Luciene e suas gafes…e nós?…

Pois então!!  A Luciene, minha querida e de todo o Salotto, sugere há tempos que façamos esta brincadeira.  Temos que falar de gafes que cometemos.  E é ela quem joga a primeira pedra!!… 😉

Ela sugere que se comece com esta poesia de Fernando Pessoa.

Poema em linha reta

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

 Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo, Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

 Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…

 Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos,

 Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?

 Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

 Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

E vamos às confissões de Luciene:

1-     Convido a manicure, cuja amizade já dura mais de três décadas, a passar um fim de semana em Maresias. Na praia, ela testemunha um amigo pedir para eu tomar conta da câmera fotográfica enquanto entra no mar. É um surfista lindo, que não faz outra coisa senão perseguir as mais ondas mais “iradas”, mundo afora. De repente, ela sugere: “Que bonitão! Por que você não namora com ele, Lu?”. E eu: “Tá louca, amiga? Ricardinho não tem nem o colegial (Ensino Médio), o que é que eu vou conversar com ele?”. Detalhe: essa amiga, até hoje muito querida, não tem sequer o Ensino Fundamental…  

2-     Aos 52 anos, meu pai me liga dizendo o quanto meus irmãos gêmeos, na época com 18 aninhos, dão trabalho. E eu: “Nossa, pai, que chato… Justo agora que o senhor tá velho, no fim da vida…”. Eu tinha 30.  

3-     Um amigo libriano, muito bonito e inteligente começa a interagir no facebook com uma mocinha também linda, a cara dele. Eu entro no perfil do rapaz e posto: “Rusty, essa menina é linda demais! Você não está perdendo tempo, né?”. E ele: “Shuashuashua, Lu, ela é minha irmã!”.  

4-     Uma amiga começa a postar suas fotos como garota-propaganda de uma famosa marca de lingerie. Eu adentro imediatamente no perfil de um grande amigo, que me faz rir todos os dias, pelo face e, eufórica o parabenizo pela escolha. Ele curti. Um tempo depois, descubro: a marca dele é concorrente.  

5-     Quando eu estava fazendo meu enxoval, a zelosa e lúcida governanta italiana, de 82 aninhos, me leva para conhecer a prataria e as delicadas louças de uma família antiquíssima e nobre. Em êxtase com aparelhos tão primorosos, eu tasco essa: “Que bárbara! Essa é estilo inglês, hein?”. E ela: “Non, non é ‘estilo’, É inglês!”.

Rsssssss!  Adoro a Lu!!!!

Seria injusto não confessar alguma gafe minha.  Mas acho que faço tantas que já virou corriqueiro… Porém tenho uma tia muito elegante e esnobe que mora em Florença e não importa o que eu faça, na sua presença sempre cometo uma gafe.  Lembro sempre de um dia que a vi pela cidade e a fui abraçar.  Antes que me desse conta, estava agarradinha logo quando ela ia acender o seu cigarro.  O aperto quebrou-o em dois me deixando com cara de boba!!…

E vocês, amigos, lembram-se de alguma “gafezinha” básica?