais belas obras de arte?

Antes de sua viagem, no conforto de sua casa (ou em nossa Sala de Aula, em Higienópolis), você e toda sua família munem-se das informações necessárias tais como: períodos, artistas e principais obras.

Trata-se de um minicurso (de 4 a 6h/aulas) personalizado (on demand), focado nos acervos dos museus que você, sua família e seus amigos pretendem visitar: Museo del Prado (Madrid) – Museu Calouste Gulbenkian (Lisboa) – National Gallery (Londres) – Louvre (Paris) – Museu do Vaticano (Roma) – Galleria degli Uffizi (Florença) – Pergamon (Berlin) – Galleria Borghese (Roma) e outros.

Com uma base sólida em filosofia, mitologia e arte, você aproveita mais, MUITO mais, otimizando seu investimento. Verdadeiramente luxuosa, essa é a única bagagem que não se extravia!

Para mais informações, envie e-mail para: mitologia@esdc.com.br

Dedico esse Post ao belo e apaixonado casal Carlos e Vera Irene Bekin, ao qual tive o prazer de ter como primeiros alunos, pois interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre o Renascimento. A obra analisada acima, é a preferida deles, que já voaram para contemplá-la novamente na Uffizi, em Florença.

Espero que tenham apreciado o posicionamento de Marte em seus mapas, a análise da “Anunciação” de Da Vinci e a novidade “mala CULTURAL para Europa”, amigos! Até o próximo Post, com Júpiter (Zeus) indicando onde está sua maior sorte na vida e o não menos genial Michelangelo Buonarrotti.

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